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Festivais culturais

Fundo dará R$ 1,8 milhão para festivais que defendam sustentabilidade

Ação envolverá o Brasil e mais sete países

Bristish Council, instituto cultural criado pelo governo do Reino Unido, organiza festivais culturaisBristish Council, instituto cultural criado pelo governo do Reino Unido, organiza festivais culturais - Foto: Reprodução/Instagram

Realizadores de festivais culturais e artísticos no Brasil, México, Argentina, Colômbia, Cuba, Trinidad e Tobago, Peru e Venezuela têm até o dia 20 de agosto para se inscrever no processo de seleção do programa Cultura Circular, do Bristish Council, um instituto cultural criado pelo governo do Reino Unido para promover a cultura inglesa ao redor do mundo. 

Ele financia ações de sustentabilidade que visam reduzir o impacto ambiental em festivais na América Latina e Caribe, a partir de um fundo global de 300 mil libras esterlinas, cerca de R$ 1,8 milhão. As inscrições podem ser feitas neste link.

No próximo dia 9, às 19h, o British Council promoverá evento online pelo Zoom, no qual os interessados poderão tirar dúvidas ao vivo neste link.

Os eventos selecionados de todas as regiões do Brasil serão conhecidos no próximo dia 30 e poderão receber subsídios que variam entre 10 mil a 20 mil libras esterlinas (R$ 63 mil a R$ 126 mil) cada um para reduzir o impacto ambiental. Serão analisados festivais com início este ano e término até 30 de junho de 2024, de diferentes setores e subsetores da cultura: artes visuais, filme, dança, arquitetura, design, moda, literatura, música e teatro.

Essa é a segunda edição do programa no Brasil. O projeto piloto ocorreu no México, em 2021, ganhando outros países no ano passado.

O gestor de Artes Brasil do British Council, Rafael Ferraz, explicou à Agência Brasil que a diferença de subsídios foi uma flexibilização que a entidade decidiu oferecer para que os organizadores dos festivais pudessem montar suas propostas com base em dois eixos. O primeiro é mais focado em ações de promoção da sustentabilidade e redução do impacto ambiental em sua operação.

O segundo eixo é artístico. O festival convida um artista ou grupo britânico para um período de colaboração com artistas ou com a comunidade do festival local, visando a produção de um trabalho conjunto que vai ser apresentado durante o festival.

“É um período de residência artística, prévio ao festival, para que essa obra, que é colaborativa e foi produzida durante esse período, possa ser apresentada durante o festival”, acentuou.

Cronograma
Após a divulgação dos selecionados, os organizadores terão um prazo para se adequar às ações que visam reduzir impactos ambientais, dependendo do prazo de realização. A partir da assinatura dos contratos, o gestor de Artes Brasil do British Council estimou que em setembro ou outubro, eles já conseguirão montar um cronograma de atividades. “A gente está desejando isso: conseguir divulgar os resultados o mais breve possível para que mais festivais, até o nosso período final, que é junho de 2024, possam aplicar isso e ser contemplados”, salientou Rafael.

Em contrapartida, o programa Cultura Circular promove capacitação, treinamento em práticas sustentáveis para festivais, oferecido por uma organização britânica especializada nesse setor para festivais. Serão sessões de treinamento e mentoria, focalizadas dentro da realidade de cada festival que for selecionado, fazendo uma contribuição mais direta.

Rafael frisou que o objetivo maior é que os festivais contemplados possam compor uma rede latino-americana de promoções sustentáveis.

“Ano passado, já tivemos 33 festivais selecionados e a gente quer que essa rede cresça cada vez mais e seja um ambiente de troca, de referência e práticas sustentáveis para o setor; seja um ambiente também de referência para o mercado; que haja um efeito em cascata para que todos os festivais, a partir dessa experiência, possam ter um ambiente de referência para trocar com festivais não só do país, mas de outros países vizinhos”. Essa rede será, segundo Rafael, um ambiente de contribuição positiva das práticas sustentáveis.

Público
Outra meta importante consiste envolver o público nas ações de sustentabilidade. “O público é parte fundamental na redução do impacto ao meio ambiente. São partes cruciais na realização do festival a presença, o deslocamento do público e os resíduos tirados da presença do público. [Isso] é parte fundamental na redução do impacto”.

Faz parte da decisão estratégica do programa trabalhar para difundir práticas de desenvolvimento sustentável no setor cultural. O gestor explicou que iniciar pelos festivais se explica por esses eventos representarem uma potência, serem mais do que um evento artístico ou cultural, mas uma plataforma de comunicação, de engajamento e de fortalecimento de economias locais.

“As propostas que a gente está buscando são [metas] que tratem a sustentabilidade nesse espectro mais amplo, de desenvolvimento sustentável e socioambiental, de uma relação com a comunidade do entorno dos festivais, com as economias locais que possam proporcionar desenvolvimento, inclusão social, geração de renda, principalmente no cenário de pós-pandemia da covid-19, em que a gente está trabalhando no Brasil para a reconstrução do setor cultural”.

Ele disse, também, que o British Council fica muito feliz em contribuir para a agenda do Ministério da Cultura (MinC), que tem “a cultura como ferramenta do desenvolvimento sustentável, de inclusão social, de fortalecimento da economia”.

Impactos
Atualmente, o programa Cultura Circular está presente em mais de 20 cidades de oito países que integram sua rede na América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Trinidad e Tobago, México, Peru e Venezuela.

Na avaliação da diretora Regional de Artes para as Américas do British Council, María García Holley, os festivais são eventos que precisam ter consciência sobre o verdadeiro impacto que causam no meio ambiente, por meio de produção de lixo, desperdício de alimentos, consumo de energia, qualidade do ar, transporte, prejuízos à flora e à fauna e uso de água.

Estudo de 2019 sobre os impactos do Coachella Valley Music and Arts Festival, realizado há mais de 20 anos na Califórnia, Estados Unidos, mostra que 80% do total das emissões de carbono produzidas em festivais de música são provocados pelo deslocamento do público.

Esse tipo de desafio se estende também aos eventos realizados na América Latina. Algumas ações, entretanto, já demonstram o potencial da região para abrigar um setor cultural sustentável no longo prazo, indica o British. No Brasil, que recebeu 126 festivais de música em 2022, o Lollapalooza, realizado em São Paulo, em 2023, registrou cerca de 352 mil itens de plástico descartados em pontos de coleta disponibilizados pela empresa patrocinadora.

Produção de lixo
No México, com média de 181 festivais por ano, a concentração do público nesses eventos aumentou a produção de lixo em até 71% em relação à média de consumo em um dia normal nos mesmos locais. Em contrapartida, o festival Corona Capital obteve em 2019 um certificado ISO que o ratificou como um evento sustentável.

Na Colômbia, que contabiliza mais de 100 shows de grande porte marcados para 2023, um estudo da Universidad de los Andes sinalizou uma produção média de 1,5 quilo de lixo por pessoa durante concertos musicais em Bogotá.

Ou seja, um show com 10 mil pessoas poderia gerar 15 mil quilos de resíduos. Por outro lado, os festivais de música Rock al Parque, Petronio Álvarez e a Meia Maratona de Bogotá fazem ações de reciclagem desde 2006 e, atualmente, reciclam, respectivamente, 90%, 80% e 70% do lixo que produzem, informou o British Council, por meio de sua assessoria de imprensa.

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