SAÚDE

Gripe aviária: vírus em homem no Chile tem mutações genéticas com sinais de adaptação a mamíferos

Porém, é improvável que essas mudanças sejam suficientes para permitir que o vírus se espalhe facilmente entre os humanos, disseram especialistas

Funcionário do governo da Indonésia examina frangos em granja no país, em busca de sinais da gripe aviária Funcionário do governo da Indonésia examina frangos em granja no país, em busca de sinais da gripe aviária  - Foto: CHAIDEER MAHYUDDIN/AFP

A análise da amostra do vírus da gripe aviária que infectou um homem no Chile, no mês passado, identificou duas mutações genéticas que são sinais de adaptação a mamíferos, disseram autoridades dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) na última sexta-feira.

Em estudos experimentais com animais, as mutações, ambas no que é chamado de gene PB2, mostraram ajudar o vírus a se replicar melhor em células de mamíferos. O risco para a população, porém, permanece baixo, disseram autoridades de saúde, e nenhum caso humano adicional foi relacionado ao chileno, que permanece hospitalizado.

Além disso, faltavam na amostra outras mudanças genéticas críticas que os cientistas acreditam serem necessárias para o vírus, conhecido como H5N1, se espalhar eficientemente entre humanos, incluindo mudanças que estabilizariam o vírus e o ajudariam a se ligar mais fortemente às células humanas.

— Existem três grandes categorias de mudanças que achamos que o H5 deve sofrer para deixar de ser um vírus aviário para ser um vírus humano", diz Richard J. Webby, um especialista em gripe aviária no St. Jude Children's Research Hospital, nos EUA. — As sequências da pessoa no Chile têm uma dessas classes de mudanças. Mas também sabemos que desses três conjuntos de mudanças, este é o mais fácil para o vírus fazer.
 

Mutações PB2 foram encontradas em outros mamíferos infectados com esta versão do vírus, bem como em algumas pessoas infectadas com outras versões do H5N1. As mutações provavelmente surgiram no paciente chileno ao longo de sua infecção, disseram especialistas.

— Entendemos que eles são um passo no caminho da adaptação aos humanos e aumentam o risco para os humanos — pondera Anice C. Lowen, virologista de influenza da Emory University, também nos EUA. — Então certamente é preocupante vê-los.

Mas essas mutações sozinhas provavelmente não são suficientes para produzir um vírus que se espalha facilmente entre os humanos, acrescenta. “Essas mudanças genéticas foram observadas anteriormente em infecções anteriores por H5N1 e não resultaram na disseminação entre as pessoas”, lembra Vivien Dugan, diretora interina da divisão de gripe do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias do CDC, em um comunicado.

“No entanto, é importante continuar a observar cuidadosamente todos os casos de infecção humana, bem como outros eventos de propagação em mamíferos, e acompanhar a evolução viral nas aves”, diz. “Precisamos permanecer atentos às mudanças que tornariam esses vírus mais perigosos para as pessoas”.

A amostra foi sequenciada pelo Centro Nacional da Gripe no Chile e carregada no GISAID, um banco de dados internacional de genomas virais, disseram autoridades do CDC. O Ministério da Saúde do Chile relatou o caso à Organização Mundial da Saúde (OMS) em 29 de março.

O paciente, um homem de 53 anos, desenvolveu sintomas respiratórios, incluindo tosse e dor de garganta, e foi hospitalizado quando seu estado piorou, segundo a organização. A investigação sobre o caso continua, e como o homem foi infectado ainda não está claro. Mas o vírus havia sido detectado recentemente em aves e leões-marinhos na região onde o homem vive.

“De acordo com os resultados preliminares da investigação epidemiológica local, a hipótese mais plausível sobre a transmissão é que ela ocorreu por exposição ambiental a áreas onde aves ou mamíferos marinhos doentes ou mortos foram encontrados perto da residência do caso”, informou a OMS na semana passada.

É o 11º caso humano relatado de H5N1 desde janeiro de 2022, de acordo com o CDC, nenhum dos quais foi associado à transmissão de humano para humano. Desde que o H5N1 foi detectado pela primeira vez em aves, em 1996, houve centenas de infecções humanas em todo o mundo, principalmente em pessoas que estiveram em contato próximo com aves.

Ainda assim, os especialistas há muito se preocupam com a possibilidade de que a gripe aviária, que é bem adaptada às aves, possa evoluir para se espalhar mais facilmente entre os humanos, potencialmente desencadeando outra pandemia. Um surto de H5N1 em uma fazenda de visões espanhóis no outono passado sugere que o vírus é capaz de se adaptar para se espalhar de forma mais eficiente entre pelo menos alguns mamíferos. E toda infecção humana dá ao vírus mais oportunidades de se adaptar.

As mutações documentadas no paciente chileno são um “passo na direção errada”, disse o Dr. Lowen. Esta versão do vírus se espalhou rapidamente por meio de aves selvagens nas Américas, provocando surtos regulares em aves de criação. O vírus tornou-se tão difundido em aves que se espalhou repetidamente para mamíferos, e “infecções humanas esporádicas contínuas são esperadas”, escreveu o CDC em um relatório técnico recente.

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