Hanseníase: veja causas, sintomas e tratamento
Doença é causada pela microbactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, e o tratamento é oferecido pelo SUS
A hanseníase é uma doença crônica infecciosa e curável causada pela microbactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen. Ela é transmissível por gotículas de saliva ou secreção nasal depois de um longo período de contato próximo com uma pessoa infectada. Um dos principais sintomas da hanseníase é a alteração da sensibilidade térmica em partes do corpo.
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No Brasil, país com o segundo maior em número de casos, a hanseníase ainda é um grave problema de saúde pública, com mais de 25 mil casos registrados todos os anos.
Quais os sintomas da hanseníase?
Os sintomas mais frequentes da hanseníase são:
Aparição de manchas brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas na pele;
Áreas com alteração da sensibilidade térmica e/ou dolorosa e/ou de tato;
Comprometimento dos nervos periféricos;
Áreas com redução de pelos e suor;
Sensação de formigamento e/ou fisgadas, principalmente nas mãos e nos pés;
Diminuição ou falta de força muscular no rosto, nos pés e nas mãos;
Aparecimento de caroços pelo corpo
A dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Ana Paula Fucci explica que as lesões na pele podem demorar de 3 a 7 anos para serem notadas, porque geralmente são assintomáticas e a doença têm um longo período de incubação. A alteração da sensibilidade térmica, entretanto, está presente desde o início da doença.
Como ocorre a transmissão da hanseníase?
A transmissão ocorre quando uma pessoa na forma infectante da hanseníase e sem tratamento libera o bacilo de Hansen para o exterior por meio de espirro ou tosse, podendo infectar pessoas suscetíveis diante de um contato prolongado. Pacientes com baixa concentração de bacilos têm menos chance de serem vetores da doença.
A dermatologista Ana Paula Fucci explica que a infecção pela hanseníase é prevalente na população de baixa renda “devido às más condições de higiene e moradias insalubres”.
— Por ser uma doença associada a locais com aglomeração, lugares que aumentaram muito a sua capacidade econômica e habitacional, como a Europa, praticamente acabaram com a hanseníase — explica o dermatologista Egon Daxbacher, diretor do departamento de hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro.
Segundo ele, em locais com muito acesso à saúde e alto combate à doença, há prevalência de casos em idosos. Por outro lado, em regiões que registram muitos casos de hanseníase, é possível notar alta de casos em crianças.
O que causa a hanseníase?
A hanseníase se manifesta quando a bactéria Mycobacterium leprae entra no corpo, geralmente por vias respiratórias, e depois se dirige para os nervos mais próximos à pele. No combate à bactéria, o sistema de defesa do corpo acaba danificando os nervos e outras partes do organismo, o que pode gerar o quadro de insensibilidade e de manchas no corpo.
Como é o tratamento para hanseníase?
Todos os casos são curáveis e o tratamento da hanseníase é feito apenas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Depois do diagnóstico pelo exame de baciloscopia, para fazer a contagem de bacilos, o paciente deve fazer tratamento com três antibióticos por seis meses, em caso de concentração de até cinco bacilos, ou 1 ano, se tiver mais de cinco.
Uma vez por mês, o paciente vai ao posto de saúde para tomar os três antibióticos sob a supervisão de um profissional de saúde. Depois, ele continua o tratamento em casa, com a ingestão periódica de dois tipos de antibióticos. O processo se repete até o final do período de medicação.
Em casos mais graves, os especialistas recomendam que haja acompanhamento com fisioterapeuta e terapeuta ocupacional na unidade de saúde onde faz o acompanhamento medicamentoso. Se apresentar complicações somente no tronco nervoso, deve procurar um neurologista.
Depois de começar o tratamento, os bacilos são atacados pelos antibióticos e expelidos das células, mas o sistema imune do corpo reage ao corpo estranho, segundo a pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) Ximena Illarramendi.
Ela explica que, na reação reversa, mais comum, as manchas na pele ficam mais avermelhadas e muito quentes, e pode apresentar febre, mal-estar e pele dolorida. Outra consequência é a inflamação nos nervos, que pode deixar sequelas como mão em garra, úlceras, olhos ressecados e risco de catarata.
Existe prevenção para hanseníase?
Não. Entretanto, especialistas recomendam que a pessoa que convive com alguém infectado tome uma segunda dose da vacina BCG — dada a bebês recém-nascidos nos primeiros dias de vida para prevenir contra casos de meningite por tuberculose.
Segundo eles, a dose extra melhora a imunidade contra a doença. A vacinação não é recomendada para quem é portador da doença e para imunodeprimidos.
Além da vacinação com a BCG, a pesquisadora Ximena Illarramendi explica que outra forma eficaz de prevenção é a vigilância de contatos. Nesse caso, depois da identificação de um caso da doença, são estudadas todas as pessoas que tiveram contato com o paciente. Esse formato esbarra ainda no tabu sobre a doença:
— O paciente não fala que tem hanseníase. Não fala em casa, com os familiares, com as pessoas com quem ele convive. O estigma da lepra, antigo nome da doença, ainda está no imaginário das pessoas, infelizmente. Mas a doença tem cura e não tem nenhum problema se for diagnosticada e tratada precocemente.