Guerra da Síria: Quem são as forças rebeldes que enfrentam o regime de Bashar al-Assad
Hayet Tahirir al Sham (HTS), organização com origem na al-Qaeda do Iraque, liderou ataque contra posições do governo e renovou conflito que parecia adormecido há anos
Após anos de estagnação, a guerra da Síria voltou a registrar combates de alta intensidade na semana passada, quando forças rebeldes jihadistas lançaram uma ofensiva contra territórios dominados pelo regime de Basha al-Assad no norte e no centro do país. Embora tenha contado com a participação de grupos menores, o Hayet Tahirir al Sham (HTS) foi apontado como principal responsável pelo ataque.
O Hayet Tahirir al Sham — ou Assembleia para a Libertação do Levante — é um grupo jihadista fundado em 2011 como um braço da al-Qaeda do Iraque na Síria, grupo precursor do Estado Islâmico. O atual comandante de grupo e fundador, Abu Muhammad al-Jawlani, foi incumbido por Abu Bakr al-Baghdadi — que chefiou o Estado Islâmico, e foi morto por forças americanas em 2019 — de criar células da organização no país, segundo a CIA.
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O embrião da organização operou inicialmente sob o nome de Jabhat al-Nusra, ainda como um braço da al-Qaeda do Iraque, sendo apontado pela rede britânica BBC como uma das organizações mais mortais na luta contra o governo sírio. Por uma série de dissidências ideológicas e disputas de poder, al-Jawlani rompeu com a al-Qaeda em meados de 2013, atuando de forma independente por alguns anos, a partir de 2016, o mesmo grupo passa por um processo de expansão, arregimentando e fundindo-se com organizações menores, passando a operar sob o nome de Hayet Tahirir al Sham em 2017.
O HTS é considerado uma organização terrorista tanto pelo governo de Assad e seus aliados, incluindo a Rússia, quanto pelos Estados Unidos e pela ONU. De acordo com informações divulgadas pela CIA, a organização tem como objetivos unificar os grupos jihadistas anti-Assad sob uma mesma bandeira, consolidar o poder sobre a região de Idlib e substituir o governo nacional por um Estado teocrático de orientação islâmica sunita.
Além do comando-geral de al-Jawlani, o HTS tem um conselho consultivo chamado Majlis-Ash-Shura, que auxilia nas tomadas de decisão do grupo. Na frente militar, a estimativa de fontes de inteligência dos EUA indicam que contam com algo em torno de 7 a 12 mil homens, incluindo células semi-independentes. A unidade de elite é conhecida como "Red Bands", que já operavam com ataques contra posições além do front antes mesmo da última ofensiva.
A relação com outros grupos islâmicos é marcada por controvérsias. Ao mesmo tempo que fontes americanas destacaram que durante os ataques da semana passada, o HTS teria operado ao lado de grupos menores por meio de uma estrutura que está sendo chamada de Comando de Operações Militares — uma espécie de coalizão para coordenar as ações no campo de batalha —, os combatentes se envolveram anteriormente em combates contra grupos jihadistas como o Hurras al-Din, ligado à al-Qaeda, e o próprio Estado Islâmico (EI).
Os grupos jihadistas também mantém uma relação de oposição aos grupos curdos, que também lutam contra as forças governistas, com combates registrados entre eles. Porém, as informações vindas de Aleppo indicam que, ao menos em neste momento inicial de ofensiva, os territórios curdos foram respeitados na segunda maior cidade da Síria.