Logo Folha de Pernambuco

meio ambiente

Governo do Brasil diz que fracasso do acordo UE-Mercosul vai aumentar devastação da Amazônia

Queimadas no PantanalQueimadas no Pantanal - Foto: Mauro Pimentel / AFP

O Itamaraty e o Ministério da Agricultura divulgaram uma extensa nota nesta terça-feira (22) para rebater o governo francês que, na semana passada, diante de um relatório sobre desmatamento no Brasil, informou se opor à atual versão do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

"O desmatamento ameaça a biodiversidade e perturba o clima. O relatório apresentado por Stefan Ambec reforça a posição da França de se opor ao proposto acordo UE-Mercosul, tal como está. A consistência dos compromissos ambientais do nosso país e da Europa depende disso", escreveu em uma rede social na sexta-feira (18) o primeiro-ministro francês, Jean Castex, fazendo menção a um pesquisador da escola de economia de Toulouse e responsável pelo departamento de energia e clima.

A França, assim como outros países do bloco europeu, quer impor condições ambientais para que as negociações tenham seguimento.

"A não entrada em vigor do acordo Mercosul-UE passaria mensagem negativa e estabeleceria claro desincentivo aos esforços do país para fortalecer ainda mais sua legislação ambiental. A não aprovação do acordo teria, ademais, implicações sociais e econômicas negativas, que poderiam agravar ainda mais os problemas ambientais da região", diz o governo brasileiro na nota divulgada nesta tarde.

O comunicado foi distribuído aos jornalistas horas depois do discurso de abertura na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer, novamente, que as riquezas da Amazônia despertam interesses estrangeiros e escusos e é por isso que, em sua visão, o governo é vítima do que chamou de "brutal campanha de desinformação".

Os ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura disseram que o fracasso em ratificar o acordo entre UE e Mercosul "implicará lacuna importante no fortalecimento da relação entre as partes e na reiteração de um livre comércio sustentável e responsável, que proporcionará prosperidade com preservação da natureza, resultante da melhoria das condições econômicas".

"O governo brasileiro refuta qualquer afirmação de que o acordo aumentaria a destruição da floresta amazônica. Reafirma que o acordo traz compromissos adicionais aos direitos ambiental e comercial multilateral para regular os fluxos comerciais atuais e futuros a bem da garantia da sustentabilidade ambiental", diz o comunicado.

Na nota, as pastas dizem "causa estranheza [...] que o relatório esteja focado em produtos de alta sensibilidade agrícola europeia e valha-se de argumentos não comerciais (como o suposto risco de desflorestamento) para garantir proteção econômica a certos produtores".

Afirmam ainda que "o relatório da comissão de avaliação do citado acordo do governo francês revela as reais preocupações protecionistas daqueles que o encomendaram ao tratar das concessões agrícolas feitas pela UE ao Mercosul" e que o tratado comercial "não representa qualquer ameaça ao meio ambiente, à saúde humana e aos direitos sociais".

"Ao contrário, reforça compromissos multilaterais e agrega as melhores práticas na matéria", diz o texto.

Na nota, o governo brasileiro argumenta que que o país é capaz de aumentar sua produção de carne, soja e milho com simultânea diminuição do desmatamento. Os ministérios dizem que, de 2004 a 2012, o desmatamento da região chamada de Amazônia Legal caiu 83%, enquanto que a produção agrícola subiu 61%.

O ministérios dizem ainda que, no mesmo período, o rebanho bovino cresceu em mais de 8 milhões de cabeças, chegando a 212 milhões em 2012.

Não há qualquer menção ao aumento no número de queimadas. De acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até 21 de setembro, a Amazônia registrava 27.660 focos de queimada, número maior que em todo o mês de setembro do ano passado (19.925 focos).

Segundo o governo, o aumento da produção no Brasil se dá graças à "inovação tecnológica, sem necessidade de expansão de novas áreas".

O governo brasileiro vem sofrendo forte pressão internacional por causa de sua política ambiental.

Na semana passada, oito países europeus –Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica– enviaram uma carta ao vice-presidente dizendo que o aumento do desmatamento dificulta a compra de produtos brasileiros por consumidores do continente.

A carta se soma a manifestações anteriores como as cartas de investidores estrangeiros e ex-presidentes do Banco Central.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse nesta quarta-feira passada (16) que levará, no final de outubro, embaixadores de países que criticam a política ambiental brasileira para conhecer a Amazônia.

Veja também

Rússia diz ter certeza de que os EUA 'compreenderam' a mensagem após ataque com míssil
GUERRA NA UCRÂNIA

Rússia diz ter certeza de que os EUA 'compreenderam' a mensagem após ataque com míssil

Cientistas desenvolvem tecnologia que transforma calor do corpo em energia para eletrônicos
TECNOLOGIA

Cientistas desenvolvem tecnologia que transforma calor do corpo em energia para eletrônicos

Newsletter