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GOLPE

Golpista do Tinder: saiba quem é e como agia suspeito preso por golpe sentimental no Rio

Prejuízos financeiros chegam a R$ 1,8 milhão, aponta a Polícia Civil; contra suspeito foi cumprido um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça do Rio

Caio Henrique da Silva Camossatto, preso por estelionato Reprodução Caio Henrique da Silva Camossatto, preso por estelionato Reprodução  - Foto: Reprodução

Um fazendeiro rico, produtor musical ou ator. Essas eram algumas das profissões nas quais Caio Henrique da Silva Camossatto dizia que trabalhava. Ele foi preso no último dia 22, por aplicar golpes a partir de aplicativos de namoro que chegaram a R$ 1,8 milhão. Ao todo, ele é investigado por 11 casos de estelionato no Rio e em São Paulo. Segundo as investigações da Polícia Civil fluminense, Caio sensibiliza suas vítimas com um cenário falso para que, assim, conseguisse pedir dinheiro emprestado, com a promessa de que pagaria posteriormente a quantia.

— Como todo estelionatário, ele é uma pessoa que se dedica a enganar as vítimas. Então, para isso, ele estuda um pouco a vítima, vê as características, o que ela gosta ou não. Dentro desse estudo, ele vai se adequar. Ele é como se fosse um camaleão. Ele é o cara mais família. Se a vítima for uma pessoa um pouco mais aventureira, ele vai ser um baita aventureiro. Ele vai se moldando essa vítima. Para quê? Para ela entender que encontrou a sua alma gêmea — explica a advogada Jacqueline Valles, que representa quatro vítimas no estado de São Paulo, ao Globo.

Caio é investigado por crimes contra pelo menos 11 mulheres, no Rio e em São Paulo, ele foi atraído para o local de sua prisão, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, por Tayara Banharo de Medeiros, uma das mulheres na qual aplicou o golpe. O caso foi reportagem do Fantástico. O crime consistia em pedir empréstimos para as vítimas sob o pretexto de que seriam devolvidos. Somados, os valores chegam a R$ 1,8 milhão. O inquérito que resultou no mandado da prisão preventiva foi apenas de uma delas, de quem pegou R$ 500 mil. A pena para esse tipo de crime é de 5 anos de prisão.

Lábia para pegar dinheiro

Todas o conheceram por meio de aplicativos de relacionamento. Ele dizia ser ator de novela, compositor de músicas famosas, dono de imóveis, rico e bem relacionado, mas com problemas financeiros. Em um dos áudios enviados às vítimas e divulgado no Fantástico, ele diz: “Meu vô faleceu em junho do ano passado. Eu era o único herdeiro. Maior dor de cabeça. Não quero saber disso, não (…) Peguei o carro e já botei na blindagem. Agora, só 45 dias que eu pego. Tenho zilhões de dificuldades para resolver na fazenda lá de Minas. Na fazenda de Goiânia, lá de Morrinhos, em Goiás.”

Os investigadores dizem que assim ele conseguia sensibilizar as mulheres para pedir dinheiro emprestado com a promessa de pagar quando os problemas financeiros dele fossem resolvidos.

— O Caio, no começo, nunca vai ser violento. Ele nunca vai ser agressivo, vai ser aquele cara que vai falar que as mulheres são mulheres e exigem respeito. Que não entende como alguém pode maltratar uma mulher. Ele vai falando sobre situações em que realmente você pode ter uma segurança com ele, porque ele é um cara respeitoso. Ele começa a demonstrar que aquela mulher realmente é um alicerce dele, que ela é a única pessoa com quem ele pode contar — explica Valles.

Tayara estava internada no hospital quando o conheceu pessoalmente. No primeiro encontro fora da unidade de saúde, ele pediu dinheiro emprestado:

— Até soa um pouco constrangedor. Mas, assim, ele tem muita lábia. Emprestei R$ 1 mil. Fiquei uma semana internada direto no semi-intensivo. E eu falando com ele, ele simplesmente aparece no hospital para me visitar. Fiquei até meio assim… A pessoa que você conhece no aplicativo de relacionamento vai te encontrar no hospital, né? Ele me beijou no hospital — contou em entrevista à TV.

Elo com as vítimas

Valles conta que o contato com pessoas que Caio apontava como sendo seus parentes criava um elo ainda maior entre ele e as vítimas, já que trazia mais concretude para o falso relacionamento.

— A mãe conhecia todas. Ele se relacionava com 4 ou 5 ao mesmo tempo. E, para todas, falava o mesmo: “Nossa, nunca vi uma pessoa pela qual o Caio estivesse tão apaixonado” ou “você está modificando o meu filho, o meu filho teve realmente a sorte grande de ter encontrado você” — afirma.

Investigação e denúncia

Com suspeitas sobre Caio ser um golpista, ela investigou informações sobre ele na internet, descobriu que era uma farsa e exigiu que ele pagasse o que pegou emprestado, sob ameaça de o expor. Ele pagou tudo. Um mês depois, no ano passado, outra reportagem do Fantástico mostrou que Caio que era investigado em São Paulo em pelo menos cinco casos e já tinha sido condenado por estelionato em 2019. A pena foi convertida em prestação de serviços comunitários, que ele nunca cumpriu. Quando viu a reportagem, Tayara decidiu se unir a outras mulheres para desmascarar Caio.

Através de um grupo de troca de mensagens, as vítimas de Caio monitoraram o criminoso e juntaram provas para denunciá-lo. Seus passos foram acompanhados com ajuda de compras que ele fazia no cartão de crédito de uma das mulheres contra quem praticou o crime de estelionato.

— A gente foi conversando com ele no WhatsApp até conseguir o mandado de prisão. Quando saiu o mandado, eu marquei um encontro com ele — disse.

Nos últimos dois meses, Caio se relacionava com uma policial militar do Rio.

— A investigação, ela mostrou que ele era um criminoso contumaz. E o pior de tudo, ele continuava conversando com outras pretensas vítimas. Ou seja, a prisão dele era essencial para evitar que outras vítimas caíssem no seu golpe — disse Fabio Souza, delegado titular da 34ª DP (Bangu), que fez um alerta:

— É importante que as vítimas compareçam às delegacias e comuniquem o fato. E aí você pede a prisão por cada vítima. Vai ser muito mais difícil ele ser solto. A gente tem que botar na nossa consciência que no momento em que ele for solto, ele vai fazer isso de novo, porque é disso que ele vive — afirma o delegado.

A defesa de Caio Henrique Comossato disse ao Fantástico que as acusações não têm fundamento, que o que está em apuração não é crime, mas sim um ilícito civil, quando se descumpre o que tinha sido acordado entre as partes. A defesa também disse que considera a prisão arbitrária e ilegal.

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