ORIENTE MÉDIO

Guerra Israel-Hamas dispara desinformação nas redes

Desde que começou a guerra entre Israel e o Hamas, surgiu nas redes sociais o termo "Pallywood", um nome depreciativo que mistura "Palestina" e "Hollywood"

Fronteira de Israel com a Faixa de GazaFronteira de Israel com a Faixa de Gaza - Foto: Fadel Senna/AFP

Vários meses depois de receber alta do hospital, com uma perna amputada, Mohammed Zendiq descobriu sua fotografia circulando nas redes sociais como vítima da guerra em curso entre Israel e o Hamas, o que alimentou a desinformação.

Cada lado tenta demonizar o outro, ou ganhar a empatia dos usuários da Internet com imagens muitas vezes manipuladas, ou descontextualizadas.

No caso de Zendiq, um palestino de 16 anos, um vídeo antigo que o mostrava em um leito de hospital reapareceu nas redes, alegando que se tratava de um blogueiro palestino que informava sobre os bombardeios israelenses em Gaza. Outras publicações chegaram a afirmar que o blogueiro fingiu seus danos, porque há imagens que o mostram depois pouco comprovado ileso.

Um blogueiro palestino se curou "milagrosamente" em um dia de um "bombardeio israelense", escreveu um influenciador israelense em uma mensagem visualizada milhões de vezes na rede social X.

Mas as pessoas que aparecem nas imagens não são as mesmas, reveladas verificações da AFP por meio de pesquisas reversões de imagens e palavras-chave.

Essa manipulação rendeu ao jovem amputado uma avalanche de comentários de ódio.

“Temo pela vida do meu filho”, disse seu pai, Yusef Isam Fandqah, de 50 anos, à AFP. “Pode ser assassinado por essa mentira”, acrescentou.

"Madeira compensada"
Acusar falsamente as pessoas de fingirem o seu sofrimento se tornou "uma das táticas de desinformação mais previsíveis" num contexto de crise, afirma Mike Caulfield, especialista em desinformação on-line do Center for an Informed Public, da Universidade de Washington.

Desde que começou a guerra entre Israel e o Hamas, surgiu nas redes sociais o termo “Pallywood”, um nome depreciativo que mistura “Palestina” e “Hollywood”.

"Essa tendência apareceu desde os primeiros dias da guerra, com um vídeo que revelou um suposto 'set' de filmagem, alegando que os palestinos estavam 'fabricando' danos ali", disse Yotam Frost, do órgão israelense de controle da desinformação FakeReporter.

Ele acrescenta que também há desinformação para difamar os israelenses.

Várias contas oficiais israelenses na rede social X, inclusive de embaixadas, afirmaram, falsamente, que um vídeo de um garoto palestino morto mostrava, na verdade, uma boneca embrulhada em um pano.

Também houve imagens de um protesto no Egito em 2013 e de um curso de preparação para um funeral na Malásia que foram apresentadas como sendo de palestinos encenando a própria morte.

Essas histórias "com frequência pegam o pior momento da vida de um pai, ou casal, a perda de um ente querido, e o transformam em um circo. É cruel e é uma exploração", diz Caulfield.

Depois de mais de um mês de guerra, os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza deixaram 11.240 mortos, a maioria civis, incluindo 4.630 crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Do lado israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram, segundo as autoridades, a grande maioria delas civis morreram em 7 de outubro, dia do ataque do Hamas a Israel.

“Acreditamos que estas mortes são encenadas, nops tornamos mais insensíveis, ou céticos, em relação às atrocidades da guerra”, alerta Alessandro Accorsi, analista do International Crisis Group.

Além deste aspecto “muito desumanizador”, as manipulações têm como objetivo “semear dúvidas sobre as mortes de civis em geral e reunir apoio para mais violência e ataques”, completa.

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