Governo filipino defende liberdade de imprensa após Nobel de Maria Ressa
"É uma vitória para uma filipina, e estamos muito felizes", declarou o porta-voz de Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas
O porta-voz do presidente filipino, Rodrigo Duterte, disse nesta segunda-feira (11) que o fato de a jornalista crítica do governo Maria Ressa ter ganhado o Prêmio Nobel é uma prova de que "a liberdade de imprensa está viva" no país.
A cofundadora do portal de notícias Rappler e o jornalista russo Dmitri Muratov receberam o Prêmio Nobel da Paz na última sexta-feira (8) por seus esforços para "proteger a liberdade de expressão".
Desde que Duterte assumiu o poder, em 2016, Ressa e Rappler foram alvo de várias acusações penais e de investigações que, de acordo com os advogados deste veículo de imprensa, constituem assédio, por parte do Estado, ao trabalho. Entre outras pautas do site, está a cobertura da sangrenta guerra do governo contra o tráfico de drogas.
Leia também
• Vencedora do Nobel da Paz critica ambiente de desinformação no Facebook
• Rússia cerceia repórteres horas após jornalista do país ganhar Nobel da Paz
• Ato pró-governo tem baixa adesão em Brasília, e Bolsonaro culpa imprensa
Duterte já classificou o Rappler de "sucursal de notícias falsas", e Ressa foi vítima de assédio nas redes.
"É uma vitória para uma filipina, e estamos muito felizes", declarou o porta-voz de Duterte, Harry Roque, em entrevista coletiva.
"A liberdade de imprensa está viva, e a prova é o Prêmio Nobel de Maria Ressa", completou Roque.
Veículos da imprensa e grupos de direitos humanos das Filipinas aplaudiram o prêmio, considerando-o um "triunfo", em um país classificado como um dos mais perigosos do mundo para jornalistas.
Ex-jornalista da CNN e autora de "How to Stand Up to a Dictator" ("Como enfrentar um ditador", em tradução livre), Ressa, de 58 anos, está sendo processada em sete casos diferentes.
No momento, encontra-se em liberdade sob fiança. Ela espera a decisão sobre um recurso apresentado por sua defesa, após ser condenada por difamação em junho passado. Se for considerada culpada neste caso, ela corre o risco de ser condenada a uma pena de até seis anos de prisão.
Outros dois casos de difamação on-line foram arquivados há alguns meses.
Ainda assim, o porta-voz de Duterte rejeitou a ideia de que Ressa seja um problema para o governo, insistindo em que "ninguém nunca foi censurado nas Filipinas".
"Maria Ressa ainda tem de limpar seu nome nos nossos tribunais", completou Roque, que a chamou de "criminosa condenada".
Escudo
Em declarações à AFP no sábado (9), Ressa disse confiar em que o prêmio será uma espécie de escudo protetor para ela e para outros jornalistas filipinos, que sofrem ataques físicos e cyberbullying.
"Esse 'nós contra eles' não foi criado por jornalistas. Foi criado pelas pessoas que estão no poder, que estão comprometidas com uma forma de governar que divide a sociedade", afirmou, descrevendo o prêmio como uma "dose de adrenalina".
"Espero que permita que os jornalistas façam bem seu trabalho, sem medo", acrescentou.
Durante anos, Maria Ressa destacou a violência que acompanha a campanha antidrogas iniciada por Duterte. Segundo organizações de direitos humanos, esta política já deixou dezenas de milhares de mortos. Em setembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI) autorizou sua investigação.
O Rappler é um dos meios de comunicação que publicam imagens hediondas dos assassinatos e questionam seu embasamento jurídico.
Outros veículos pagaram caro pela cobertura desta política, como a rádio ABS-CBN, que perdeu sua licença no ano passado.
Maria Ressa acredita, no entanto, que a independência do Rappler permite que se defenda.
"Não temos outras empresas para proteger, então é fácil para nós nos defendermos", explicou.