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Conflito

Guerra na Ucrânia atrapalha fornecimento de gás russo e empurra Finlândia para Otan

Finlândia abandonará neutralidade que mantém desde a Guerra Fria e apresentará pedido formal de adesão à Otan

Gás russo GazpromGás russo Gazprom - Foto: Natalia Kolesnikova / AFP

O fornecimento de gás russo para a Europa foi alterado novamente, nesta quinta-feira (12), pela guerra na Ucrânia, que, além disso, levou a Finlândia a considerar sua adesão à Otan, mesmo diante das advertências de Moscou.

Em Genebra, na Suíça, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou iniciar uma investigação sobre as atrocidades atribuídas às tropas russas, que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro. A decisão foi adotada por ampla maioria, em sessão boicotada pela Rússia.

A Finlândia, que compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia, fez, por sua vez, uma mudança radical em sua política de neutralidade vigente desde a Guerra Fria e apresentará formalmente no domingo (15) o pedido de adesão à Otan, a aliança militar transatlântica liderada pelos Estados Unidos. 

"Ser membro da Otan reforçaria a segurança da Finlândia", afirmaram o presidente e a primeira-ministra do país nórdico em um comunicado conjunto. 

O Kremlin, por outro lado, advertiu de imediato que a entrada da Finlândia na aliança seria, "sem dúvida", uma ameaça para a Rússia. 

O presidente russo, Vladimir Putin, havia justificado, em parte, a invasão da Ucrânia por uma suposta ameaça da Otan, que se expandiu para o leste depois da Guerra Fria

O secretário-geral da aliança, o norueguês Jens Stoltenberg, disse que o pedido de adesão da Finlândia "seria recebido calorosamente na Otan, e que o processo de adesão seria fluido e rápido".

Outro país nórdico, a Suécia, também planeja enviar um pedido de adesão à aliança militar nos próximos dias. 

Nova queda no fornecimento de gás
Por outro lado, as tensões geopolíticas também estão repercutindo nas questões energéticas.

A gigante do gás russo Gazprom anunciou que estava deixando de usar um importante gasoduto polonês, o Yamal-Europa, para seus envios à Europa por causa das sanções ocidentais impostas por sua ofensiva na Ucrânia. 

A Gazprom também afirmou que o trânsito de gás russo para a Europa via Ucrânia foi reduzido em um terço nesta quinta-feira, e culpou a empresa responsável pelo oleoduto na Ucrânia, que, por sua vez, acusa a Rússia pela queda no fornecimento.

A forte dependência energética da União Europeia (UE) com a Rússia impede, por ora, que as sanções contra Moscou incluam as importações de petróleo e gás.

"É preciso desligar o oxigênio energético da Rússia, é particularmente importante para a Europa", disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em uma entrevista coletiva em Berlim. 

Kuleba também voltou a pedir a adesão de seu país à União Europeia. "Ouvimos muitas vezes que a Ucrânia pertence à família europeia e agora é importante reservar o seu lugar" no bloco, declarou o ministro à televisão alemã.

A Ucrânia solicitou sua adesão à UE em 28 de fevereiro, mas alguns países-membros ainda estão reticentes em aceitá-la.

Novos ataques russos
Na frente de batalha, os combates continuam e já passaram várias semanas sem que houvesse qualquer menção a possíveis negociações de paz.

O exército russo continua sua ofensiva no Donbass (leste), ganhando terreno na região de Luhansk com a intenção, segundo a Presidência ucraniana, de tomar "o controle total" das cidades de Rubizhne e Severodonetsk.

Na região de Chernihiv (nordeste), três pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas na madrugada desta quinta, em um ataque contra uma escola em Novgorod-Siversky, segundo a defesa civil local.

Esse não é o primeiro ataque contra uma escola, lembrou a ONU. "Esses ataques devem cessar", disse Omar Abdi, um alto funcionário do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em reunião do Conselho de Segurança. 

Em Mariupol (sudeste), as tropas ucranianas entrincheiradas na siderúrgica de Azovstal se recusam a se render, apesar dos bombardeios contínuos da Rússia. 

A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, afirmou que negociações "difíceis" estavam acontecendo para evacuar 38 soldados ucranianos gravemente feridos do local.

Mais de 6 milhões de ucranianos já fugiram do país e mais de 8 milhões se transformaram em deslocados internos desde o início do conflito, segundo a Organização Internacional de Migrações (OIM).

Investigação da ONU
O Conselho de Direitos Humanos da ONU votou - com 33 votos a favor, dois contra (China e Eritreia) e 12 abstenções - para investigar as acusações de atrocidades cometidas pelas tropas russas na Ucrânia. 

A resolução vai se concentrar nas denúncias de atrocidades nas regiões de Kiev, Chernihiv, Kharkiv e Sumy, que teriam ocorrido entre o fim de fevereiro e março de 2022.

"Milhares de pessoas do meu país perderam suas vidas. Os bombardeios e os disparos russos são parte de nossa vida cotidiana", declarou a vice-ministra principal de Relações Exteriores da Ucrânia, Emine Dzhaparova, na abertura da sessão.

Autoridades ucranianas e testemunhas consultados pela AFP acusaram, nesta mesma quinta-feira, as forças russas de disparar com um tanque contra uma casa em uma vila perto de Kharkiv, no leste da Ucrânia, matando vários civis.

Segundo o Ministério Público da região, que faz fronteira com a Rússia, os fatos ocorreram em 27 de março no vilarejo de Stepanki, então ocupado pelas forças russas.

As denúncias de atrocidades também estão sendo investigadas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e pela Justiça ucraniana.

Os promotores ucranianos receberam relatos de mais de 10.000 supostos crimes e identificaram 622 suspeitos. 

Além disso, muitos deslocados reportaram atos de tortura e de violência sexual por parte das tropas russas.

O primeiro desses julgamentos começará em breve, contra um soldado russo de 21 anos, acusado de atirar contra um ciclista ucraniano desarmado.

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