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AÇÃO

Guatemala bloqueia com violência caravana migrante, que registra casos de Covid-19

Forças de segurança da Guatemala bloquearam com gás lacrimogêneo e cassetetes, milhares de migrantes hondurenhos que buscavam chegar aos EUA a pé

Os migrantes foram repelidos por policiais e soldados em uma estrada na cidade de Vado HondoOs migrantes foram repelidos por policiais e soldados em uma estrada na cidade de Vado Hondo - Foto: Johan Ordonez/AFP

As forças de segurança da Guatemala bloquearam, no domingo (17), com gás lacrimogêneo e cassetetes, milhares de migrantes hondurenhos que buscavam chegar aos Estados Unidos a pé, cumprindo uma ordem do governo para evitar a disseminação da Covid-19, já detectada em vários integrantes da caravana.

Os migrantes foram repelidos por policiais e soldados em uma estrada na cidade de Vado Hondo, no departamento de Chiquimula. A localidade faz fronteira com Honduras, cujo governo protestou contra a violência contra seus cidadãos.

O Ministério das Relações Exteriores de Honduras pediu à Guatemala "que investigue e esclareça as ações" de suas forças de segurança e exortou o país vizinho a enfrentar a migração irregular "unida como região".

A Guatemala já havia reclamado que Honduras não conteve a caravana que invadiu a fronteira de forma desordenada entre sexta-feira e sábado.

"Isso é demais (a atitude da polícia). Viemos de forma humilde. Não estamos fazendo mal a ninguém", disse à AFP a hondurenha Marisol Domínguez, de 35 anos. Ela viaja com o marido, fugindo da situação econômica crítica em seu país, agravada pela passagem desastrosa dos furacões Eta e Iota em novembro último.

Desde a noite de sábado, cerca de 6 mil migrantes estão bloqueados em Vado Hondo, um ponto estratégico a menos de 50 km da fronteira. É difícil continuar o trajeto por outro lado, devido à geografia do lugar.

O cerco de Giammattei
A ordem das forças de segurança é evitar a passagem, devido ao risco de contágio da Covid-19, conforme um acordo do presidente Alejandro Giammattei, que autoriza o uso da força para conter o êxodo.

Quinhentos militares permanecem em Vado Hondo, parte dos 5 mil homens mobilizados pelas forças de ordem para conter a caravana, disse a jornalistas o coronel Rubén Tellez, porta-voz do Exército.

A porta-voz do Ministério da Saúde, Julia Barrera, informou que, até o momento, 21 pessoas do grupo que passaram pelos postos de controle de saúde foram detectadas com o novo coronavírus e devem ser colocadas em quarentena na Guatemala antes de retornar voltarem para seu país.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), entidade autônoma da Organização dos Estados Americanos (OEA), e ativistas locais expressaram sua "preocupação" pela contenção violenta da caravana e pediram ao governo guatemalteco que "garanta o princípio de adequação e de progressividade da força nas ações e nos controles de imigração".

Os migrantes hondurenhos afirmam que buscam escapar da violência, pobreza, desemprego e falta de educação e saúde em seu país, problemas crônicos agravados pela pandemia da Covid-19.

A caravana também é animada pela esperança de um possível relaxamento das políticas de imigração nos Estados Unidos, quando o presidente eleito, Joe Biden, tomar posse em 20 de janeiro.

O comissário interino do Escritório de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP), Mark A. Morgan, já os advertiu, alertando sobre "uma viagem mortal".

"Não desperdicem seu tempo e dinheiro e não arrisquem sua segurança e saúde", afirmou.

"Não têm coração"
Dixón Vázquez, de 29 anos, um hondurenho de La Lima, no departamento de Cortés, implorou às autoridades guatemaltecas que os deixassem continuar. 

"Eles não têm coração. Estamos arriscando nossas vidas, não há trabalho em Honduras", afirmou.

Enquanto isso, os jovens noivos Víctor Clemente, de 19 anos, e Gisela Orellana, de 16, decidiram deixar San Pedro Sula, no norte de Honduras, porque metade da região foi afetada pelas tempestades e pela pandemia.

Casados há apenas seis meses, eles querem chegar "ao norte", porque "não têm nada o que fazer" em sua terra natal, contou Víctor.

O diretor-geral de Migração da Guatemala, Guillermo Díaz, declarou, em um vídeo divulgado pela entidade, que os migrantes não passarão. Quem quiser, deve fazer o cruzamento legal, com documentos, e apresentar teste negativo de coronavírus.

Ele assegurou que, após os incidentes em Vado Hondo, os serviços de "Inteligência" institucional detectaram que "elementos infiltrados de maras (gangues) de Honduras e do crime organizado" estão marchando no grupo.

Até o momento, pelo menos 1.383 pessoas da caravana foram devolvidas para Honduras, incluindo 192 crianças.

A maior parte do grupo partiu na madrugada da última sexta-feira (15) da rodoviária de San Pedro Sula. Este é um ponto de partida usual para caravanas de migrantes com destino aos Estados Unidos, de onde milhares de pessoas saíram desde outubro de 2018. Muitos foram frustrados pela intensificação da fiscalização.

Se esta caravana conseguir percorrer 450 km, ou 664 km, pela Guatemala, dependendo da rota que escolherem, tentará entrar no México pela passagem de Tecún Umán, no sudoeste. O governo mexicano já blindou sua fronteira.

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