Grupo que reivindicou assassinato de Villavicencio disputa controle de drogas com outras facções
Por muitos anos, Los Choneros, braço do Cartel de Sinaloa no Equador, foi considerada a facção dominante no país, mas morte de seu líder deixou o caminho aberto para outros grupos
O assassinato do candidato presidencial do Equador, Fernando Villavicencio, foi reivindicado pela facção criminosa Los Lobos, apontada pelo observatório InSight Crime como o segundo maior grupo criminoso do país, com mais de 8 mil membros distribuídos nas prisões equatorianas. Nos últimos anos, o grupo esteve envolvido em vários massacres sangrentos em prisões no Equador, que deixaram mais de 315 presos mortos só em 2021, e atua principalmente com tráfico de drogas e mineração ilegal. Em maio de 2022, a facção foi responsável por uma rebelião que deixou 43 mortos em um presídio de Santo Domingo.
Outra organização criminosa, Los Choneros, já havia ameaçado o candidato. Por muitos anos, Los Choneros, braço do Cartel de Sinaloa no Equador, foi considerada a facção dominante no país, mas o fim de sua hegemonia — em 2020, com a morte de seu líder Jorge Luis Zambrano, conhecido como "Rasquiña" — deixou o caminho aberto para Los Lobos assumirem o controle de uma poderosa federação de gangues, incluindo Los Tiguerones e Los Chone Killers, e competir pelo controle das prisões no Equador e pelo tráfico de drogas. Nos últimos meses, Los Lobos também se tornou muito ativa na indústria de mineração ilegal.
Desde 2016, Los Lobos e seus aliados fornecem armas e segurança para o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG), que luta pelo controle das rotas de cocaína no Equador. Estes se autodenominam coletivamente como a Nova Geração. Em fevereiro de 2021, a Nova Geração coordenou ataques contra os líderes regionais dos Los Choneros, tendo como alvo dois potenciais sucessores. Ambos conseguiram sair vivos, mas as disputas deixaram 80 presos mortos.
Analistas apontam três fatores cruciais para o aumento da violência no país: o desmonte de importantes estruturas de segurança a partir de 2017; a crise econômica que se agravou na pandemia; e a reconfiguração das rotas de narcotráfico na região, que colocou o Equador como um dos protagonistas no refino de drogas. Além disso, a dolarização da economia, adotada em 2000, juntamente com os fracos controles financeiros, tornaram o país um local ideal para a lavagem de dinheiro do tráfico.
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Do ponto de vista político, o desmonte de áreas estratégicas no combate à violência explica em parte o aumento sem precedentes das taxas de homicídio no Equador, que passaram de 5,6 por 100 mil habitantes em 2017, ano em que o ex-presidente Lenín Moreno tomou posse, para 20 homicídios por 100 mil habitantes no ano passado. Isso aproxima o país do Brasil, que, com uma taxa de homicídios de 22,3 por 100 mil habitantes em 2021, é o segundo país mais violento da América do Sul, depois da Venezuela (taxa de 40,9 por 100 mil em 2021, segundo o Observatório Venezuelano da Violência).
A escalada de violência atual começou em 2021. Em setembro daquele ano, 119 presos morreram em motins em prisões quando membros de Los Choneros e Los Lobos se enfrentaram em uma prisão em Guayaquil. Nesse mesmo ano, as autoridades apreenderam centenas de armas de grosso calibre em penitenciárias controladas por grupos criminosos, sugerindo que havia um fluxo crescente de armas para o Equador que acabavam nas prisões.
Após vários dias de tumultos, que deixaram 68 presos mortos em novembro de 2021, as autoridades equatorianas apontaram o envolvimento de cartéis mexicanos na violência desenfreada nas prisões do país. As autoridades alegam que o Cartel de Sinaloa, no México, que apóia Los Choneros, e o CJNG, do lado da Nova Geração, entregaram armas e apoio aos grupos equatorianos.
A onda de violência não parou ao longo de 2022, com um confronto sangrento entre Los Lobos e uma gangue menor, conhecida como R7. Em maio, 44 foram mortos em um massacre na prisão de Bellavista, perto de Quito. Alexánder Quesada, vulgo "Ariel", líder de Los Lobos, ordenou o ataque ao líder da quadrilha rival do R7, Marcelo Anchundia.
O presidente Guillermo Lasso, com baixa popularidade desde a pandemia, reagiu à onda de violência com uma série de decretos de estados de exceção, medida que têm um alcance apenas pontual. Em maio, com desaprovação de quase 80%, anunciou uma medida extrema: usando um mecanismo constitucional conhecido como "morte cruzada", o presidente dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições, que acontecem no dia 20.