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Luto

Hebe de Bonafini, líder histórica das "Mães da Praça de Maio", morre aos 93 anos

Morte foi confirmada pela vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner

Hebe de BonafiniHebe de Bonafini - Foto: Juan Mabromata/ AFP

Hebe de Bonafini, a histórica presidente da associação argentina Mães da Praça de Maio, criada durante a ditadura (1976-1983) para descobrir o paradeiro de seus filhos e de outras pessoas presas pelo regime militar, faleceu neste domingo (20), aos 93 anos, confirmou a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner.

"Queridíssima Hebe, Mãe da Praça de Maio, símbolo mundial da luta pelos Direitos Humanos, orgulho da Argentina. Deus te chamou no dia da Soberania Nacional... Não deve ser coincidência. Simplesmente obrigado e até sempre", escreveu Cristina Kirchner no Twitter às 11h locais (mesmo horário em Brasília).

Pouco depois, Alejandra Bonafini, filha da ativista, informou em um comunicado que a mãe havia falecido às 9h20 no Hospital Italiano da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires, onde estava internada há alguns dias. 

"São momentos muito difíceis e de profunda tristeza e compreendemos o amor do povo por Hebe, mas neste momento temos a necessidade de chorar [...] na intimidade", afirmou Bonafini, antes de indicar que, a partir de segunda-feira, serão anunciados os locais para homenagens e atos de recordação.

O presidente Alberto Fernández também se despediu com "profunda dor e respeito da lutadora incansável pelos direitos humanos", em um comunicado, no qual anunciou o decreto de três dias de luto nacional.

"O governo e o povo argentino reconhecem nela um símbolo internacional da busca pela memória, verdade e justiça pelos trinta mil desaparecidos", prosseguiu o texto da Presidência.

"Como fundadora das Mães da Praça de Maio, ela jogou luz na noite escura da ditadura militar e abriu caminho para a recuperação da democracia há quarenta anos", acrescentou a nota.

A organização que ela presidiu informou em nota que "suas cinzas repousarão na Praça de Maio" e que mais detalhes serão divulgados nos próximos dias.

- Condolências -
Em nível internacional, os governos de Venezuela, Cuba, Bolívia e Peru expressaram condolências pelas redes sociais.

"A Pátria Grande honra uma mulher valiosa, lutadora e profundamente revolucionária que hoje, 20Nov, se torna eterna. Grande Hebe de Bonafini! Vai estar para sempre nos corações do povo venezuelano e latino-americano", escreveu no Twitter o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Na mesma plataforma, o presidente eleito do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva manifestou sua "tristeza" com a notícia e destacou que Hebe de Bonafini "ajudou a criar um dos mais importantes movimentos democráticos da América Latina".

O presidente boliviano, Luis Arce, destacou o "grande legado" da ativista. Seu antecessor, Evo Morales, disse que "sua luta incansável e incorruptível contra as ditaduras por memória, verdade e justiça é um exemplo para as novas gerações". 

O presidente peruano, Pedro Castillo, por sua vez, a recordou como uma "mulher obstinada, que lutou incansavelmente pelas causas justas do povo argentino".

Enquanto isso, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, lamentou a morte de uma "grande lutadora e presidente histórica das Mães da Praça de Maio, amiga íntima de #Cuba e da Revolução".

- Perfil controverso -
Com dois filhos e uma nora desaparecidos durante a ditadura, Bonafini foi uma das fundadoras do famoso grupo de mães que, em 1977, começou a se reunir na Praça de Maio, diante da sede de governo em Buenos Aires, para exigir informações sobre o paradeiro de seus filhos.

Com o passar dos meses, elas começaram a se identificar com um lenço branco na cabeça, que rapidamente virou um símbolo da organização.

A luta continuou na democracia, com manifestações e atos que seguiram exigindo verdade e justiça.

Hebe de Bonafini, no entanto, estabeleceu um perfil polêmico ao se tornar uma militante aguerrida do 'kirchnerismo' e ferrenha defensora do casal Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015). 

Em 2017, ela foi processada por suposto desvio de recursos públicos em um projeto de construção de moradias sociais entre 2005 e 2011. 

A ativista considerou a ação uma "manobra" contra seu trabalho por parte do governo de centro-direita de Mauricio Macri (2015-2019), que ela considerava um "inimigo".

O processo judicial se encontra paralisado.

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