Gripe aviária: vacina tem uso emergencial aprovado nos EUA para espécie ameaçada de extinção
Mais de 20 condores-da-Califórnia morreram desde março devido ao vírus; existem menos de 600 aves no mundo
O Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal (APHIS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) concedeu uma aprovação de emergência a uma vacina contra a gripe aviária para uso em condores-da-Califórnia. O sinal verde ocorre depois que mais de 20 aves da espécie, criticamente ameaçada de extinção, morreram recentemente infectadas pelo vírus, conhecido como H5N1.
Em todo o mundo, existem menos de 600 condores-da-Califórnia, uma grande ave nativa da América do Norte que pode chegar a quase 3 metros. A aprovação de emergência é “uma tentativa de evitar mortes adicionais dessas aves”, disse o APHIS, em nota.
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Ainda não está claro quando os condores-da-Califórnia começarão a ser vacinados, mas o esforço começará com aves em cativeiro, diz o Carlos Sanchez, veterinário-chefe do Zoológico de Oregon, nos EUA, que tem um programa de criação de condores e planeja vacinar algumas de suas aves.
Os animais serão monitorados de perto para garantir que o imunizante seja seguro e eficaz. “Mas, como você pode imaginar, tudo isso precisa acontecer rápido para não perdermos mais pássaros”, acrescenta o especialista.
No entanto, o APHIS destaca que serão testados neste mês as doses em urubus antes de elas serem destinadas aos condores. "A vacina autorizada é um produto morto e inativado licenciado condicionalmente pelo Centro de Biológicos Veterinários da APHIS em 2016. Como a vacina não foi testada anteriormente contra essa cepa do vírus nessas espécies, o primeiro passo no programa de vacinação é um piloto de segurança estudo em urubus norte-americanos, espécie semelhante, para investigar se há algum efeito adverso antes de aplicar a vacina aos condores ameaçados de extinção".
Por que é importante?
O vírus da gripe aviária foi detectado pela primeira vez em um condor-da-Califórnia encontrado morto no final de março. Desde então, mais 20 animais morreram, e quatro estão atualmente em instalações de reabilitação, de acordo com a agência federal americana. O vírus foi confirmado em ao menos 15 dessas aves.
Os condores parecem ser “altamente suscetíveis” ao vírus, afirma Sanchez. “Uma vez que eles são contaminados”, diz, “eles tendem a ter alta mortalidade”.
Isso é um problema ainda maior já que a população de condores-da-Califórnia caiu vertiginosamente durante o século passado. Nos anos 1980, eram menos de 30 aves no mundo. Nas décadas seguintes, porém, os programas de reprodução em cativeiro ajudaram a recuperar a população.
Se o vírus entrar em mais populações de condores, pode apagar esse progresso, afirma Sanchez. — Estamos falando de um possível colapso catastrófico do projeto de conservação.
Uma nova versão de uma velha ameaça
O vírus H5N1 foi detectado pela primeira vez na China em 1996. Desde então, várias versões do vírus circularam em aves selvagens e causaram repetidos surtos em aves domésticas.
Uma nova versão do vírus chegou à América do Norte no final de 2021. Desde então, ele se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos, causando o maior surto de gripe aviária da história do país e resultando na morte de quase 60 milhões de aves de criação.
Também afetou muito mais as aves selvagens do que os surtos anteriores. O vírus foi detectado em mais de 6,7 mil pássaros selvagens – um número certamente subestimado – em todos os estados, exceto no Havaí, e resultou em mortandade em massa de pássaros selvagens em todo o mundo.
Ele também se espalhou repetidamente para mamíferos e causou um pequeno número de infecções humanas, geralmente em pessoas que tiveram contato próximo com pássaros.
Porém, o patógeno se adapta melhor às aves e a ameaça ao público em geral permanece baixa, dizem as autoridades. Mas os cientistas há muito se preocupam com a possibilidade de o vírus evoluir de uma maneira que o ajude a se espalhar facilmente entre as pessoas.
Autoridades consideram uma campanha mais ampla de vacinação de aves
A vacina foi autorizada para uso emergencial apenas em condores-da-Califórnia. O pequeno tamanho da população existente permitirá que o programa de vacinação seja monitorado de perto, disse o serviço dos EUA.
Mas o tamanho e o escopo do surto atual levam as autoridades a considerar uma campanha de vacinação em massa de aves. Os cientistas do USDA têm testado inúmeras vacinas potenciais para aves e disseram que alguns resultados podem estar disponíveis a partir de setembro.
Até lá, o país pode ter mais surtos de animais nas próximas semanas, à medida que as aves selvagens infectadas migram para o Norte no verão (inverno no Brasil).