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DIPLOMACIA

Governo Lula quer discutir situação de imigrantes com EUA, mas sem fazer alarde

Reunião com encarregado da Embaixada dos EUA foi considerada 'positiva' por interlocutores

Brasileiros deportados dos EUA passam pela sala de embarque do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, AmazonasBrasileiros deportados dos EUA passam pela sala de embarque do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, Amazonas - Foto: Michel Dantas/AFP

O governo Lula quer conversar com os Estados Unidos sobre imigração e outros assuntos que possam servir de atrito, mas sem fazer alarde. A ordem do presidente é agir com discrição, no estilo "low profile".

A forma como ocorreu o pedido de esclarecimento aos EUA sobre o tratamento dado a brasileiros deportados em Manaus (AM), na última sexta-feira, reforça essa estratégia desenhada pelo Palácio do Planalto e o Itamaraty.

Na tarde de segunda-feira, o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, foi chamado ao Itamaraty para falar sobre o episódio em que os nacionais deportados desceram de uma aeronave enviada pelo governo dos EUA algemados e com correntes nos pés.


Alguns relataram ter sofrido agressões e dificuldades para ir ao banheiro ou se alimentar dentro do avião.

Segundo interlocutores da área diplomática, a reunião trouxe um detalhe importante: a secretária que cuida de EUA no Itamaraty, Maria Luisa Escorel, não esteve envolvida. A ideia foi não dar dimensão política para o tema e restringir o caso à rubrica "comunidades brasileiras no exterior", que tem à frente a embaixadora Márcia Loureiro.

Encontro 'positivo'
Pessoas a par do assunto comentaram que a reunião entre Loureiro e Escobar foi positiva. De forma geral, nos últimos três anos não havia problemas nos voos trazendo brasileiros. O que aconteceu em Manaus teria sido considerado um ponto fora da curva.

Diante disso, a expectativa é que o presidente Luiz Inácio Lula tenha uma participação cuidadosa na reunião de emergência convocada pela Comunidade Latino-Americana e Caribenha (Celac), nesta quinta-feira.

O exemplo da Colômbia, que teve que recuar na decisão de não receber aviões militares colombianos deportados ao ser ameaçado com sobretaxas por Donald Trump, é visto como um erro que não pode ser repetido.

Interlocutores do governo Lula afirmam que, apesar da personalidade do novo presidente americano, o objetivo da diplomacia brasileira é manter os contatos de alto nível que haviam na gestão de Joe Biden. Não é o momento de o Brasil se unir a grupos de países, pois qualquer tido de negociação com os americanos precisam ser no âmbito bilateral, para que os interesses nacionais sejam defendidos.

Diplomacia
O Globo ouviu três ex-embaixadores do Brasil nos Estados Unidos: Rubens Ricupero, Roberto Abdenur e Rubens Barbosa. Todos recomendam cautela e o exercício da diplomacia, sem impulsividade.

— No momento, o Brasil deve continuar com sua política externa normal, sem demonstração de pânico, nem de preocupação excessiva — afirma Ricupero.

Ele elogiou a postura do Itamaraty. Era preciso pedir esclarecimento sobre o tratamento dado aos brasileiros antes de qualquer reação mais efusiva.

— Não é hora de se precipitar — ressalta.

Roberto Abdenur se diz pessimista sobre como será a relação entre Trump e Lula. Ele lembra que, este ano, o Brasil preside o Brics, que tem membros como China, Irã e Cuba.

— O melhor caminho a ser seguido é o bilateral.

Rubens Barbosa avalia que o momento é de pragmatismo.

— Viu o recado de Trump para os vizinhos latino americanos com as medidas contra a Colômbia? O mundo mudou.

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