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Estados Unidos

Harvard promete 'preservar valores essenciais' ao se adequar à decisão da Suprema Corte

Novo entendimento da justiça americana poderá alterar profundamente os sistemas de admissão e reduzir o acesso de negros e hispânicos às instituições de ensino superior do país

Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.  - Foto: Reprodução/Internet

Em um comunicado dirigido à comunidade acadêmica, o presidente da Universidade de Harvard, Lawrence S. Bacow, prometeu “preservar os valores essenciais” da instituição ao adequar seu sistema de seleção de alunos à decisão da Suprema Corte americana que considerou inconstitucionais os os programas de admissão com base em raça e etnia de Harvard e da Universidade da Carolina do Norte.

Especialistas acreditam que o entendimento aprovado por uma maioria conservadora da Corte vai provocar grandes mudanças nos sistemas de acesso às instituições de ensino americanas, ameaçando a diversidade no acesso à educação e até políticas de ação afirmativa em outros setores da economia americana.

Na mensagem, o presidente de Harvard destacou que o presidente da Suprema Corte, John Roberts, admitiu que as universidades ainda podem levar em conta em seus processos seletivos as cartas de admissão em que os candidatos relatem como questões de raça afetaram suas vidas, embora o magistrado tenha frisado, no entanto, que isso não poderá significar que usem esse processo para manter a mesma política de acesso considerada ilegal pelo tribunal.

“Por quase uma década, Harvard tem defendido vigorosamente um sistema de admissão que, como dois tribunais federais decidiram, estava de acordo com um precedente de longa data. Nas semanas e meses adiante, com o talento e conhecimento de nossa comunidade, vamos determinar como preservar, em concordância com o novo precedente da Corte, nossos valores essenciais”, afirmou.

No texto, o presidente da universidade apontou como princípio fundamental da instituição a ideia de que o ensino, a aprendizagem e a pesquisa, para serem executados com profundidade e capacidade de transformação, precisam de um ambiente acadêmico pautado pela diversidade. “Diversidade e diferença são essenciais para a excelência acadêmica”, afirmou, completando que “Harvard deve ser sempre um lugar de oportunidade, um lugar de portas abertas para os quais estiveram fechadas por um longo tempo”.

Ao prometer acatar a decisão e ao mesmo tempo avaliar como preservar os valores ligados à diversidade, a universidade de Harvard usou um discurso que vai de encontro a percepções de especialistas sobre a imprevisibilidade das consequências do novo precedente legal. A decisão poderá mudar não só a decisão sobre quem entra nos cursos, mas alterar profundamente estratégias estabelecidas há anos para diversificar o perfil da comunidade de alunos, além de impulsionar o abandono de velhos métodos de seleção acusados de priorizarem os mais favorecidos, como os testes de admissão padronizados.

Para entrar em Harvard, por exemplo, outros critérios não acadêmicos que envolvem o processo seletivo, como a prioridade para ex-alunos, para praticantes de esporte e até considerações sobre condição de arcar com os altos custos dos cursos serão mantidos, agora que não se pode mais tentar equilibrá-los com medidas afirmativas? Mesmo antes da decisão, muitas faculdades já abandonaram os testes padronizados e a preferência para filhos de ex-alunos, por exemplo.

Nove estados americanos já proíbem o uso de critérios raciais para basear sistemas de admissão de universidades publicas e a experiência deles dá boas pistas do que pode acontecer daqui para frente, ao redor do país. Em Michigan, por exemplo, depois da proibição entrar em vigor, em 2006, o percentual de estudantes negros na Universidade de Michigan caiu de 7% para 4% em 2021. Um fenômeno similar foi visto na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

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