SAÚDE

Gordofobia: entenda o que é e os males que esse preconceito pode causar na vida das pessoas

Pessoas gordas vivenciam um escrutínio constante, em que sua saúde, hábitos e personalidade são pressupostos e julgados apenas pelo que seus corpos ocupam

Pessoas com excesso de peso enfrentam diariamente espaços que indicam que seus corpos não têm lugar Pessoas com excesso de peso enfrentam diariamente espaços que indicam que seus corpos não têm lugar  - Foto: Freepik

A gordofobia é definida como o ódio, a rejeição e a violência enfrentados por pessoas gordas devido ao seu peso. Também pode ser entendida como o medo da gordura, seja o medo de ser gordo (gordofobia internalizada) ou o medo da gordura alheia. Caracteriza-se por atitudes negativas, estereótipos e preconceitos em relação a pessoas gordas, que podem ser acompanhados de atos de violência física, moral, verbal ou psicológica.

A gordofobia é estrutural e sistêmica. Pessoas com excesso de peso enfrentam diariamente espaços que indicam que seus corpos não têm lugar, como no caso dos cintos de segurança inadequados em transportes públicos. Elas vivem sob constante escrutínio: sua saúde, hábitos e personalidade são presumidos e julgados apenas pelo tamanho de seus corpos.

Do ponto de vista do sistema, essas pessoas são oprimidas no acesso a transporte e espaços públicos, além da falta de oportunidades para se movimentarem. São rotuladas como pouco atléticas e preguiçosas, mas há poucas opções de academias ou centros esportivos adequados para pessoas com excesso de peso.

No campo científico e de saúde, fala-se mais sobre “viés de peso” ou “estigma de peso”, que é a inclinação para fazer julgamentos de valor baseados no número exibido na balança.

O estigma do peso cria estereótipos que pessoas com corpos maiores não se alimentam de maneira saudável, não praticam esportes, estão deprimidas, são desajeitadas e descuidadas, e não têm força de vontade. Além disso, qualquer doença que tenham é frequentemente atribuída ao peso, como se pessoas magras não adoecessem e a magreza protegesse de doenças.

Um estigma associado a um grupo de pessoas com características semelhantes torna-se um estigma social. E o que significa um estigma? Refere-se a uma condição, atributo, traço ou comportamento que faz com que seu portador seja alvo de uma resposta negativa e seja visto como culturalmente inaceitável ou inferior. Sob o manto onipotente do estigma, chega-se à exclusão social, por meio de zombarias, insultos, barreiras e obstáculos. Assim, cria-se uma gordofobia estrutural, que se manifesta de forma individual e coletiva. O estigma pode ser imposto pela própria família, amigos, educação e sistema de saúde.

A gordofobia também gera a vergonha corporal. Os padrões estéticos criaram um único modelo de corpo possível. À medida que nos afastamos desse modelo, o valor de nosso corpo diminui. A pressão que uma mulher gorda sofre sobre seu corpo é maior do que a de um homem gordo, e, por sua vez, a de uma mulher gorda branca é menor do que a de uma mulher gorda negra. E assim por diante, adicionando diferentes fatores como sexualidade e etnia.

Na medicina e na saúde em geral sempre se trabalhou com o peso como ponto de corte: o IMC (índice de massa corporal), que determina se nosso peso é saudável ou não. É um parâmetro totalmente obsoleto, que leva em consideração apenas o peso e a altura da pessoa. Para piorar, ele é baseado apenas em homens brancos, e deixa de fora as mulheres e todas as raças, exceto a caucasiana. Não é uma medida interseccional, mas mesmo assim é aplicada da mesma forma para todos.

No sistema de saúde

A partir desse imperativo de equiparar a saúde ao peso, a gordofobia médica é exercida e pode se manifestar de várias maneiras:

Em qualquer doença, mesmo que não tenha relação, é recomendada a perda de peso;

Ausência de cadeiras adaptadas em consultórios médicos ou de nutrição;

Os mesmos recursos não são oferecidos às pessoas gordas, o que acaba colocando em risco a saúde daqueles que deixam de procurar ajuda médica;

Recusa de tratamentos de fertilidade com base no IMC;

Isso acaba por violar o direito básico ao acesso a cuidados médicos de qualidade;

Somado a isso, não há referências gordas. Quantos atores gordos você conhece? E atrizes? Quantas delas têm papéis protagonistas? E se tiverem, quantos não têm o peso como tema central da trama? Normalmente, personagens gordos são secundários, engraçados, indesejáveis, e passam a vida de dieta.

Diante de tanta pressão, tanta vergonha e tão pouca visibilidade, é difícil cuidar de si mesmo. O maior desejo é encolher, reduzir o tamanho do corpo para se encaixar e deixar de ser julgado.

 

A gordofobia tem grandes consequências na vida das pessoas gordas: elas sofrem zombarias e assédio, têm maior risco de desenvolver distúrbios alimentares, evitam atividades físicas e se privam de coisas que gostam para evitar a exposição de seus corpos. Elas colocam suas vidas em espera até emagrecer.

No final, ser gordo se tornou uma identidade indesejada, como disse Enrique Aparicio, roteirista e escritor: “Ser um menino gordo e gay tinha destruído minha saúde mental e me convencido de que eu não merecia ser amado. Sempre ansioso, sempre sufocado pela vergonha e pela culpa. Eu não deixaria de ser gay nem por todo o ouro do mundo, mas pagaria para deixar de ser gordo”.

É hora de desvincular o peso da saúde e trabalhar em políticas públicas de saúde, não abordando os problemas alimentares no âmbito privado, o que acaba sendo classista e desigual. Em nível individual, devemos tomar consciência de nossa gordofobia internalizada, trabalhá-la e corrigi-la. Como profissionais de saúde ou educadores, temos uma responsabilidade maior em começar a transmitir a mensagem de que todos os corpos são válidos e a saúde é muito mais complexa do que os quilos.

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