Funcionários da Hennessy fazem greve contra planos da empresa francesa de engarrafar conhaque chinês
Recentemente, Pequim impôs pesadas tarifas sobre as importações da bebida da Europa, intensificando a disputa comercial com a União Europeia
A turbulenta relação comercial entre a China e a Europa ganha destaque nesta semana com centenas de funcionários da fábrica de conhaque Hennessy no sudoeste da França em greve. Eles paralisaram o trabalho hoje, pela segunda vez, para protestar contra o que os sindicatos afirmam serem planos da empresa de transferir o engarrafamento do conhaque para a China.
A Hennessy, que pertence ao grupo gigante francês de luxo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), está avaliando a mudança após a China impor recentemente pesadas penalidades financeiras sobre as importações de conhaque da Europa, segundo os sindicatos Confédération Générale du Travail (CGT) e Force Ouvrière, que representam os funcionários da Hennessy.
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No mês passado, a China intensificou a disputa comercial com a União Europeia ao aplicar penalidades temporárias sobre o conhaque europeu e alertar sobre possíveis tarifas a outros produtos fabricados no continente.
Retaliação
A decisão de Pequim ocorreu após a UE votar pela aplicação de tarifas mais altas sobre as importações de veículos elétricos fabricados na China. A França liderou o movimento pelas tarifas sobre os veículos elétricos, e quase todo o conhaque afetado pela China é produzido no país.
Para elevar as tarifas do conhaque importado, Pequim acusou os produtores europeus de conhaque de prejudicar os chineses ao venderem a bebida a preços injustamente baixos no mercado chinês.
Em um comunicado, a Hennessy negou ter decidido transferir a produção de conhaque para a China, mas admitiu que está trabalhando para proteger seus interesses e salvaguardar a indústria.
“É importante destacar que, até o momento, nada foi decidido e que estamos avaliando todas as possíveis soluções”, disse a empresa.
O Bureau National Interprofessionnel du Cognac, uma associação comercial francesa, afirmou em comunicado que as marcas podem ser “forçadas a explorar todas as alternativas” para mitigar o impacto das tarifas na China. Afinal trata-se de um mercado consumidor com mais de 1 bilhão de habitantes.
— Os trabalhadores estão muito impactados e sensibilizados — contou Matthieu Devers, líder sindical da CGT na Hennessy, em um vídeo publicado ontem na plataforma social X, enquanto cerca de 500 funcionários paralisavam a produção na destilaria. — Eles querem demonstrar sua absoluta oposição aos testes planejados para transferir parte da produção para a China.
De acordo com Devers, alguns trabalhadores de outros dos chamados “Quatro Grandes” produtores de conhaque da França aderiram à greve, incluindo funcionários da Martell, uma casa de conhaque fundada em 1715, e da Rémy Martin e Courvoisier. Juntas com a Hennessy, essas marcas produzem a maior parte do conhaque mundial.