Pantanal

ONG associa grandes frigoríficos à 'destruição química' do Pantanal

Mighty Earth citou em um relatório uma operação policial contra o "desmatamento químico" de mais de 81.200 hectares em onze propriedades

PantanalPantanal - Foto: Mauro Pimentel/ AFP

A ONG ambiental Mighty Earth associou, nesta terça-feira (17), os grandes frigoríficos JBS, Marfrig e Minerva à "destruição química" do Pantanal brasileiro, após um estabelecimento que a organização aponta como fornecedor de agrotóxicos pulverizados em uma vasta área deste bioma para abrir espaço para a pecuária.

A Mighty Earth citou em um relatório uma operação policial realizada em abril no estado do Mato Grosso contra o "desmatamento químico" de mais de 81.200 hectares em onze propriedades situadas na maior área úmida do mundo.

A manipulação deste santuário da biodiversidade ocorreu entre 2021 e 2023 com pulverizações aéreas de 25 tipos de "agrotóxicos", incluindo o 2,4-D, componente do Agente Laranja, utilizado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso.

A Fazenda Soberana, uma das onze propriedades envolvidas no crime ambiental, está no "centro de uma cadeia de abastecimento de carne bovina que conecta os três maiores frigoríficos com quatro grandes redes de supermercados no Brasil: Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas /Assaí", indicou a Mighty Earth em um comunicado.

Registro múltiplo
O proprietário da fazenda foi multado em R$ 2,8 bilhões em abril por danos causados ao meio ambiente, um registro cifra para Mato Grosso em casos deste tipo, segundo a secretaria.

O órgão afirmou na época que a abundância “irregular” também poderia ter contaminado a água na área alagada, colocando em risco a fauna, especialmente os peixes, e até mesmo os seres humanos.

Usando imagens de satélite, uma investigação da Mighty Earth, realizada em parceria com as organizações Repórter Brasil e AidEnvironment, descobriu que 3.447 hectares foram desmatados na Fazenda Soberana após a operação policial.

“Já foi identificado o uso desse agente laranja e de outros componentes químicos para a destruição da floresta, mas do tamanho que a gente viu nessa foi a primeira vez”, disse à AFP João Gonçalves, diretor da Mighty Earth no Brasil.

No total, incluindo o desmatamento atribuído à Fazenda Soberana, o estudo descobriu a destruição de 4.651 hectares em cinco propriedades pecuárias da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, realizadas vinculadas direta ou indiretamente com JBS, Marfrig e Minerva.

"Não toleram desmatamento ilegal"
Em uma resposta enviada aos autores do relatório em maio passado, a JBS afirmou que os casos mencionados não aparecem nos sistemas de alerta de desmatamento que utilizam: o estatal Prodes e a rede MapBiomas.

Uma das propriedades, localizada no estado do Pará, não está registrada como fornecedora, e as compras de outras três, que a JBS não menciona, "foram feitas antes de serem identificadas possíveis irregularidades socioambientais", assegurou.

As políticas de compra da empresa “não toleram desmatamento ilegal”, disse em uma nota enviada à AFP na segunda-feira.

A Marfrig, por sua vez, afirmou à AFP que a Fazenda Soberana lhe “forneceu animais para abater” em setembro de 2018 e janeiro de 2019.

“Na época do abate, a propriedade cumpriu todos os critérios socioambientais”, afirmou.

Em comunicado enviado à AFP, a Minerva indicou que, em relação à Fazenda Soberana, no município de Barão do Melgaço, “não há nenhuma comercialização”.

Já o Carrefour defendeu em sua resposta à ONG que, “após um estudo cuidadoso”, pode confirmar “que nenhuma das cinco propriedades mencionadas fornece ao grupo”.

A Mighty Earth denunciou ainda que 27 matadouros da JBS que abastecem com produtos dos supermercados Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí estão "vinculados" à destruição de quase 470.000 hectares na Amazônia e no Cerrado entre 2009 e 2023.

Se incluem novos frigoríficos "associados" à Marfrig e à Minerva, uma área é de mais de 550.000 hectares, segundo seus cálculos, que são atualizados periodicamente.

O estudo foi publicado no momento em que incêndios devastaram o Pantanal.

Embora o fogo esteja associado a uma seca extremamente agravada pelas mudanças climáticas, as autoridades afirmam que a maioria dos casos tem origem criminosa.

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