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Hanseníase, uma doença negligenciada

Causada pelo bacilo "Mycobacterium leprae", esta doença transmissível ataca a pele e os nervos periféricos, com sequelas potencialmente graves

Sede da Organização Mundial da Saúde (OMS)Sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) - Foto: Fabrice Coffrini / AFP

Apesar dos tratamentos existentes, a hanseníase continua infectando milhares de pessoas a cada ano, em particular nos países pobres, e embora pesquisas existam pesquisas, poucos laboratórios dedicam recursos à doença.

A hanseníase, uma patologia considerada vergonhosa por muitos, tem o triste privilégio de ser uma das 20 enfermidades tropicais que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera negligenciadas.

Em 2022 foram detectados quase 216 mil casos em todo o mundo, em particular no Brasil e Índia, segundo a OMS.

A hanseníase persiste como "um problema grave" em 14 países da África, Ásia e América Latina.

Os dados podem ser apenas a ponta do iceberg, afirma o médico Bertrand Cauchoix, especialista na enfermidade da Fundação Raoul Follereau, que tem sede na França.

"Temos conhecimento do número de rastreados, mas não contabilizamos os esquecidos, os não detectados, que podem representar um número muito maior", explica.

A doença, favorecida pela promiscuidade e as condições de vida precárias, tem como particularidade um período de incubação muito prolongado, que pode chegar a duas décadas. E a demora no diagnóstico permite que continue infectando as pessoas próximas.

Há décadas existe um tratamento médico com três antibióticos.

Mas o tratamento pode chegar a 12 meses, o que dificulta o acompanhamento em países sem um sistema de saúde adequado.

"É necessária uma infraestrutura com cuidadores para dispensar os medicamentos, o que exige recursos", afirma Alexandra Aubry, professora de Biologia e especialista na doença do Centro de Imunologia e Doenças Infecciosas (CIMI) de Paris.

Os antibióticos existentes são doados pela fundação do laboratório suíço Novartis, que fabrica os remédios, por meio da OMS.

Bertrand Cauchoix, porém, aponta "um risco de tensões muito grandes" em caso de problemas na linha de produção dos antibióticos.

Em termos gerais, os laboratórios farmacêuticos não se esforçam para produzir novos medicamentos que seriam mais fáceis de administrar.

"Não há doações para a lepra, apenas doações de caridade", lamenta Cauchoix.

A doença é quase inexistente nos países ocidentais e se propaga em um número limitado de pacientes em países que não poderiam pagar caro por novos medicamentos.

Em seu laboratório de pesquisas em Paris, um dos poucos no mundo com capacidade para examinar esta bactéria, Alexandra Aubry avalia a eficácia de cada novo antibiótico que chega ao mercado para tratar outras doenças.

"Tentamos identificar as associações de antibióticos", explica Aubry. "Testamos todas as formas possíveis de simplificar para obter tratamentos mais curtos, como por exemplo uma vez por mês durante seis meses".

Também há projetos de vacinas, cada vez mais raros porque também faltam recursos. "É muito complicado ter financiamento para isto. Para avaliar a eficácia de uma vacina é necessário acompanhar a população vacinada durante 10 ou 15 anos", lembra Aubry.

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