Funcionárias do Hospital Brites de Albuquerque denunciam risco de fechamento e cobram Raquel Lyra
Contrato com OSS que administra a unidade será encerrado no dia 30 de junho
Funcionários do Hospital Brites de Albuquerque, na Cidade Tabajara, em Olinda, Região Metropolitana do Recife, denunciaram, em protesto realizado na manhã desta segunda-feira (5), que receberam aviso prévio.
Segundo eles, a unidade corre o risco de ser desativada, o que resultaria na transferência de centenas de pacientes para outros hospitais.
A unidade, que foi ativada durante a pandemia como um hospital de campanha, é administrada por uma Organização Social de Saúde (OSS), a Hospital do Tricentenário.
O contrato de gestão com a OSS, assinado em abril de 2020, previa, inicialmente, um vínculo de seis meses; no entanto, o mesmo termo diz que tal prazo pode ser estendido até o fim da situação emergencial provocada pela pandemia de Covid-19 em Pernambuco.
O estado de emergência, prorrogado pela última vez no final de março, deve durar até o dia 30 de junho, sem definição sobre um novo estendimento. Com isso, o contrato de gestão com o Hospital do Tricentenário deve ser encerrado, o que levaria a uma suspensão das atividades da unidade.
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A unidade possui 60 unidades de tratamento intensivo (UTIs) para adultos e 30 pediátricas, além de 40 leitos clínicos para adultos e 20 de enfermaria pediátrica. Cerca de 642 funcionários trabalham no local.
O Brites de Albuquerque também conta, atualmente, com laboratórios de análises clínicas, radiologia e eletrocardiograma; e dispõe de serviços de nutrição e psicologia.
Em resposta ao impasse, os funcionários se reuniram em frente ao hospital em protesto. A enfermeira Priscila Gomes, que atua na unidade desde o início das atividades como hospital de campanha, afirma que o aviso prévio causou surpresa na equipe médica e nas famílias dos pacientes internados na unidade.
“Fomos surpreendidos com a informação de que estaríamos todos de aviso prévio, e o motivo seria o suposto fechamento do hospital. Estamos todos transtornados com essa notícia. Esperávamos que o hospital ia seguir funcionando, agora a gente não sabe o que vai acontecer com todos esses pacientes”, disse a profissional de saúde.
Segundo a funcionária, a unidade possui fila de espera para os leitos de UTI e costuma suprir demandas de outros hospitais.
“A gente não consegue entender como é que se fecha um hospital dessa forma. Sem ter leito de UTI para esses pacientes serem atendidos e nem de enfermaria, porque a gente tem 40 leitos de enfermaria para adultos e 20 leitos de enfermaria pediátrica, além das UTIs. Todos estão lotados”, completou Priscila Gomes.
Inconformada com a decisão, a enfermeira Karina Moisés, que também atua no hospital, revelou que sua preocupação está principalmente com os pacientes internados nos leitos de UTI, que estão em estado grave. Segundo ela, os pacientes correm risco de vida em caso de transferência entre unidades de tratamento intensivo.
“Todos os pacientes de UTI precisam de cuidados intensivos. Muitos deles não suportam, dentro do dia a dia, esse manejo, porque a gente tem que descomprimir, alguns procedimentos são suspensos. Muitos pacientes são restritos à manipulação por conta disso, pela sua gravidade. São pacientes muito graves. É incompatível com a vida uma transferência desse tipo de paciente, é gravíssimo”, disse a enfermeira.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) disse estar “trabalhando para a manutenção do contrato de gestão junto ao Hospital Brites de Albuquerque, em Olinda, que possui data prevista para encerramento em 30 de junho”.
A nota reforça, ainda, que “os atendimentos aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) seguem sendo realizados normalmente na unidade”.
Mães de crianças reclamam
Além dos funcionários, o protesto realizado nesta segunda (5) em frente à unidade reuniu familiares de pacientes internados na unidade.
A dona de casa Adriana da Silva, 44, mãe de uma criança de 10 anos com paralisia cerebral que está em um leito de UTI no Brites, diz que tem medo dos impactos que uma possível transferência pode causar no estado de saúde da menina.
“Fiquei surpresa com a notícia, não consegui acreditar. Se fechar, para onde vão as crianças? Os cuidados aqui [no Brites de Albuquerque] são nota mil. Minha criança, por exemplo, está bem, melhorando, mas agora não sabemos o que pode acontecer. Essas pessoas, governantes e gestores, precisam pensar nas mães, nos pacientes e nas dores que estamos sentindo”, reclamou.
Mãe de uma criança de dois anos que está internada na unidade, a autônoma Maria Lúcia de Sousa, 23, cobrou respostas da gestão estadual.
“Tem muitos hospitais aqui que não têm médicos, não têm estrutura, mas aqui [no Brites] foi o melhor que entrei com a minha criança; ele chegou a ir para outra unidade e não foi atendido, mandaram para cá. Precisamos de uma resposta da governadora Raquel Lyra”, disse Maria Lúcia.