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Gatos podem ter contraído gripe aviária após ração crua nos EUA; veja tudo o que você precisa saber

Infecções felinas aumentaram depois que o vírus começou a circular em fazendas leiteiras do país há cerca de um ano

GatoGato - Foto: Razvan Trif / Pexels

Autoridades federais que passaram o último ano lidando com uma onda de infecções de gripe aviária em vacas e pessoas agora estão enfrentando uma onda de novos casos em gatos, alguns dos quais morreram após comer alimentos contaminados e crus.

Desde o início de dezembro, mais de 24 casos foram confirmados em gatos domésticos nos Estados Unidos. Autoridades associaram alguns dos casos ao leite cru carregado de vírus, que é conhecido por representar um risco sério para os gatos.

Mas outros gatos adoeceram após comerem ração crua disponível comercialmente — os primeiros casos conhecidos no país associados à ração para animais de estimação.

Os casos já levaram um fabricante de alimentos para animais de estimação a recolher alguns de seus produtos. E na semana passada, autoridades federais anunciaram novas regras de segurança de alimentos para animais de estimação e esforços de vigilância de aves.

— A gripe aviária é um contaminante emergente em alimentos de origem animal — afirma Steve Grube, diretor médico da Food and Drug Administration dos EUA.

Ainda assim, especialistas e autoridades disseram que não havia necessidade de os donos de animais entrarem em pânico. Não há evidências de que gatos infectados tenham passado o vírus para as pessoas, e os casos foram ligados especificamente a leite não pasteurizado e carne crua ou produtos de aves.

A alimentação de gatos precisa ser rica em proteína animalFoto: itsmeseher / Pexels

A maioria dos alimentos comerciais para animais de estimação são cozidos ou tratados termicamente.

— O calor do processamento deve ser suficiente para inativar o vírus — explica Phyllis Entis, uma microbiologista de segurança alimentar que trabalhou para a agência de segurança alimentar do Canadá.

Mas os casos de gatos destacam o risco dos produtos alimentícios crus e levantam questões sobre lacunas de segurança e vigilância em partes da cadeia de fornecimento de alimentos.

— Nós realmente não temos noção de quão disseminado esse vírus está, e já vimos vários casos dele se infiltrando no suprimento de alimentos para animais de estimação. É uma vulnerabilidade realmente grande — ressalta Kristen Coleman, pesquisadora de doenças infecciosas da Universidade de Maryland que está estudando a gripe aviária em gatos.

Embora os cães pareçam ser menos suscetíveis ao vírus do que os gatos e geralmente apresentem sintomas mais leves, produtos alimentares contaminados também representam riscos para os caninos. Aqui está o que você precisa saber.

Como os gatos estão sendo infectados?
Especialistas sabem há muito tempo que os gatos são suscetíveis ao vírus , que é chamado H5N1 e é frequentemente fatal em felinos. Houve mortes esporádicas em gatos que caçavam pássaros selvagens, e houve um pico de casos de gatos depois que a gripe aviária começou a circular em fazendas leiteiras há cerca de um ano

O leite cru de vacas infectadas frequentemente contém níveis muito altos do vírus; gatos de fazenda que morreram após lamber leite cru frequentemente serviram como um sinal precoce de um surto.

Muitas das infecções recentes ocorreram em gatos domésticos que não tiveram contato conhecido com aves selvagens ou fazendas leiteiras.
 

Gato bebendo leiteFoto: Pixabay

Em dezembro, autoridades do Oregon anunciaram que um gato de estimação contraiu gripe aviária e morreu após comer ração crua e congelada da Northwest Naturals. Amostras da ração — a Feline Turkey Recipe da empresa — testaram positivo para H5N1 e o vírus era uma correspondência genética com o encontrado no gato, segundo autoridades.

Em uma declaração por e-mail, a Northwest Naturals disse que a empresa tinha “profunda preocupação sobre a precisão do teste de um saco aberto de ração para animais de estimação, o que pode contribuir para a contaminação cruzada e a introdução de contaminantes externos que podem levar a resultados de testes falsos positivos ou imprecisos”. Mesmo assim, a empresa decidiu emitir um recall voluntário.

A Califórnia também relatou infecções de gripe aviária em gatos alimentados com leite cru ou ração para animais de estimação. Em uma casa de Los Angeles, cinco gatos ficaram doentes — e dois morreram — após comer dois tipos de ração crua para animais de estimação. Amostras de uma das duas marcas, Monarch Raw Pet Food, testaram positivo para o vírus, disseram autoridades.

— A Monarch está cumprindo com a divulgação das agências locais; no entanto, elas não estão pedindo um recall e, até onde sabemos, não houve outros casos envolvendo a Monarch — diz Stephanie Greene, porta-voz da empresa.

A pasteurização, um processo no qual o leite é rapidamente aquecido e depois resfriado, inativa o vírus e torna o leite seguro para beber, de acordo com a FDA.

Como o vírus está entrando na comida dos animais de estimação?
Não está totalmente claro, e pode haver fontes diferentes para casos diferentes. Mas em um e-mail na quarta-feira, um porta-voz do USDA disse que algumas amostras virais de gatos infectados estavam intimamente relacionadas, geneticamente, a amostras de fazendas de perus em Minnesota.

Quando a gripe aviária é detectada em um peru ou frango de criação, as regulamentações federais exigem que todas as aves daquele bando sejam mortas.

— Essas aves não são permitidas em nenhum produto alimentício — aponta Eric Deeble, um funcionário do Departamento de Agricultura dos EUA, no briefing da semana passada.

Perus e galinhas geralmente ficam gravemente doentes e morrem logo após serem infectados. Mas se um pássaro pegou o vírus logo antes de ser abatido, ou de alguma forma teve uma infecção muito leve, ele poderia potencialmente entrar no suprimento de alimentos sem ser detectado.

A FDA, que regulamenta alimentos comerciais para animais de estimação, exige que os fabricantes de alimentos para animais desenvolvam planos de segurança por escrito, descrevendo as medidas que estão tomando para garantir que seus produtos sejam seguros para consumo.

— A agência tem tolerância zero para patógenos como salmonela, listeria, E. coli ou qualquer outro patógeno potencial em alimentos prontos para consumo para animais de estimação, e isso inclui alimentos crus para animais de estimação — explica Entis, autora do livro “Toxic: From Factory to Food Bowl, Pet Food Is a Risky Business”.

Mas na prática, de acordo com Entis, a agência não tem muitos recursos para regulamentação e supervisão de alimentos para animais de estimação.

— Então, há muita coisa que não é pega, ou só é pega quando há relatos de doenças — argumenta.

O FDA não tem uma definição formal para alimentos crus para animais de estimação, mas, em geral, os produtos comercializados como “crus” não passaram por nenhum tipo de tratamento térmico, como cozimento ou pasteurização.

A Northwest Naturals disse que sua ração para animais de estimação foi processada em uma instalação que tinha um inspetor do USDA no local e também produzia alimentos para consumo humano.

— Continuamos totalmente confiantes em nosso rigoroso controle de qualidade e em sua capacidade de garantir que os animais de estimação de nossos clientes estejam sendo servidos com alimentos seguros e nutritivos — diz a empresa.

O que as autoridades estão fazendo a respeito?
Na sexta-feira passada, a FDA anunciou novas regras que exigem que as empresas que produzem alimentos para animais de estimação contendo certos ingredientes não cozidos ou não pasteurizados atualizem seus planos de segurança alimentar para levar em conta os riscos potenciais da gripe aviária.

Se isso resultará em reformas significativas de segurança ainda está para ser visto, como aponta Entis. Algumas empresas podem decidir implementar novas precauções, como comprar ingredientes apenas de fornecedores que testam regularmente seus animais para o vírus. Mas outras podem dizer que revisaram seus planos de segurança existentes e determinaram que nenhuma nova salvaguarda é necessária.

A Northwest Naturals disse que estava trabalhando para “reanalisar e fortalecer nosso já rigoroso plano de segurança alimentar”.

O USDA também anunciou novas diretrizes de vigilância da gripe aviária para grandes fazendas comerciais de perus em Minnesota e Dakota do Sul. As diretrizes, que podem ser expandidas para outros estados no futuro, exigem que os perus sejam isolados, monitorados e testados para o vírus 72 horas antes de serem enviados para o abate.

O que os donos de animais de estimação podem fazer?
A maneira mais fácil de proteger seus animais de estimação é evitar alimentá-los com leite cru, carne ou aves, concordam os especialistas. Esses produtos, que podem abrigar uma série de patógenos transmitidos por alimentos, sempre representaram riscos à saúde, e a gripe aviária os aumenta.

Donos cujos animais de estimação estão se saindo bem com um determinado alimento cru — e não querem ou não podem mudar repentinamente para um novo produto — podem reduzir significativamente os riscos cozinhando o alimento antes de servi-lo.

Os donos de animais de estimação também devem usar isso como uma oportunidade para se familiarizarem mais com o que há na comida que estão servindo aos seus animais de estimação e como ela é processada.

Pessoas que têm perguntas ou preocupações podem entrar em contato diretamente com as empresas de alimentos para animais de estimação para perguntar de onde eles obtêm seus ingredientes e quais medidas de segurança alimentar estão em vigor.

As pessoas também devem tentar limitar o contato de seus animais de estimação com pássaros — e animais selvagens em geral — e relatar pássaros doentes e mortos às autoridades locais.

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