Logo Folha de Pernambuco

frança

Greve contra reforma da previdência na França põe Macron à prova

O governo quer adiar a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos

Presidente da França, Emmanuel MacronPresidente da França, Emmanuel Macron - Foto: Julien de Rosa / AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, põe à prova na quinta-feira (17) seu impulso reformista na França, que se prepara para um dia infernal, com uma importante greve contra a proposta de adiamento da idade da aposentadoria para 64 anos.

O governo quer adiá-la de 62 para 64 anos e antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos para se ter direito a uma pensão completa, duas medidas que aglutinam o repúdio da opinião pública.

Mais de seis em cada dez pessoas são contrárias, segundo pesquisa da OpinionWay, publicada nesta terça-feira (17). Sessenta e um por cento dos consultados consideram "necessária" uma reforma, mas não esta, e 58% apoiam os protestos.

"O nível de apoio à mobilização é importante, acima da média [...] Tudo vai depender da dinâmica do movimento e a batalha que nos espera é incerta", disse o vice-presidente da empresa de pesquisas, Bruno Jeanbart, ao jornal Les Échos.

O presidente da segunda economia da União Europeia (UE) fez desta reforma um eixo-chave de seu segundo mandato, sobretudo quando a Covid-19 o obrigou a congelar uma primeira tentativa, no início de 2020.

Mas Macron, que na quinta-feira estará em Barcelona em uma cúpula franco-espanhola, deixou à frente do governo sua primeira-ministra, Élisabeth Borne, que nesta terça defendeu "um projeto de justiça" e "progresso".

"[Macron] tem razão de não estar na linha de frente", disse à AFP Frédéric Dabi, do instituto de pesquisas Ifop, que acedita que, se "houver uma exasperação terrível", ele poderá intervir mais adiante.

"Tudo acontece como se os franceses tivessem compreendido que o governo não vai poder ceder porque Macron está arriscando o seu mandato", acrescentou o analista.

"Quinta-feira infernal"
Os oito principais sindicatos esperam  "milhões" de grevistas e manifestantes. "Há anos não vemos mobilização semelhante", disse à rádio RFI o secretário-geral do Force Ouvrière (FO), Frédéric Souillot.

A última grande mobilização sindical ocorreu em 2010, quando o governo do conservador Nicolas Sarkozy propôs e aprovou adiar a idade da aposentadoria de 60 para 62 anos.

O governo defende que a reforma é necessária para equilibrar o caixa das pensões diante de um déficit crescente em um contexto de aumento da expectativa de vida.

À frente das mobilizações em 2019 e 2020, os trabalhadores do setor dos transportes vão aderir em grande número à greve: poucos trens de alta velocidade vão circular e quase nenhum trem regional, informou a companhia SNCF.

Em Paris, o transporte público, chave para a vida econômica da cidade, vai operar com lentidão: três linhas vão fechar e outras dez vão funcionar parcialmente, segundo a empresa RATP.

"Será uma quinta-feira infernal", advertiu em declarações ao canal France 2 o ministro dos Transportes, Clément Beaune, pedindo a quem puder para trabalhar remotamente.

Assim, muitos terão que combinar o trabalho com o cuidado com os filhos. Setenta por cento dos professores do ensino fundamental também farão greve na quinta-feira, anunciou o sindicato Snuipp-FSU.

As autoridades pediram também que as companhias aéreas cancelem 20% de seus voos no aeroporto parisiense de Orly por uma paralisação dos controladores.

O setor da energia se anuncia chave com uma redução da produção de eletricidade e paralisações em depósitos e refinarias, despertando o temor de escassez de combustível como ocorreu em outubro.

26 de março, data limite
O dia de mobilização ocorre quatro dias antes de o conselho de ministros aprovar a reforma. Seu trâmite legislativo, a partir do fim de janeiro, será acompanhado de novas paralisações.

Para garantir sua aprovação, a situação, que perdeu a maioria absoluta em junho, multiplicou nas últimas semanas os debates com o partido opositor de direita Os Republicanos (LR), favorável a uma reforma.

No entanto, o governo tem um ás na manga. Para evitar a obstrução parlamentar, anunciada pela oposição de esquerda, poderia recorrer ao procedimento do artigo 47.1, que limita o prazo do debate a 50 dias.

Se as duas Câmaras do Parlamento não votarem a reforma até 26 de março, o governo poderia aprová-la por decreto, segundo fontes governamentais, correndo o risco de aumentar a imagem de autoritário de Macron.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter