Guerra na Ucrânia domina a reunião de cúpula da Otan
A Aliança também sairá com dois novos membros: Finlândia e Suécia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discursará nesta quarta-feira na reunião de cúpula da Otan em Madri, um evento dominado pela invasão russa de seu país e do qual a Aliança sairá com dois novos membros, Finlândia e Suécia.
"Se o presidente russo Vladimir Putin esperava ter menos Otan no flanco leste como resultado de sua invasão ilegal e injustificável da Ucrânia, estava totalmente equivocado: terá mais Otan", disse o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
A incorporação da Finlândia, e seus 1.300 km de fronteira terrestre com a Rússia, fará com que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mais do que dobre seus limites territoriais com este país.
Desta maneira, a Rússia terá fronteira com seis integrantes da Aliança: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia - os dois últimos pelo enclave de Kaliningrado - e Noruega.
O acesso de Finlândia e Suécia à organização será possível depois que a Turquia retirou seu veto - a entrada de novos integrantes é decidida por unanimidade.
O governo turco era contrário à adesão por acusar Suécia e Finlândia de abrigar militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização considerada "terrorista" por Ancara.
Leia também
• Esquema de segurança máxima em Madri para cúpula da Otan
• Otan aumentará para mais de 300 mil sua força de alta prontidão
• Esperança de adesão rápida à Otan diminui para Suécia e Finlândia
Um dia após retirar o veto, a Turquia anunciou nesta quarta-feira que solicitará à Finlândia e Suécia a extradição de 33 pessoas suspeitas de "terrorismo".
"No âmbito do novo acordo, vamos pedir à Finlândia que extradite seis membros do PKK e seis membros do Fetö, e à Suécia que extradite 10 membros do Fetö e 11 membros do PKK", disse o ministro turco da Justiça, Bekir Bozdag.
Fetö é a sigla para o movimento fundado pelo pregador Fethullah Gülen, que mora nos Estados Unidos e é considerado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan o instigador da tentativa de golpe de julho de 2016.
Também nesta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que seu país reforçará o contingente da Otan na Europa por "terra, ar e mar".
Biden afirmou que a presença militar americana será ampliada na Espanha, Polônia, Romênia, nos Estados bálticos, no Reino Unido, Alemanha e Itália.
"Ao lado de nossos aliados vamos garantir que a Otan esteja preparada para enfrentar ameaças procedentes de todas as direções em todos os domínios", disse Biden.
"No momento em que Putin quebrou a paz na Europa e atacou os princípios da ordem baseada em regras, os Estados Unidos e os aliados vão fortalecer sua posição".
"Estamos provando que a Otan é mais necessária agora do que nunca e é importante como sempre foi". acrescentou.
Reunião "transformadora"
O secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, declarou que a reunião de cúpula em Madri será "histórica e transformadora", marcada pelo desafio russo.
"Nos reunimos em meio à crise de segurança mais séria que enfrentamos desde a Segunda Guerra Mundial", afirmou Stoltenberg.
A Aliança criada em 1949 iniciará a maior reforma de sua capacidade de defesa e dissuasão desde o fim da Guerra Fria, fortalecendo suas tropas na região leste da Europa e aumentando consideravelmente suas tropas de alta disponibilidade nas imediações da Rússia.
Zelensky discursará por videoconferência e deve insistir na demanda por mais ajuda militar, com equipamentos modernos, para enfrentar a Rússia, dois dias após o bombardeio de um shopping na cidade de Kremenchuk que deixou 18 mortos, dezenas de feridos e muitos desaparecidos, segundo Kiev.
A Rússia negou o ataque contra um centro comercial e afirmou que a guerra só acabará com a rendição incondicional da Ucrânia.
De acordo com o balanço das últimas 24 horas de guerra divulgado pelas autoridades ucranianas, sete pessoas morreram e 14 ficaram feridas em três ataques.
Mais ajuda para a Ucrânia
Os membros da Otan, que já enviaram bilhões de dólares em ajuda a Kiev, devem anunciar em Madri um "programa de assistência completo para a Ucrânia para ajudar o país a fazer valer seu direito à legítima defesa", prometeu Stoltenberg.
Além disso, a Noruega anunciou nesta quarta-feira o envio de três baterias de lança-foguetes de longo alcance MLRS. Na terça-feira, os ministros da Defesa da Holanda e da Alemanha anunciaram a entrega de seis obuses adicionais.
Além disso, a organização voltará o olhar pela primeira vez ao desafio provocado pela força da China, na atualização de seu Conceito Estratégico, seu manual de ação e prioridades.
"A China não é uma adversária", afirmou Stoltenberg.
"Mas, claro, temos que levar em consideração as consequências para nossa segurança quando vemos que a China investe muito em poder militar moderno, mísseis de longo alcance ou armas nucleares, e também tenta controlar infraestruturas estratégicas, como por exemplo o 5G", disse, a respeito da rede de telefonia de última geração.
Reflexo da evolução da Otan, Coreia do Sul e Japão participam pela primeira vez de uma reunião da organização.