Situação grave

Gripe aviária mata 10% da população de espécie de pinguim no Chile, que lida com surto

País reforça medidas para proteger animais marinhos em meio à disseminação da doença entre aves e mamíferos

Pinguim-de-humboldtPinguim-de-humboldt - Foto: Pixabay

Nas areias brancas da Ilha Damas, no Norte do Chile, onde os turistas costumavam se divertir observando sua rica fauna, hoje apenas brigadas sanitárias vestidas com roupas de biossegurança são vistas em busca de animais mortos.

O medo da gripe aviária causada pelo Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) (H5N1) obrigou ao fechamento da Reserva Nacional Pinguim-de-Humboldt, na região de Coquimbo, onde fica a Ilha Damas e que abriga 56% dos casais reprodutores dessa espécie de pinguim endêmica no Chile e no Peru.

Como resultado da atual crise da gripe aviária, 10% da população de pinguim-de-humboldt no Chile morreu este ano, segundo o Serviço Nacional de Pesca (Sernapesca).

“O pinguim-de-humboldt está em uma categoria de conservação vulnerável e provavelmente depois desta estará em outra categoria, muito mais em risco”, alerta Gerardo Cerda, gerente regional de conservação e biodiversidade de Sernapesca.

Há seis meses, equipes do Serviço Agropecuário (SAG), da Empresa Nacional de Florestas (Conaf) e de Sernapesca redobram os esforços para evitar a propagação da doença na reserva, onde também há lobos-marinhos, petréis e corvos-marinhos guanay. Patrulhas percorrem esta ilha recolhendo cadáveres para evitar a propagação da doença.

Crise sem precedentes
No total, no Chile, o vírus H5N1 já afetou cinquenta espécies, incluindo pelicanos, lontras-do-mar e gaivotas. Um homem de 53 anos foi infectado e deu entrada em um hospital em estado grave.

Mais de 1,3 mil pinguins-de-humboldt e oito mil indivíduos de outras espécies marinhas, principalmente leões-marinhos, morreram de gripe aviária. A disseminação inédita entre mamíferos tem alertado especialistas.

“Os 1.300 (casos registrados) são provavelmente menos do que o número real” de pinguins mortos, disse Gerardo Cerda, de Sernapesca em Coquimbo, e explicou que “existem setores com falésias, onde os espécimes podem encalhar e não serem vistos”.

Além disso, desde dezembro, o SAG encontrou mais de 38 mil aves silvestres mortas. Após uma última patrulha, os oficiais retornaram com 25 carcaças de urubus-de-cabeça-vermelha, gaivotas e corvos-marinhos, mas nenhum pinguim.

“Tem sido angustiante ver como essas aves começam a morrer ou a ficar doentes (...) Nunca tivemos essa crise”, disse Pablo Arrospide, administrador da reserva.

Mortalidade de leões-marinhos
Na costa da Ilha Damas, o corpo de um leão-marinho se decompõe sob uma rocha, dificultando a retirada do cadáver. O Chile abriga 40% da população mundial dessa espécie, com cerca de 200 mil espécimes.

Em 13 das 16 regiões do país foram detectados lobos-marinhos mortos, mamíferos que não tinham sido acometidos anteriormente por esta doença. Até agora neste ano, o número é quase o dobro do número acumulado por diferentes causas nos últimos 14 anos.

Em uma praia da cidade de La Serena, também na região de Coquimbo, um filhote de leão-marinho se aproxima da costa. O pessoal da Sernapesca tenta capturá-lo, mas o animal consegue fugir. Um sinal de bom presságio segundo os oficiais, que dias antes sacrificaram um espécime que estava paralisado à beira-mar.

Vacinas
Alguns países, como China, Egito e Vietnã, organizaram campanhas de vacinação contra a gripe aviária, o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita ser uma boa medida para reduzir o número de casos e reduzir o risco para os humanos.

Mas seu uso ainda é voltado principalmente para aves e traz alguns riscos. Quando não há uma boa estratégia de vacinação, ela pode “induzir o vírus a evoluir e gerar diferenças que escapam às vacinas”, disse à AFP Christopher Hamilton-West, especialista em epidemiologia veterinária da Universidade do Chile.

As vacinas - que não estão sendo usadas no Chile - não curam os animais infectados e apenas retardam a propagação do vírus, acrescenta o especialista.

Embora não haja evidências de que essa doença seja transmitida entre humanos, "ela afetou outros mamíferos, está a um passo de sofrer mutações e afetar diretamente as pessoas", alerta Muriel Ramírez, epidemiologista da Universidade Católica do Norte.

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