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SAÚDE

HIV: prevenção com comprimidos reduz em 48% novos casos em São Paulo nos últimos cinco anos

Adesão à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) cresce pelo país e chega a 100 mil usuários, com 1 a cada 4 na capital paulista

Adesão à PrEP cresce no Brasil; infecções pelo HIV caemAdesão à PrEP cresce no Brasil; infecções pelo HIV caem - Foto: Ministério da Saúde

O Brasil chegou a marca de 100 mil usuários da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), o uso de medicamentos que previnem a infecção pelo vírus, mostram dados do painel do Ministério da Saúde. Um quarto das pessoas que aderem à profilaxia estão na capital paulista, onde a estratégia é associada a uma queda de 48,1% no número de novos casos de HIV nos últimos cinco anos.

A PrEP consiste na tomada de um comprimido por dia para que, caso o indivíduo seja exposto ao HIV, como numa relação sexual desprotegida, ele não seja infectado. Quando administrada corretamente, a eficácia chega a 99%.

O comprimido combina dois medicamentos antivirais chamados tenofovir e entricitabina. Como o uso é contínuo, as substâncias permanecem em circulação na corrente sanguínea e, quando o organismo entra em contato com o vírus, elas atuam rapidamente antes que o HIV provoque a contaminação.

 

No Brasil, em 2017, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), a Conitec, aprovou a inclusão da PrEP na rede pública. A partir de 2018, os comprimidos passaram a estar disponíveis. Hoje, 92% dos usuários da profilaxia no Brasil são pelo SUS.

O serviço envolve acompanhamento médico e exames de rotina para avaliar possíveis efeitos colaterais – embora os medicamentos sejam considerados extremamente seguros, há casos raros de danos nos rins, mas que são revertidos com a interrupção do tratamento.

Hoje, segundo o Ministério da Saúde, a profilaxia é indicada para qualquer pessoa “em situação de vulnerabilidade” para o HIV, cenários que podem incluir relações sexuais deprotegidas de forma recorrente; uso repetido da profilaxia pós-exposição; histórico de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e contextos de relações sexuais em troca de dinheiro ou drogas.

Em relação ao público, o painel do Ministério da Saúde mostra que 81,2% é composto por homens que fazem sexo com outros homens (HSH) e que a maior parte dos usuários tem entre 30 e 39 anos (41,4% do total).

Usuários crescem, infecções caem
Em 2018, 6.726 pessoas tornaram-se usuárias da PrEP no Brasil. Desde então, a oferta cresceu ano após ano. De 2022 para cá, o número dobrou e chegou a 103.970 no final de setembro. Ao todo, 208.204 iniciaram em algum momento o uso dos medicamentos, mas parte descontinuou o tratamento ao longo dos últimos seis anos.

Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), diz que a PrEP é de fato uma “ferramenta fantástica”, mas ressalta que a oferta ainda é desigual:

— Principalmente depois da pandemia, tem aumentado o número de locais que dispensam PrEP. Pesquisas com grupos mais vulneráveis mostram até um bom conhecimento sobre a estratégia. A chave, porém, é torná-la acessível. Aqui em Botucatu, onde temos um centro de PrEP, somos o único num raio de 200 km. As Regiões Norte e Nordeste, por exemplo, têm baixíssimos índices. E mesmo em São Paulo, está concentrada em homens, brancos e de alto poder aquisitivo.

Nos locais onde a PrEP é mais acessível, ela já tem sido associada a uma melhora nos indicadores de HIV. O melhor exemplo é a capital paulista, que responde por 1 a cada 4 usuários da profilaxia no país, 25.864 adeptos. Em setembro deste ano, o município divulgou seu mais recente boletim epidemiológico, que evidenciou uma redução de 48,1% no número de novos casos de HIV entre 2018 e 2023, saindo de 3,3 mil para 1,7 mil infecções a cada ano.

No documento, os responsáveis atribuem a queda à PrEP: “São Paulo tem celebrado uma significativa redução no número de novos casos de HIV (...) Os êxitos obtidos são frutos de estratégias que a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo vem implantando por meio da Coordenadoria de IST/Aids. Entre elas, a expansão da oferta da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV”, escreveram.

Uma das medidas celebradas como um avanço foi a instalação de máquinas para a retirada automática da PrEP em estações de metrô, apenas para quem já possui a prescrição médica, facilitando o acesso. Mas Naime Barbosa pondera que a profilaxia não é a única responsável pela melhora dos indicadores.

— A prevenção ao HIV é uma mandala, um conjunto de fatores. O aumento de pessoas em PrEP, levando em consideração que o uso correto tem quase 100% de eficácia, é com certeza um dos fatores, mas outro importante é que o número de pessoas que vivem com HIV em tratamento também cresceu. E quanto mais pessoas em tratamento, são mais pessoas com a carga viral indetectável e que não transmitem o vírus.

Em âmbito nacional, de acordo com último boletim epidemiológico sobre o tema, publicado no final do ano passado, houve uma queda de 7,5% no número de novos casos de HIV entre 2018 e 2022, saindo de 46,9 mil para 43,4 mil novas infecções por ano. Em 2023, o número teve uma queda expressiva e chegou a 20,2 mil casos, porém os dados ainda eram provisórios.

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