"Há indícios de retrocessos na liberdade das mulheres na Síria', diz embaixador do Brasil no país
Diplomatas brasileiras que integraram comboio que transportou os representantes do Brasil de Damasco até Beirute, nesta segunda, foram questionadas por milícias locais por não cobrirem seus cabelos
Quando o comboio que levou o embaixador do Brasil, André Santos, e todos os diplomatas brasileiros que servem em Damasco para Beirute foi abordado por uma milícia armada síria, na última segunda-feira, o grupo questionou o fato de as mulheres presentes não estarem com os cabelos cobertos. A cena reflete o que Santos teme que seja um sinal de que o novo governo da Síria, liderado por grupos rebeldes, possa trazer retrocessos na liberdade das mulheres.
— O membro da milícia que se aproximou fez comentários insinuantes sobre as mulheres, sobre o fato de que não estavam com os cabelos cobertos — contou o embaixador ao Globo, por telefone, de Beirute.
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Na opinião de Santos, “há indícios claros” de possíveis retrocessos.
— Para eles [os grupos que assumiram o poder na Síria], retrocesso é a mulher se expor e não cobrir o cabelo, ou querer trabalhar em atividades que são vista como de homens. Mas para a grande maioria da população síria [exigências como a de cobrir os cabelos] será visto como um retrocesso — afirma o embaixador.
Vídeo: Túmulo do pai de Bashar al-Assad é incendiado por rebeldes na Síria
Nesta quarta-feira, o novo primeiro-ministro transitório da Síria, Mohamad al-Bashir, prometeu que a coalizão liderada pelos rebeldes que depôs o ditador Bashar al-Assad “ garantiria” os direitos de todos os grupos religiosos que vivem no país.
Em meio a temores da comunidade internacional, Bashir admitiu, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, que “o comportamento errado de alguns grupos islâmicos” fizeram com que “o significado do Islã [...] fosse distorcido”, mas disse que fará diferente:
— Justamente por sermos islâmicos, garantiremos os direitos de toda a população e de todas as religiões na Síria — afirmou Bashir, que lidera um governo de transição até 1º de março.
A aliança rebelde que pôs fim a mais de meio século de poder do clã Assad na Síria no domingo é liderada pelo grupo Hayet Tahrir al-Sham (HTS), um antigo ramo sírio da rede terrorista al-Qaeda. O movimento afirma ter rompido com o jihadismo, mas permanece na lista de “terroristas” de vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.