Governo Lula quer discutir situação de imigrantes com EUA, mas sem fazer alarde
Reunião com encarregado da Embaixada dos EUA foi considerada 'positiva' por interlocutores
O governo Lula quer conversar com os Estados Unidos sobre imigração e outros assuntos que possam servir de atrito, mas sem fazer alarde. A ordem do presidente é agir com discrição, no estilo "low profile".
A forma como ocorreu o pedido de esclarecimento aos EUA sobre o tratamento dado a brasileiros deportados em Manaus (AM), na última sexta-feira, reforça essa estratégia desenhada pelo Palácio do Planalto e o Itamaraty.
Na tarde de segunda-feira, o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, foi chamado ao Itamaraty para falar sobre o episódio em que os nacionais deportados desceram de uma aeronave enviada pelo governo dos EUA algemados e com correntes nos pés.
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Alguns relataram ter sofrido agressões e dificuldades para ir ao banheiro ou se alimentar dentro do avião.
Segundo interlocutores da área diplomática, a reunião trouxe um detalhe importante: a secretária que cuida de EUA no Itamaraty, Maria Luisa Escorel, não esteve envolvida. A ideia foi não dar dimensão política para o tema e restringir o caso à rubrica "comunidades brasileiras no exterior", que tem à frente a embaixadora Márcia Loureiro.
Encontro 'positivo'
Pessoas a par do assunto comentaram que a reunião entre Loureiro e Escobar foi positiva. De forma geral, nos últimos três anos não havia problemas nos voos trazendo brasileiros. O que aconteceu em Manaus teria sido considerado um ponto fora da curva.
Diante disso, a expectativa é que o presidente Luiz Inácio Lula tenha uma participação cuidadosa na reunião de emergência convocada pela Comunidade Latino-Americana e Caribenha (Celac), nesta quinta-feira.
O exemplo da Colômbia, que teve que recuar na decisão de não receber aviões militares colombianos deportados ao ser ameaçado com sobretaxas por Donald Trump, é visto como um erro que não pode ser repetido.
Interlocutores do governo Lula afirmam que, apesar da personalidade do novo presidente americano, o objetivo da diplomacia brasileira é manter os contatos de alto nível que haviam na gestão de Joe Biden. Não é o momento de o Brasil se unir a grupos de países, pois qualquer tido de negociação com os americanos precisam ser no âmbito bilateral, para que os interesses nacionais sejam defendidos.
Diplomacia
O Globo ouviu três ex-embaixadores do Brasil nos Estados Unidos: Rubens Ricupero, Roberto Abdenur e Rubens Barbosa. Todos recomendam cautela e o exercício da diplomacia, sem impulsividade.
— No momento, o Brasil deve continuar com sua política externa normal, sem demonstração de pânico, nem de preocupação excessiva — afirma Ricupero.
Ele elogiou a postura do Itamaraty. Era preciso pedir esclarecimento sobre o tratamento dado aos brasileiros antes de qualquer reação mais efusiva.
— Não é hora de se precipitar — ressalta.
Roberto Abdenur se diz pessimista sobre como será a relação entre Trump e Lula. Ele lembra que, este ano, o Brasil preside o Brics, que tem membros como China, Irã e Cuba.
— O melhor caminho a ser seguido é o bilateral.
Rubens Barbosa avalia que o momento é de pragmatismo.
— Viu o recado de Trump para os vizinhos latino americanos com as medidas contra a Colômbia? O mundo mudou.