Gripe aviária: Ministério da Saúde lança plano de contingência e se prepara para possíveis casos
Pasta diz que mantém diálogo com Instituto Butantan sobre vacina em testes
O Ministério da Saúde lançou um plano para se preparar para a possibilidade de a gripe aviária provocar uma nova crise sanitária.
Chamado de Plano de Contingência Nacional do Setor Saúde para Influenza Aviária, o documento estabelece as responsabilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal e define estratégias de organização para o caso precise enfrentar emergências relacionadas à doença.
Em comunicado, a pasta explica que as ações preveem atividades integradas de vigilância epidemiológica, diagnóstico laboratorial, assistência e comunicação em saúde.
Embora destaque que nenhum caso tenha sido registrado no Brasil, o objetivo é “garantir uma resposta coordenada e eficaz a possíveis surtos da doença”. É o que explica a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério, Ethel Maciel:
"As emergências sanitárias exigem respostas rápidas e coordenadas. Por isso, é fundamental iniciar antecipadamente a preparação para doenças com potencial pandêmico, com uma definição clara das ações necessárias em diferentes cenários, de forma a fortalecer a capacidade do SUS, em todas as suas instâncias, para identificar possíveis ameaças e promover oportunamente as medidas necessárias para proteger a saúde da população”.
Marcelo Gomes, coordenador-geral de Vigilância da Covid-19, Influenza e Outros Vírus Respiratórios da pasta, acrescenta que o plano vai desde “ações de rotina até medidas necessárias frente à ocorrência de casos de influenza aviária no país, estabelecendo os diferentes níveis de emergência e as ações para proteção da saúde da nossa população.
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No ano passado, o Ministério da Saúde já havia publicado o Guia de Vigilância da Influenza Aviária em Humanos, que detalha as diretrizes para o monitoramento de pessoas expostas a animais suspeitos ou confirmados com gripe aviária.
A pasta diz ainda que “monitora e avalia permanentemente as evidências científicas mais atuais sobre o tema em nível internacional, assim como a situação atual das vacinas contra Influenza aviária, de forma a subsidiar as recomendações e ações necessárias no território brasileiro”.
O Instituto Butantan, em São Paulo, tem um imunizante que aguarda aval da Anvisa para entrar nos testes clínicos com humanos. Em entrevista ao GLOBO, o diretor do instituto, Esper Kallás, disse que a expectativa é receber a aprovação para dar início aos estudos no ano que vem:
Os centros de pesquisa já foram selecionados para recrutar os participantes. Já tivemos algumas conversas preliminares com o Ministério da Saúde, que se sensibilizou para avançarmos nessa discussão. Tendo a plataforma aprovada, podemos adaptar para a versão do vírus que esteja circulando naquele momento. A ideia é ter pelo menos uma quantidade mínima disponível para caso o vírus comece a se disseminar entre humanos.
A pasta da Saúde destaca que não há hoje uma dose aprovada pela Anvisa.
“Ainda assim, o Ministério da Saúde já consultou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em busca de possíveis fornecedores, caso uma aquisição seja necessária, e mantém diálogo com o Instituto Butantan, que possui vacina em estudo de fase 2, e poderá fornecer a vacina para o SUS no futuro”.
Risco de uma nova pandemia
O risco de uma nova crise sanitária causada pela gripe aviária H5N1 aumentou neste mês após os Estados Unidos registrarem o primeiro caso grave em humanos.
O vírus tem se expandido e provocado um surto sem precedentes entre vacas leiteiras e trabalhadores rurais no país. A origem provável da contaminação do paciente, que está hospitalizado, foi o contato com aves doentes. Com ele, já são mais de 60 pessoas infectadas desde abril pela exposição a animais.
Considerado o atual epicentro do H5N1, os EUA registraram ainda 10,8 mil aves selvagens infectadas e 123 milhões de aves para criação, em granjas de 50 estados. Entre as vacas leiteiras, após o registro inédito da doença na espécie, em março, já são 865 rebanhos afetados em 16 estados americanos.
O cenário levou Gavin Newsom, governador da Califórnia, que concentra mais da metade dos casos em humanos, a decretar estado de emergência.
Ele afirmou que objetivo é “garantir que as agências governamentais tenham os recursos e a flexibilidade necessários para responder rapidamente a esse surto”, embora tenha ponderado que o risco para a população geral “permanece baixo”.
A gripe aviária diz respeito a um conjunto de cepas do Influenza que circula principalmente entre aves. A cepa H5N1 surgiu ainda em 1996, com os primeiros surtos em animais e humanos no ano seguinte.
Desde 2021, no entanto, novas mutações têm levado o H5N1 a se expandir entre aves e de forma inédita entre espécies de mamíferos, como leões-marinhos e vacas, além de para novas regiões do planeta. No Brasil, por exemplo, foi identificado pela primeira vez em aves silvestres no ano passado.
Embora os casos humanos esporádicos aconteçam há um tempo, não há registro de disseminação entre pessoas – o que é o grande temor dos especialistas porque elevaria consideravelmente o risco de uma nova pandemia.
Isso porque segundo os dados da Organização Mundial de Saúde ( OMS), de 2003 a 2023 foram registrados 878 casos humanos de H5N1, dos quais 458 morreram: uma taxa de letalidade de 52%.