G20 tem impasse em discussão sobre guerra e renegociação de dívida
Encontro do grupo se aproxima do fim ainda sem consenso sobre linguagem a ser adotada em relação ao conflito no Leste Europeu
O último dia da reunião do G20 se aproxima do fim com incertezas sobre uma declaração de consenso devido a divergências a respeito da linguagem a ser utilizada sobre a guerra da Ucrânia e em relação a propostas de reestruturação da dívida de alguns países.
Já neste sábado (25), havia poucos sinais de que os ministros das finanças dos países membros do grupo poderiam resolver o impasse. Um oitavo rascunho de um comunicado obtido pela Bloomberg News mostrou tensões persistentes sobre a linguagem sobre a guerra da Rússia na Ucrânia e a reestruturação da dívida.
— Estamos testemunhando uma mudança tectônica na ordem mundial que nos serviu desde o fim da Segunda Guerra Mundial — disse a vice-primeira-ministra da Espanha, Nadia Calvino.
As discussões para encontrar uma linguagem comum para descrever os desafios do mundo “estão ficando mais difíceis à medida que a guerra avança”, disse Calvino. Ela ressaltou, no entanto, que as nações do G20 “estão progredindo em diferentes questões”.
Leia também
• Haddad menciona preocupação com endividamento e juros altos, em reunião do G20
• Na cúpula do G20, Índia pede reforma do Banco Mundial
• No G20, Brasil quer voltar a ser atuante na solução de crises globais
As tensões geopolíticas são um obstáculo nas negociações, com a China sendo um ponto focal nas conversas sobre cada uma das principais questões. Uma coalizão liderada pelos EUA pediu mais pressão sobre o governo de Vladimir Putin, já que o conflito no Leste Europeu completou um ano na sexta-feira.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou nesta semana, com apoio do Brasil, uma resolução não vinculante demandando a "retirada imediata" dos soldados russos da Ucrânia e uma paz "compreensiva, justa e duradoura".
Negociação sobre dívida
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, tentou buscar pontos positivos na mesa redonda que discutiu a dívida soberana global. O encontro reuniu credores públicos e privados na mesa de negociações, com o compromisso básico de encontrar um campo comum.
Georgieva chamou a participação da China de "construtiva" em uma entrevista à Bloomberg, acrescentando que essas autoridades têm a responsabilidade de ser uma parte central das negociações como um grande credor.
A chefe do FMI pediu um memorando de entendimento sobre a Zâmbia, a primeira nação africana a entrar em default, o mais rápido possível. Ela disse que o país fez “um trabalho incrível” reformando a economia e mereceu progresso nas negociações com os credores.
Ainda assim, houve poucos sinais de qualquer progresso concreto nas negociações cruciais de reestruturação da dívida. A falha em chegar a um acordo entre os principais credores corre o risco de prolongar um impasse que paralisou programas de reestruturação em países como Zâmbia e Sri Lanka.
O tipo de comunicado de encerramento da reunião que foi alcançado em Bali em novembro entre os líderes do G20 ainda é incerto, com a probabilidade crescente de que a nação anfitriã, a Índia, possa emitir um "resumo do presidente" descrevendo as várias posições sobre as questões esta semana.
— Não podemos ser complacentes diante dessa guerra — disse Georgieva, referindo-se à sua própria herança europeia e observando que a Primeira e a Segunda Guerra Mundial se espalharam devido à complacência.
Os líderes também destacaram a luta contínua contra a inflação como uma prioridade. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse à Bloomberg News em uma entrevista no sábado que “a inflação continua a ser um problema” e que “os dados que vimos sugerem que ainda não está sob controle, mas diminuiu”.
Georgieva exortou separadamente os bancos centrais a “manter o rumo” para um retorno à estabilidade de preços que é fundamental para investidores e consumidores.