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ESPERANÇA

Garoto do Lar Paulo de Tarso realiza sonho de conhecer estádio de futebol em último jogo do Sport

Apesar de derrota dentro das quatro linhas, partida marcou positivamente experiência do jovem

Garoto esteve na arquibancada da Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na noite desta quarta-feira (17)Garoto esteve na arquibancada da Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na noite desta quarta-feira (17) - Foto: Cortesia

A derrota do Sport para o Retrô pelo placar de 4 a 2 na noite desta quarta-feira (17), na Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, teve um particular sentimento de vitória para um torcedor rubro-negro de 10 anos, que pôde acompanhar de perto ao jogo do seu time do coração pela primeira vez.

Ele, que terá sua identidade preservada ao longo desta matéria, faz parte do grupo de jovens que estão disponíveis para adoção no Lar Paulo de Tarso, no bairro do Ipsep, na Zona Sul do Recife. O quadro atual de funcionários do local é formado por 13 cuidadoras, uma assistente social, uma pedagoga e uma psicóloga. Além de um time de voluntários que trabalham em prol do bem-estar das crianças.

Com o auxílio da assistente social do Lar Paulo de Tarso, Alessandra Galdino, o garoto conversou com a reportagem da Folha de Pernambuco.

De início, ele respondeu os motivos que o fizeram escolher o Leão da Ilha como time do coração. E revelou que, apesar do placar, a experiência foi positiva.

"O Sport é bom, bonito e joga bem. Eu me senti muito bem e feliz, mas fiquei um pouco chateado porque perdeu, mas eu gostei do mesmo jeito", disse.

Por conta das obras de reforma "em casa", o Sport realizou a partida em São Lourenço da Mata, fazendo a realização do sonho do garoto pedir por um novo capítulo, também reservado de emoção. "Agora, eu quero muito conhecer a Ilha do Retiro", projeta, com um largo sorriso no rosto.

Diretor do Lar, Gezsler Carlos West dá detalhes de como o sonho saiu do imaginário do garoto para as arquibancadas do estádio. 

"Tudo isso aconteceu devido a atitude de um voluntário do Lar Paulo de Tarso, que propiciou este belo momento para um dos nossos filhos do coração. Todos nós também ficamos bastante felizes. Foi um sonho concretizado", comemora.

Marcas de tristeza
Na madrugada do dia 14 de abril do ano passado, o local foi palco de um incêndio provocado por causa de uma pane elétrica em um dos ventiladores. Três crianças e uma funcionária morreram por conta da inalação da fumaça tóxica vinda das chamas.

As dez crianças e a funcionária que sobreviveram precisaram de acompanhamento médico e internações nos dias seguintes. Alguns, inclusive, foram encaminhados em estado grave à Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A garota que ficou mais tempo internada, chegando até a ser entubada, passou 50 dias sob cuidados médicos.

Crianças ontem, cuidadoras hoje

ligação com o Lar Paulo de Tarso, para a maioria das crianças, não se encerra quando os muros são ultrapassados de forma definitiva e o caminho para casa é modificado. Dois exemplos disso acontecem com as irmãs Amanda Maria Leôncio e Raphaela Viana, que no passado estavam entre as crianças disponíveis para adoção e hoje trabalham no espaço como cuidadoras.

Amanda, durante o turno da noite. Raphaela, pela manhã. Elas, inclusive, fazem questão de se encontrar nas trocas de horário.

As irmãs Amanda Maria Leôncio e Raphaela Viana retornaram ao Lar como cuidadoras | Foto: Clarice Melo/Folha de Pernambuco

Amanda chegou ao Lar Paulo de Tarso ao lado de mais três irmãos, no ano de 2002, aos sete anos de idade. Ela é a mais velha.

Foi lá que aprendeu a cultivar três hábitos da sua vida: ler, escrever e orar.

“Eu e os meus três irmãos éramos analfabetos, não sabíamos ler nem escrever. Ficamos na casa por dois anos e meio, e quando fui desligada, saí sabendo ler e escrever e também a orar o Pai-Nosso”, diz.

Mais tarde, o retorno ao Lar se deu como uma oportunidade de emprego, mas a rede de apoio chegou desde o momento necessário.

“Eu estava desempregada e o meu esposo também, e ainda estávamos com um filho de seis meses. Expliquei a minha situação, no momento não tinha vaga de emprego, mas me ajudaram com cestas básicas e assim que surgiu uma vaga, em 2019, me contrataram”, rememora. Atualmente, a criança, que se chama Jackson, tem seis anos.

Já o retorno de Raphaela, hoje com 26 anos, começa a partir da realização de um sonho: reencontrar a família. Ela foi adotada por uma família, enquanto os outros três irmãos seguiram com outra.

Raphaela usou a irmã como inspiração para retornar ao espaço em uma nova função | Foto: Clarice Melo/Folha de Pernambuco

“Senti falta deles e quis reencontrá-los. Esse era o meu sonho. Fui adotada por uma família e acabei separada dos meus irmãos. Aos 19 anos, decidi voltar para Pernambuco e reencontrei eles. Eu estava morando em Brasília, achei minha irmã por uma rede social e ela disse que eu poderia morar com ela”, diz.

Os anos passaram e Raphaela ampliou sua família. Casou e teve dois filhos: Abraão Lucas, hoje com cinco anos, e Adriel Luiz, com dois.

Mais anos se passaram e ela e o marido optaram pelo divórcio. Desempregada logo depois, Raphaela seguiu os passos da irmã mais velha, mas já conhecia bem para onde estava indo.

"Minha irmã já tinha vínculo com o Lar e as pessoas ficavam perguntando por mim. Souberam que eu precisava de um trabalho e me deram oportunidade. Fiquei muito feliz. Me sinto bem e do jeito que eu fui tratada, com carinho e amor lá, trato as crianças. Eu entendo como elas se sentem, porque passei pelo mesmo. Quando eu estou lá, é como se eu sentisse o que cada um está sentindo. O Lar Paulo de Tarso é um lugar especial”, define.

 

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