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Venezuela

González exige libertação imediata de María Corina, e líderes condenam prisão de opositora de Maduro

Em declaração no X, ex-diplomata advertiu as forças de segurança venezuelanas que 'não brinquem com fogo'; governo da Espanha e do Panamá também exigiram a libertação da líder da oposição

A líder da oposição venezuelana Maria Corina Machado acena durante um protesto convocado pela oposição na véspera da posse presidencial, em Caracas, em 9 de janeiro de 2025A líder da oposição venezuelana Maria Corina Machado acena durante um protesto convocado pela oposição na véspera da posse presidencial, em Caracas, em 9 de janeiro de 2025 - Foto: Pedro Mattey/AFP

O opositor venezuelano e ex-diplomata, Edmundo González Urrutia, exigiu nesta quinta-feira a "libertação imediata" da líder da oposição no país, María Corina Machado, presa após liderar protestos por todo o país na véspera da posse do ditador Nicolás Maduro. Além de González, que está exilado e promete voltar na sexta-feira ao país, outras lideranças e chefes de Estado uniram-se ao coro pela soltura da opositora.

"Como presidente eleito, exijo a libertação imediata de Maria Corina Machado", escreveu Gonzalez Urrutia no X, apelando às forças de segurança da Venezuela para que "não brinquem com fogo". Junto com María Corina, González contesta o resultado das eleições de 28 de julho, na qual o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor, mas sem apresentar as atas que o comprovem.

O governo espanhol por sua vez expressou sua "preocupação" e "total condenação" à prisão de Maria Corina Machado. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Espanha pediu ainda que a "integridade" dos líderes da oposição seja "protegida e salvaguardada". O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, também pediu respeito à "integridade pessoal" de María Corina, advertindo no X que o "regime ditatorial [de Maduro] é responsável pela sua vida".

O Gabinete da Presidência da Argentina expressou "extrema preocupação" com o que descreveu como "ataque criminoso do regime chavista contra a líder democrática" María Corina. "A um dia da posse do presidente eleito Edmundo González, o ditador Nicolás Maduro faz uma demonstração de força, atacando a maior referência em favor de uma Venezuela livre e democrática", escreveu em comunicado.

A oposição venezuelana volta às ruas nesta quinta-feira para marchar contra a posse nesta sexta-feira do ditador Nicolás Maduro, proclamado vencedor em uma eleição contestada pela oposição. A concentração dos manifestantes nos pontos escolhidos pelos dirigentes da oposição ocorre a despeito das instalações pelo governo de plataformas ou piquetes com música alta e o destacamento de policiais e militares.

O chavismo também convocou uma manifestação paralela em apoio a Maduro. Na tarde de quinta-feira, a líder da oposição María Corina Machado, que saiu da clandestinidade para liderar o "dia histórico", foi presa após aparecer em Chacao, bairro comercial em Caracas.

María Corina chegou em um caminhão ao comício no bairro de Chacao, em Caracas, à tarde, segundo informaram os repórteres da AFP. Em um vídeo publicado nas redes sociais, a líder da oposição aparece em cima do que parece ser a cabine do motorista. Ela veste sua tradicional camisa branca e acena para apoiadores, que gritam "Liberdade!". "Estou aqui, com você, e ATÉ O FIM", escreveu nas redes.

Mas horas depois, uma fonte próxima à líder oposicionista informou à AFP que María Corina foi presa. Sua equipe política denunciou na rede social X que Machado "foi violentamente interceptada ao deixar a concentração". A mensagem afirma que agentes "dispararam contra as motocicletas que a transportavam", sem fornecer mais detalhes.

Apesar das ruas de Caracas terem amanhecido desertas nesta quinta-feira, salvo os agentes de segurança fortemente armados, os manifestantes foram chegando aos poucos, por volta das 10h da manhã local (11h em Brasília), horário marcado para a marcha. Vestindo camisas com as cores da bandeira venezuelana (amarelo, vermelho e azul), foram se estabelecendo nos quatro pontos destacados por María Corina e Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória nas eleições de julho.

São eles, a Conferência Episcopal Venezuelana, na Paróquia de La Vega; a rua Élice, do distrito de Chacao; em frente ao Shopping Líder, no município de Sucre; e na distribuidora de Santa Fé, em Baruta. Por questões de segurança, a líder da oposição não revelou anteriormente de qual desses pontos sairia. Em entrevista à AFP na segunda-feira, disse que "não perderia esse dia histórico por nada no mundo".

Em dois dos pontos, o chavismo instalou simultaneamente plataformas guardadas por funcionários das forças de segurança do Extado e civis encapuzados. Agentes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) também estavam dispostos em frente à Conferência Episcopal Venezuelana, na Paróquia de La Vega, informou o jornal venezuelano El Pitazo. É na capital que está localizado o Palácio Miraflores e as sedes dos poderes públicos.

— Não há palco que possa tirar a esperança. Eles são o passado! —exclamou uma mulher no distrito comercial de Chacao.

O destacamento massivo de agentes de segurança está acontecendo desde a semana passada sob a justificativa de um "plano de defesa", informou o jornal La Patilla. Às vésperas das marchas, Maduro ordenou a mobilização de militares e policiais de todo o país sob o argumento de planos para impedir a sua posse para um terceiro mandato. Um manifestante, sob condição de anonimato, disse ao El Pitazo que esse destacamento massivo "faz parte do que o governo sempre fez, que é intimidar a população para que não saia."

— Todo mundo sabe disso, mas eles estão tranquilos lá e nós estamos tranquilos aqui, ninguém incomoda ninguém, porque não estamos fazendo nada — afirmou, acrescentando que aqueles presentes compareceram devido ao apelo feito pelas lideranças da oposição.

Jornais venezuelanos informaram que muitos locais no interior do país, onde alguns opositores se reunirão, também receberam as plataformas e palanques chavistas. No Estado de Nueva Esparta, o jornal Efecto Cocuyo afirmou que apoiadores do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv), de Maduro, montaram um palanque na Plaza de las Bandeira e um telão, onde foi transmitido o programa "Con el mazo dando", apresentado por Diosdado Cabello, número dois do chavismo. No entorno do local, também foram instalados postos de controle do serviço de Inteligência (Sebin) e da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) para fiscalizar os veículos que passam pelo local. De acordo com o jornal, uma jovem foi detida pelo Sebin na cidade de Porlamar.

O mesmo ocorre no estado de Falcón, onde um ponto de concentração foi alterado após o envio de um grande contingente da Guarda Nacional e da Polícia Bolivariana, e na cidade de Maracaibo, no estado de Zulia, continuou o Efecto Cocuyo. Nesta última, junto com as cidades de Valência, em Carabobo, e Valera, no estado de Trujillo, funcionários da Guarda e da Polícia nacional usaram bombas de gás lacrimogênio para dispersar os opositores, informou o jornal Tal Cual.

Os chavistas começaram sua marcha em apoio à posse de Maduro por volta de 13h30 local (14h30 em Brasília), em vários pontos de Caracas.

"Nos veremos em breve"
Os protestos da oposição desafiam o medo que se instalou em julho após uma repressão brutal às manifestações que eclodiram depois do anúncio da posse do líder chavista, deixando 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 presos. María Corina acusa Maduro de "roubar" as eleições e reivindica a vitória de González Urrutia, que chegou à República Dominicana para a última escala antes de retornar à Venezuela.

— Nos veremos todos muito em breve em Caracas em liberdade — disse o ex-diplomata nesta quinta-feira durante evento com o presidente Luis Abinader.

González Urrutia, que pediu asilo na Espanha em 8 de setembro após uma ordem de prisão, disse que quer retornar ao seu país para assumir o poder. A cerimônia de posse presidencial está marcada para 10 de janeiro ao meio-dia (13h em Brasília), no Parlamento, controlado pelo chavismo.

O ex-diplomata está em uma viagem que o levou à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Joe Biden e representantes de seu futuro sucessor, Donald Trump. Depois, foi ao Panamá, onde entregou à polícia as atas emitidas pelas urnas para comprovar a vitória da oposição, que o chavismo considera falsas.

De qualquer forma, as autoridades venezuelanas — que oferecem US$ 100 mil dólares (R$ 613 mil) por sua prisão — já alertaram que, se ele chegar ao país, "será preso imediatamente" e seus companheiros internacionais serão tratados como "invasores".

Funcionário do FBI preso
O governo, que frequentemente denuncia os planos dos Estados Unidos e da Colômbia de derrubar Maduro, anunciou a prisão de sete "mercenários", incluindo dois americanos: "um funcionário de alto escalão do FBI" e "uma autoridade militar". O Departamento de Estado classificou a acusação como "falsa", segundo um porta-voz.

— Como Maduro e seus sócios demonstraram no passado, eles deterão e prenderão, sem justificativa ou devido processo, cidadãos americanos que entrarem na Venezuela — afirmou sob condição de anonimato.

Uma onda de relatos de detenções foi registrada desde terça-feira à noite, com pelo menos dez prisões. Entre os presos estão Carlos Correa, conhecido ativista dedicado à defesa da liberdade de expressão, e Enrique Márquez, candidato da oposição minoritária nas eleições presidenciais que contestou sem sucesso perante o tribunal superior a certificação da reeleição de Maduro.

Antes, foi o genro de González Urrutia, Rafael Tudares, que estava com os filhos quando foi preso por policiais encapuzados. Diosdado Cabello vinculou Márquez e Tudares ao suposto agente do FBI e a um plano de golpe de Estado.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, mostrou-se "profundamente preocupado" com estas prisões, assim como os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e da França, Emmanuel Macron. (Com AFP)

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