Governo peruano denuncia tentativa de derrubar presidente por cirurgia no nariz
Boluarte está há meses no fio da navalha por um escândalo que envolve relógios de luxo
O governo do Peru denunciou, nesta quarta-feira (4), tentativas de "romper a ordem constitucional" mediante um potencial processo de impeachment da presidente Dina Boluarte ao alegar que ela não delegou suas funções ao se ausentar por uma cirurgia no nariz.
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"Lamentamos que alguns pretendam desestabilizar o nosso país, quebrando a ordem constitucional, forçando figuras de vacância" presidencial, disse o chefe de gabinete ministerial, Gustavo Adrianzén, em coletiva de imprensa.
"Rejeitamos categoricamente qualquer afirmação que nos pretenda fazer acreditar que ela deixou o comando da Nação [...] Ela sempre esteve à frente do Poder Executivo" durante a operação, acrescentou o alto funcionário em meio a uma intensa polêmica.
A cirurgia de Boluarte, de 62 anos, era a conversa diária nas redes sociais e na imprensa local desde julho de 2023, mas foi recém confirmada quando seu ex-chefe de gabinete Alberto Otárola a revelou perante uma comissão do Congresso.
"Me disse que ia fazer uma rinoplas... uma intervenção no nariz, mas por problemas de respiração", disse Otárola aos parlamentares que averiguam o caso.
"Não houve nenhuma ausência de poder nesse momento, porque o procedimento cirúrgico não teve maiores complicações", acrescentou Otárola, a quem Boluarte destituiu em março.
A revelação trouxe de volta ao primeiro plano a possibilidade de um processo de impeachment, por uma suposta infração constitucional.
A presidente, que carece de bancada própria e tem uma desaprovação de quase 95% nas pesquisas, aludiu indiretamente ao debate nesta quarta quando afirmou que "deixará o Palácio pela porta da frente", quando concluir seu mandato em julho de 2026.
Segundo alguns parlamentares e juristas, Boluarte teria cometido uma infração constitucional, passível de ser submetida a um processo de destituição ou vacância de acordo com a Constituição.
"Seria caso de vacância [...] porque a presidente deveria ter pedido permissão ao Congresso", declarou a jornalistas o legislador Juan Burgos, chefe da comissão de fiscalização que ouviu Otárola na terça-feira.
Boluarte está há meses no fio da navalha por um escândalo que envolve relógios de luxo e a coloca na mira do Ministério Público, e pelo massacre de 50 civis na repressão aos protestos quando assumiu o poder em 2022.