Hábitos do inverno podem aumentar contágio da Covid-19
Ambientes mais fechados e aglomerações favorecem transmissão do novo coronavírus
As baixas temperaturas e o tempo seco, comuns no inverno, fazem com que as pessoas frequentem locais com pouca ventilação e fiquem aglomeradas. Esses hábitos facilitam a disseminação de vírus, como o novo coronavírus. Luiz Gustavo Góes, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e da plataforma Científica Pasteur-USP, explica que vírus respiratórios, em geral, tendem a circular mais em períodos frios. Isso pode estar relacionado a fatores como incidência solar, temperatura e umidade, mas ainda não se sabe o funcionamento exato ou a "condição ideal" para que o vírus se prolifere. "A sazonalidade é um fator importante, mas não é delimitadora para surtos ou epidemias em si", diz Góes.
Apesar dessa tendência, isso não significa que lugares quentes estejam protegidos. O pesquisador exemplifica com o que aconteceu na cidade de Manaus (AM), onde houve um grande surto da Covid-19 mesmo com o clima quente e úmido. Por outro lado, "existe uma chance de aumentar [o contágio] devido o comportamento da população", complementa Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Ele explica que em períodos mais frios, as pessoas costumam ficar em ambientes pouco ventilados e com mais aglomerações, o que facilita a proliferação.
Michelle Zicker, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, afirma que o tempo seco também afeta o organismo das pessoas. Neste período, as mucosas respiratórias ficam mais sensíveis e a secreção mais espessa. Isso propicia que vírus, bactérias e partículas de poluição fiquem mais tempo em contato com o corpo, aumentando as chances de contaminação. Quando as mucosas estão umedecidas, o organismo consegue eliminar os agentes externos com mais facilidade. Para isso, vale lavar o nariz com soro fisiológico e umidificar o ambiente com uma toalha molhada no quarto, por exemplo. "Isso contribui para reduzir sintomas que podem ocorrer apenas pelo tempo seco", acrescenta Zicker.
Os infectologistas explicam que o novo coronavírus causa sintomas semelhantes a outras infecções respiratórias como dor no corpo, febre e tosse. Weissmann e Zicker ressaltam que caso a febre passe de 24 horas, haja mal-estar ou desconfortos respiratórios, como falta de ar e cansaço extremo a esforços que eram habituais, é importante procurar atendimento médico.
Prevenção no inverno não muda
As formas de prevenção contra o novo coronavírus nesta época do ano não são diferentes das orientações anteriores. A infectologista Michelle Zicker reforça que este não é o momento para relaxar nos cuidados. Ela, o pesquisador Luiz Gustavo Góes e o infectologista Leonardo Weissmann recomendam evitar aglomerações, respeitar o distanciamento social, utilizar máscara, higienizar as mãos com frequência, evitar tocar o rosto, seguir a etiqueta respiratória (cobrir nariz e boca com braço dobrado ou lenço descartável ao tossir e espirrar), manter os ambientes ventilados e, se possível, carregar álcool em gel na bolsa. Além disso, é importante manter a hidratação e alimentação correta.
Apesar de não haver uma vacina contra o novo coronavírus, eles destacam que é muito importante se proteger de outros vírus que também são frequentes nesta época do ano, como o influenza, que é o causador da gripe. Na cidade de São Paulo, a campanha de vacinação foi prorrogada até o dia 24 de julho. Além disso, Goés recomenda que todos que tiverem algum sintoma, como febre ou dor de cabeça, evitem sair ao máximo. Ele explica que apesar de assintomáticos e pré-sintomáticos poderem transmitir a Covid-19, quando as pessoas que apresentam sintomas não estão na rua, as taxas de transmissão da doença diminuem.
Como a transmissão ocorre?
O novo coronavírus é transmitido pela secreção respiratória. Ou seja, gotículas de saliva que saem quando alguém fala, espirra ou tosse. Gotículas maiores tendem a ser puxadas pela gravidade e depositadas em superfícies, como o chão ou uma mesa. Apesar de ficarem pouco tempo suspensas e atingirem pequenas distâncias, elas também podem contaminar pelo ar. Em climas quentes, esta partícula seca e o vírus perdem a infectividade. Ao mesmo tempo, se a umidade é elevada, ele se liga a partículas de água e é depositado em algum local. Já quando o clima está seco, o vírus consegue permanecer mais tempo no ar. Lembre: fatores como umidade, temperatura e incidência solar variam muito. Não há respostas definitivas sobre a "condição ideal" para o vírus se proliferar. O novo coronavírus é recente e há diversos estudos sendo feitos.
Como o tempo seco afeta o organismo
O inverno do sudeste é caracterizado pelo frio e tempo mais seco. A tendência é que haja mais poluição do ar. Neste clima, as mucosas respiratórias ficam mais sensíveis e a secreção tende a ficar mais espessa, afetando o mecanismo de defesa do corpo. Pois assim, as partículas de poluição, vírus e bactérias tendem a ficar mais tempo em contato com o corpo. Quando a mucosa está umedecida, é mais fácil eliminá-las. Umidificar as mucosas nasais, com soro fisiológico por exemplo, reduz sintomas que podem ocorrer apenas por causa do tempo seco. Este cenário favorece a incidência de outras doenças respiratórias como bronquite e asma.
Como se prevenir?
Fique informado sobre os riscos, evite aglomerações e, caso precise sair, procure horários que tenham menos pessoas nas ruas e use máscara sempre. Siga o distanciamento social, mantenha aos mãos higienizadas e evite tocar o rosto. Caso apresente sintomas, fique em isolamento, cumpra etiqueta respiratória (ao tossir ou espirrar, cubra nariz e boca com braço dobrado ou lenço descartável). É importante manter os ambientes ventilados, manter a hidratação em dia e uma alimentação saudável.