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América do Sul

Fujimori, o outsider que deu autogolpe e fechou Congresso no Peru

Ele chegou à presidência do país depois de ser conhecido nacionalmente como apresentador de programa

Alberto FujimoriAlberto Fujimori - Foto: Wikimedia Commons

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O ex-ditador peruano Alberto Fujimori, que morreu nesta quarta-feira (11), foi eleito presidente em 1990 como um outsider da política e dois anos depois deu o chamado autogolpe, fechando o Congresso e intervindo na Justiça .

Ele recebia tratamento em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital em Lima desde segunda-feira (9), após ter sido operado devido a uma obstrução coronariana.

Desde 2007, quando foi preso, o ex-ditador sofreu problemas respiratórios e neurológicos, além de hipertensão. Chegou a receber um indulto após passar 12 anos detido, concedido pelo então ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, o PKK, mas o perdão foi anulado em 2017.

Pais migrantes
Fujimori nasceu em 28 de julho de 1938, em Miraflores, bairro nobre de Lima. Seus pais, naturais de Kumamoto, no Japão, migraram para o Peru em 1934.

Formado em Engenharia Agrônoma pela Universidade Nacional Agraria La Molina e em Física pela Universidade de Estrasburgo, na França, foi reitor e presidente da Comissão Nacional dos Reitores, cargo que ocupou duas vezes.

Ele ficou conhecido nacionalmente como apresentador de programa de TV Concertando, exibido na TV estatal peruana nos anos de 1988 e 1989.

Aproveitando a fama conquistada e sem nunca haver ocupado um cargo político, venceu a eleição presidencial de 1990, derrotando o renomado escritor Mario Vargas Llosa, em uma surpreendente virada.

Na época, os partidos tradicionais peruanos enfrentavam uma fase de desgaste, decorrente da crise da dívida externa dos anos 1980 e das ações terroristas do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, que foi fundado justamente quando o Peru se democratizava, após 12 anos de ditaduras militares.

Dois anos depois de eleito, Fujimori deu o chamado autogolpe, fechando o Congresso e acumulando poderes. Eu seu primeiro mandato, mais de 3 mil peruanos foram mortos em assassinatos políticos.

Em abril de 1995, no auge de sua popularidade, foi reeleito com quase dois terços dos votos — seus partidários também conquistaram uma maioria confortável no novo Congresso, agora unicamerall. Assim, um dos primeiros atos do novo Congresso foi declarar anistia para todos os membros do Exército ou policiais peruanos acusados ou condenados por abusos de direitos humanos entre 1980 e 1995.

Ex-presidente do Peru, Alberto Fujimori, em 2007 Alberto Fujimori em 2007 

A eleição daquele ano foi o ponto de virada na carreira de Fujimori. Antes mesmo de ser empossado, destituiu duas universidades de sua autonomia e reembaralhou o conselho eleitoral nacional. Durante os últimos meses do ano de 2000, no entanto, foi encurralado por uma série de escândalos em seu governo.

À época, saiu do Peru na qualidade de presidente para assistir à convenção da APEC, em Brunei, de onde depois viajou ao Japão, onde renunciou à Presidência e pediu asilo político.

À época, o Congresso decidiu removê-lo do cargo através de um processo de impeachment, aprovado por 62 votos a 9. Procurado no Peru, Fujimori manteve um exílio autoimposto até sua prisão durante uma visita ao Chile, em novembro de 2005.

Em dezembro de 2007, foi condenado por ordenar busca e apreensão ilegais e acabou sentenciado a seis anos de prisão. Em abril de 2009, voltou a ser condenado, dessa vez por violações dos direitos humanos e sentenciado a 25 anos de prisão pelos sequestros e assassinatos feitos pelo esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina, um destacamento do Exército criado durante seu regime, que o próprio Fujimori parabenizou e anistiou.

O veredicto, entregue por um painel de três juízes, marcou a primeira vez que um chefe de Estado eleito foi extraditado para seu país, julgado e condenado por violações de direitos humanos. Fujimori foi considerado culpado de assassinato, lesão corporal e dois casos de sequestro.

Em julho daquele ano, foi novamente condenado a sete anos e meio de prisão por apropriação indébita depois que admitiu ter dado US$ 15 milhões do tesouro peruano para o seu chefe do Serviço de Inteligência, Vladimiro Montesinos.

Dois meses mais tarde, se declarou culpado em um quarto julgamento de suborno e recebeu uma pena adicional de seis anos. De acordo com a lei peruana, no entanto, todas as sentenças deveriam ser executadas simultaneamente; assim, a duração máxima da prisão permaneceu 25 anos.

Apesar disso, o Fujimorismo, representado pelos seus filhos, Keiko e Kenji, continuou forte no país. Keiko ficou em segundo lugar nas duas últimas eleições presidenciais, quando perdeu para PPK, em 2016, e para o atual presidente Pedro Castillo, este ano.

Em maio de 2020, um tribunal peruano rejeitou um recurso da família do ex-presidente que solicitava a libertação de Fujimori por causa de um risco dele contrair a Covid-19. A decisão destacou que Fujimori era o único preso da base policial onde estava, portanto não havia probabilidade de superlotação e de contágio.

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