George Santos, deputado filho de brasileiros acusado de fraude, teve fiança paga por pai e tia
Republicano é investigado em 13 processos por suspeitas de fraude, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e mentir ao Congresso
Das muitas questões que cercam o deputado americano George Santos, uma recentemente assumiu o centro das atenções: quem garantiu a fiança de US$ 500 mil (R$ 2,3 milhões na cotação atual) que permitiu que ele fosse libertado da custódia federal no mês passado? Nesta quinta-feira, o mistério foi resolvido, quando os nomes dos dois fiadores foram revelados, tratando-se de dois parentes do parlamentar: o pai, Gercino dos Santos Jr., e a tia Elma Preven.
A revelação pôs fim a semanas de especulação e a uma briga legal na qual o advogado de Santos, Joseph Murray, afirmava que o congressista — que aguarda julgamento de 13 acusações criminais federais — preferia ir para a cadeia a ter seus fiadores submetidos ao escrutínio público. Murray argumentou em uma carta que eles "provavelmente sofreriam grande angústia, perderiam seus empregos e, Deus me livre, ferimentos físicos".
Contudo, Santos, de 34 anos, optou por não pedir a alteração das condições de sua fiança depois que um juiz federal do Distrito Leste de Nova York rejeitou seu recurso para manter os nomes de seus supostos fiadores em segredo.
O pai e a tia de Santos compareceram ao tribunal no mês passado para assinar a fiança do deputado, de acordo com documentos judiciais. Eles não tiveram que dar dinheiro ou bens para garantir a libertação, mas concordaram em ser "pessoalmente responsáveis" por garantir que ele comparecesse ao tribunal e seguisse as condições da fiança.
Registros de propriedade mostram que Preven é proprietária de um apartamento no bairro de Jackson Heights, no Queens. Ao fazer contribuições para as campanhas de Santos no Congresso em 2020 e 2021, ela disse que trabalhava como operadora nos Correios.
Por sua vez, o pai de Santos — descrito pelo filho como um imigrante brasileiro de ascendência angolana — também mora no Queens, de acordo com os registros de financiamento de campanha. Ele disse ao fazer doações para o filho que trabalhava como pintor ou em construções, ou que estava aposentado, embora tenha dito ao tribunal no mês passado que estava empregado.
Nenhum dos dois respondeu imediatamente aos pedidos de comentários.
Relembre o caso
As identidades dos fiadores atraíram grande interesse depois que reportagens do The New York Times e outros veículos expuseram falsidades na biografia de Santos e levantaram questões éticas sobre suas finanças pessoais e de campanha. Eleito sob a narrativa do "sonho americano", o republicano conquistou os eleitores de Nova York dizendo ser filho de imigrantes brasileiros e neto de judeus que escaparam do Holocausto, que teria se formado em duas universidades públicas até, enfim, se tornar um financista de sucesso em Wall Street. Exceto a filiação brasileira, tudo não passou de invenção.
Santos, que representa partes de Long Island e Queens, admitiu posteriormente ter mentido sobre sua educação e histórico de trabalho. Porém, ele não abordou outras inconsistências referentes a sua campanha e se equivocou quando questionado sobre seus negócios e como eles se relacionavam com seus esforços políticos.
Em maio, promotores do tribunal de Long Island, em Nova York, apresentaram 13 acusações contra Santos: sete denúncias de fraude, três de lavagem de dinheiro, uma relacionada a desvio de recursos públicos e duas por mentir perante o Congresso sobre suas finanças. De acordo com o processo de 20 páginas, Santos orquestrou "esquemas fraudulentos e [deu] declarações falsas" com o objetivo de enganar doadores de campanha, enriquecer ilicitamente e vencer as eleições. George se declarou inocente de todas as acusações.
Pelo seu contrato de fiança, Santos, que está concorrendo à reeleição, pode viajar entre Nova York e Washington, mas deve obter permissão prévia para outras viagens. A próxima audiência em seu processo criminal está marcada para 30 de junho.