Logo Folha de Pernambuco

Mundo

Geórgia aprova lei de influência estrangeira em sessão marcada por confusão e agressões entre parlam

Projeto, acusado por EUA e UE de ser inspirado na Rússia, é alvo de manifestações populares

Manifestante em protesto contra a lei de influência estrangeira da Geórgia Manifestante em protesto contra a lei de influência estrangeira da Geórgia  - Foto: Giorgi Arjevanidze/AFP

O Parlamento da Geórgia aprovou nesta terça-feira, em votação final, o polêmico projeto de lei de "influência estrangeira", acusado de ser uma versão de uma norma usada pela Rússia para reprimir a oposição e que motivou uma série de protestos no país do Leste Europeu. A aprovação aconteceu em uma sessão tensa no Congresso, marcada por xingamentos e troca de agressões físicas entre os deputados, que terminou com o placar de 84 votos a favor e 30 contra.

O texto aprovado, promovido pelo partido governista Sonho Georgiano, estipula que ONGs e veículos de imprensa que recebem mais de 20% de seu financiamento do exterior se registrem como entidades que servem aos "interesses de uma potência estrangeira". Também os obriga a apresentar demonstrações financeiras anuais sobre suas atividades, e concede ao Ministério da Justiça da Geórgia amplos poderes para monitorar a aplicação da lei. Violações incorreriam em multas equivalentes a mais de US$ 9,3 mil (R$ 47,7 mil).
 

Funcionários do governo e sua base no Legislativo afirmaram que o projeto de lei reforça a soberania do país ao tornar as ONGs, que têm ocupado um papel central na vida política altamente polarizada da Geórgia, mais transparentes para o público. Mas a oposição pró-Ocidente denunciou a legislação como um esforço furtivo para converter a Geórgia em um Estado pró-Rússia.

A presidente do país, Salome Zourabichvili, prometeu vetar o projeto, mas a legenda do primeiro-ministro Irakli Kobakhidze tem votos suficientes para anular qualquer veto.

Fora do Parlamento, manifestantes que protestam há mais de um mês contra a reforma continuaram a movimentação, mesmo após a aprovação. A unidade da polícia anti-distúrbios usou gás de pimenta, gás lacrimogênio e entrou em confronto físico com alguns dos manifestantes em volta da sede do legislativo. Algumas pessoas foram detidos pela polícia, mas até o momento não há um número oficial de presos.

Os manifestantes rotularam o projeto de “lei russa”, argumentando que ele imita uma medida semelhante baixada pelo Kremlin. Aprovada em 2012, a lei dos “agentes estrangeiros” russa também foi retratada pelo governo russo como uma medida de transparência, mas rapidamente se transformou em uma ferramenta para reprimir e estigmatizar grupos opositores e organizações de mídia.

A União Europeia advertiu que a lei é "incompatível" com as aspirações da Geórgia de ingressar no bloco europeu. Os Estados Unidos também criticaram a medida.

— Esta lei rouba todo o meu futuro — disse Anano Plievi, um manifestante de 19 anos no protesto em frente ao Parlamento. — Sinto raiva [do que está acontecendo] e ao mesmo tempo orgulho de todas essas pessoas [aqui] reunidas. Vamos continuar avançando em direção à Europa.

Em um discurso recente, Bidzina Ivanishvili, fundador do partido Sonho Georgiano, apresentou o Ocidente como um inimigo, não como um amigo. Falando em um comício pró-governo no final de abril, Ivanishvili disse que a Otan e a União Europeia eram controladas por um “partido de guerra global” que vê “a Geórgia e a Ucrânia como bucha de canhão”.

— Eles fizeram a Geórgia entrar em confronto com a Rússia pela primeira vez em 2008 — disse Ivanishvili, referindo-se a uma breve guerra travada entre Moscou e o governo em Tbilisi. — Em 2014 e 2022 colocaram a Ucrânia numa situação ainda mais difícil.

Ivanishvili, um oligarca recluso que fez fortuna na Rússia antes de regressar à Geórgia no início dos anos 2000, acusou as elites ocidentais de tentarem fomentar uma revolução contra o seu partido, porque se recusou a opor-se ativamente ao Kremlin após a invasão da Ucrânia.

Mas alguns manifestantes disseram que Moscou é quem orienta Ivanishvili e o seu partido, que governa a Geórgia há quase 12 anos e pretende reforçar o seu controle sobre a política do país nas próximas eleições, em outubro.

— Esta é a única maneira de permanecerem no poder, de estarem com a Rússia — disse Ilia Burduli, 39 anos, advogada, em um dos protestos. — Esta é a única maneira de estar no comando para sempre.

Irakli Kobakhidze, recentemente nomeado primeiro-ministro da Geórgia, descreveu os ativistas que se opuseram ao projeto de lei como pessoas arrogantes e sem noção que sofreram uma lavagem cerebral para acreditarem que o projeto de lei estava ligado à Rússia.

"Uma pessoa autoconfiante sem conhecimento e inteligência é pior que um tanque russo”, disse Kobakhidze na sexta-feira em um post no Facebook. 

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter