Há 25 anos, criança foi morta por leões em circo em Jaboatão dos Guararapes
Miguelzinho, de apenas seis anos, estava no picadeiro com o pai e a irmã celebrando seu aniversário
Nesta quarta-feira (9), faz 25 anos de uma tragédia que comoveu o Grande Recife. Em 9 de abril de 2000, o menino José Miguel dos Santos Fonseca Júnior, conhecido como Miguelzinho, de apenas seis anos, foi morto por leões durante uma apresentação no Circo Vostok, armado no Shopping Guararapes, em Piedade, na cidade de Jaboatão dos Guararapes.
À época, a família do garoto resolveu presenteá-lo em seu aniversário com a ida ao circo. Ele esteve acompanhado do pai e da irmã, de apenas três anos. Após um intervalo entre as apresentações, por volta das 19h, os organizadores convidaram os pais e as crianças para uma sessão de fotos com cavalos e pôneis no lado de fora do picadeiro. Vinte minutos depois, pouco antes do recomeço do espetáculo, Miguel Júnior foi abocanhado por um leão.
Dentro da jaula, o animal prendeu o garoto com as garras e o arrastou pelo tronco. Miguel chegou a pedir socorro ao pai, mas nada pôde ser feito. Os cinco leões que estavam dentro da jaula passaram a morder várias partes do corpo do menino, que não resistiu aos ferimentos.
"O povo do circo ficava olhando para a minha cara, ninguém fazia nada, e o meu filho lá, sendo devorado pela fera. Meu Deus, por quê", questionou José Miguel, pai de Mieguelzinho, momentos depois do ocorrido.
Em meio ao acontecido, a polícia que fazia a segurança do local matou quatro dos cinco leões. Em um primeiro momento, os agentes da Polícia Militar atiraram e mataram dois dos animais. Uma hora mais tarde, os outros dois foram mortos depois de arrebentarem a jaula onde estavam e tentarem devorar o corpo do menino.
No dia da tragédia, um dos sócios do circo, Luís Vostok, chegou a afirmar que não houve negligência por parte da organização do espetáculo e que o picadeiro seguiria funcionando no Shopping Guararapes ao longo dos dois meses do contrato. Dois dias depois, no entanto, Alexandre Vostok, outro proprietário do circo, assumiu a responsabilidade pelo ocorrido: "o único culpado sou eu", falou na ocasião. Ainda segundo o dono do picadeiro, ele não trabalharia mais com animais selvagens. "Vamos ficar apenas com cães, cavalos e coelhos".
Durante o sepultamento de Miguelzinho, centenas de pessoas se aglomeraram junto ao túmulo. A mãe do garoto, Maria da Conceição, que era separada de José Miguel, pai do menino, desabafou próximo ao caixão do filho. A mulher de 27 estava grávida de oito meses e havia sido socorrida no dia anterior ao enterro, em duas oportunidades, sentindo contrações. "É um filho chegando e outro partindo".
O episódio com Miguel Júnior deu início à uma discussão sobre a forma como animais de circo são tratados. Por conta do ocorrido, Pernambuco se tornou o primeiro estado do Brasil a proibir shows do gênero. Em outros 11 estados da federação, a prática também é tratada como crime, apesar de ainda não existir uma lei federal para regulamentar a questão: Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
A discussão sobre a presença dos animais nos picadeiros segue em aberto. Desde 2003, o projeto de lei 7291/2006 está em trâmite no Senado, mas sem previsão para algo concreto. No dia a dia, ONGs e ativistas de direito animal tentam interromper esta prática.