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Geração TikTok: por que a rede social faz tanto sucesso e quais os efeitos na rotina dos jovens?

O TikTok chegou a ser o aplicativo mais baixado do mundo no ano passado e ultrapassar a marca de um bilhão de usuários ativos

TikTok faz sucesso entre jovensTikTok faz sucesso entre jovens - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Você já deve ter se deparado com vídeos de dancinha, dublagem ou humor rápido enquanto navega pela internet e acessa plataformas digitais. É até capaz, também, de você ter visto esse tipo de conteúdo ao ser replicado em algum programa de televisão.

E sabe de onde surgiu essa nova forma de comunicar que tem feito tanto sucesso? A resposta é: da rede social chinesa TikTok, grande responsável pela alta projeção dos vídeos curtos - e na maioria das vezes bem humorados - que têm, inclusive, ganho espaço em mídias concorrentes.    

Público-alvo da ferramenta, os jovens podem passar horas e mais horas em frente à tela do celular, consumindo os conteúdos que o aplicativo oferece.

Um estudo realizado por cientistas da Universidade Zhejiang, na China, e publicado na revista científica NeuroImage, revelou que algumas regiões do cérebro ligadas ao sistema de recompensa são acionadas enquanto crianças e jovens assistem aos vídeos personalizados pela plataforma, gerando sensação de prazer e satisfação no organismo, o que, segundo especialistas, pode causar uma espécie de vício e dependência e prejudicar o foco em atividades mais complexas.

Para o neuropsicólogo Hugo Monteiro Ferreira, coordenador do Núcleo do Cuidado Humano e do Grupo de Estudos de Transdisciplinaridade da Infância e da Juventude, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o uso excessivo da rede social pode trazer consequências perigosas.

“Os vídeos podem sim provocar dependência, a depender de quem vai se relacionar com eles. Como na contemporaneidade nós estamos presenciando uma geração muito frágil em termos emocionais, então é muito provável que haja uma probabilidade maior de se criar uma dependência”, disse.

O neuropsicólogo Hugo Monteiro Ferreira alerta para os riscos do consumo de vídeos em excesso - Foto: Divulgação 

Autor do livro “A geração do Quarto”, que aborda questões relacionadas à saúde mental de crianças e adolescentes, Ferreira avalia que a predileção por interações virtuais pode afetar habilidades comportamentais.

“As consequências são mais drásticas porque a ausência da relação face a face também leva a uma ausência de interlocução, de diálogo, de divergência, de contraposição, de contra-argumentação. Você aciona menos a sua capacidade crítica, a sua dúvida, o seu questionamento”, analisou.

Mas, explica, como o uso de redes sociais é cada vez mais inevitável, é indicado, então, encontrar um equilíbrio. “Eu acho que as famílias e as escolas precisam urgentemente apresentar alternativas para as crianças e os adolescentes. Quais são essas alternativas? Alternativas que possam possibilitar o contato face a face, os encontros culturais, os encontros de convivência, as relações que podem ser estabelecidas sem a mediação da máquina”, sugeriu.

"E nós podemos fazer isso. Nós podemos fazer isso desde as brincadeiras com as crianças até mesmo os passeios com adolescentes e jovens, as discussões sobre livros, a ida a teatros, a ida a museus, o descobrir da cidade", completou.

A analista de marketing e consultora de comunicação Paula Galvão destaca que o sucesso do TikTok também pode ser atribuído à visão de que pessoas comuns podem ter mais chance de visibilidade.

“Com a era dos influencers e criadores de conteúdo, o TikTok é visto como uma ferramenta que possibilita explorar mais ainda a criatividade com challenges, danças, dublagens, montagens e afins. E isso, naturalmente, gera mais engajamento, porque a ideia principal é viralizar. É fazer com que os anônimos apareçam de alguma forma, sobretudo na pandemia onde as pessoas precisaram se reinventar para tentar minimizar os efeitos do isolamento”, analisou.

paula galvãoA consultora de comunicação Paula Galvão analisa as estratégias do TikTok - Foto: Divulgação

Para a especialista, o aplicativo é uma ferramenta criada para entreter. “Não é para gerar notícias, como o Twitter, ou postar foto, como o Instagram, por exemplo. As métricas que eles usam, inclusive, são mais focadas no tempo e é o que retém o usuário na plataforma", disse.

"A estratégia da viralização, além de uma interface intuitiva, facilita a adesão a novos usuários. Não à toa que, além de ser grande sucesso entre jovens, vem em uma crescente também com o público de mais idade”, pontuou. 

Por que o TikTok pode ser viciante?

A estudante Isadora Castro, de 10 anos, utiliza a rede social com a supervisão da família. Ela começou a usar a plataforma há dois anos, durante a pandemia, como forma de passatempo e porque outros amigos também estavam acessando.

Durante a semana, conta, costuma assistir em média duas horas de vídeos por dia. Já aos fins de semana, o tempo médio sobe para cerca de três horas diárias.

Isadora Castro utiliza a rede social diariamente - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

“Os meus amigos, do colégio e da rua que eu moro também, sempre usam o TikTok. A gente conversa sobre os vídeos, combinamos de fazer dancinha às vezes. A gente às vezes posta vídeos juntos quando tem algum tempo no colégio, por exemplo”, comentou. 

No ano passado, o TikTok chegou a ser o aplicativo mais baixado do mundo e ultrapassar a marca de um bilhão de usuários ativos.

A cantora Bela Maria, de 20 anos, viu na rede social uma forma de atrair e entreter o público. “Quando chegou a pandemia, eu queria fazer uma coisa diferente relacionada à música. Eu sempre amei fazer poesia e eu gosto muito de conversar com o público. Eu falei: eu acho que vou trazer isso no TikTok, que é um lugar que eu me sinto confortável de trazer porque tem de tudo ali”, contou.

É ela quem produz e edita os vídeos que compartilha no perfil com mais de 400 mil seguidores - e percebeu que boa parte desse público migrou, também, para a sua conta no Instagram, onde soma 904 mil. “Eu sempre quis ver referências e agora eu estou sendo para as pessoas. Eu acho que é o principal para mim, que eu canto para isso também”, frisou.

bela mariaA cantora Bela Maria une reflexões sentimentais e música no TikTok - Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Também estudante de jornalismo, ela busca conciliar a carreira na música com a comunicação. “Eu sigo conciliando a carreira, com o estágio, com a faculdade em si e, agora, com o trabalho de conclusão de curso. Mas a música, eu posso dizer que é o meu sonho”, disse.

Ainda na adolescência, Bela participou do The Voice Kids, reality musical exibido pela TV Globo. No TikTok, faz sucesso com músicas autorais e com versões e traduções de hits famosos. Entre os vídeos que geram mais alcance estão os que iniciam com uma reflexão, muitas vezes sobre relacionamentos, e recebem uma resposta em forma de música. 

“No começo foi muito sobre a ideia do que eu queria fazer, uma coisa que eu talvez quisesse consumir e não via muita gente trazendo. E eu queria que tivesse essa atenção maior para a música dentro das redes sociais. E talvez se a gente se encaixasse nesse meio, fazendo essas coisas diferentes, tivesse, né? E eu queria que o pessoal entendesse o que é que eu estou sentindo quando eu cantasse essa música, sabe?”, comentou.

A influencer Beca Barreto ficou famosa com os vídeos de dancinha, um dos tipos de conteúdo que mais viraliza na rede atualmente. A jovem de 20 anos, que possui 22 milhões de seguidores no TikTok e 8,2 milhões no Instagram, também começou a produzir conteúdo para o aplicativo na quarentena.

beca barretoBeca Barreto possui 22 milhões de seguidores no TikTok - Foto: Divulgação

“O vídeo dançando uma música ‘gringa’, viralizou. Eu tinha postado e saí, devo ter passado um dia sem entrar no TikTok. Quando entrei no dia seguinte, tinham muitos novos seguidores, muitas visualizações. Fiquei muito chocada”, lembrou. 
  
O público jovem é o que mais acompanha as publicações da influencer. Hoje em dia, comenta Beca, ela passa muito mais tempo produzindo do que consumindo conteúdo.

“Antes, quando eu não trabalhava para isso e gravava conteúdo sem ser profissionalmente, eu consumia mais, ficava bem mais tempo no TikTok. Mas, ultimamente, passo menos tempo, mas procuro sempre estar por dentro das trends e dos áudios que estão fazendo sucesso.”

Os irmãos Deko e Peu Feitoza, de 33 e 27 anos respectivamente, também viram o alcance do perfil Se Liga nos 15, onde somam 1 milhão de seguidores, aumentar com a pandemia. A conta inicou com vídeos de edição e hoje faz também sucesso com vídeos de humor.

“Com todo mundo em casa parado, eu disse ‘agora, é vídeo’, e começamos a testar os vídeos de humor”, comentou Peu. “Foi quando o próprio TikTok explodiu”, completou Deko que, admite, não costuma consumir o conteúdo produzido na rede.

se liga nos 15Deko e Peu Feitoza são os nomes à frente do perfil "Se liga nos 15" - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Já o irmão afirmou que acompanha as publicações de outros perfis como forma de inspiração e alertou para a necessidade do equilíbrio: “Eu acho que você tem que ter cuidado porque vicia. Tanto que o próprio TikTok se preocupa com isso. Um dia desses eu estava de noite em casa e pensei ‘vou pegar umas inspirações aqui’, quando eu vi eu estava há mais de duas horas no TikTok e apareceu um vídeo do aplicativo dizendo ‘olha, não está na hora de dar uma pausa não?’, lembrou.

Engenheiros por formação, eles deixaram o ramo no fim do ano passado para se dedicar exclusivamente aos trabalhos em torno da internet. “Se você é produtor de conteúdo, você tem um consumo diferenciado, você está anotando coisas que podem ajudar na sua criação. Mas se você está ali pelo entretenimento, é como ver um filme. Você vai passar o dia vendo filme? Então, tem que ter essa dosagem”, defendeu Deko.

Conteúdo Extra

Saiba mais sobre os efeitos psicológicos causados pelo uso em execsso do Tiktok no podcast abaixo:

 

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