Fumar na varanda ou na janela não reduz exposição de crianças ao tabaco, diz novo estudo
Nas famílias que restringiam o tabagismo em casa aos locais abertos, 62% dos pequenos ainda apresentavam níveis de nicotina no organismo
Quem fuma e tem crianças em casa pode acreditar que é uma boa ideia restringir o hábito a locais da residência com ambientes abertos, como varandas, janelas ou quintais. No entanto, um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, traz um importante alerta para a saúde dos pequenos: permitir o cigarro apenas a esses espaços não diminui a chance de exposição das crianças ao tabaco.
A conclusão é de um trabalho publicado na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health, em que os autores testaram a presença de nicotina no cabelo de crianças cujos pais relataram restringir o fumo aos ambientes abertos da casa. O principal resultado foi que 6 a cada 10 desses indivíduos ainda assim apresentavam índices elevados da substância presente no cigarro.
“Fumar perto de uma janela ou em outro local específico da casa não protege a maioria das crianças da exposição. As nossas recomendações são inequívocas: para reduzir a exposição das crianças ao fumo do tabaco, deve-se evitar totalmente fumar num raio de dez metros de casa. Mesmo em áreas abertas, os fumantes devem manter uma distância de pelo menos dez metros das crianças”, orienta a professora Leah Rosen, da Escola de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da universidade, em comunicado.
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O novo trabalho é na realidade a junção dos resultados observados em dois estudos. O primeiro estudou amostras de cabelo de filhos de pais fumantes, e identificou que 70% deles tinham níveis mensuráveis de nicotina nos fios. O segundo, mais recente, fez essa avaliação de acordo com a localização em que os pais relataram praticar o hábito.
A análise mostrou que, nas famílias em que os pais restringiam o fumo à varanda, ao jardim, ao quintal, à janela ou a qualquer outro lugar fora da casa, 62% das crianças ainda apresentavam níveis de nicotina que indicavam exposição ao tabaco.
“É provável que as crianças sejam expostas diretamente quando saem para a varanda e alguém está fumando, ou quando a fumaça entra em casa. Uma vez dentro de casa, a fumaça é absorvida pelo ambiente, por exemplo, pelo móveis, paredes ou tapetes, e então é gradualmente descarregado no ar ao longo de semanas ou meses”, explica Leah.
“Além disso, essa fumaça residual, conhecida como fumaça de terceira mão, pode ser absorvida pelo corpo através da deglutição ou através da pele, especialmente entre bebês e crianças pequenas”, complementa. “Pais fumantes transmitem as toxinas da fumaça do tabaco em suas peles, nas mãos, nos cabelos, nas roupas, por isso é recomendado escovar os dentes, lavar as mãos e trocar de roupa após fumar, antes do contato com crianças”.
A professora destaca ainda que 85% da fumaça do tabaco é invisível, e que o olfato não é um sentido confiável para identificar fielmente a presença ou não das substâncias no ambiente. “Então muitos pais acreditam erroneamente que estão protegendo seus filhos, quando na verdade os estão expondo a riscos substanciais à saúde”, diz.