HIV: meninos nascem com maior resistência natural ao vírus, revela estudo
Transmissão do HIV para fetos do sexo masculino é 50% menor do que para fetos do sexo feminino
Bebês do sexo feminino têm mais probabilidade de adquirir o HIV (vírus causador da Aids) de suas mães durante a gravidez ou no parto do que bebês do sexo masculino. Estes, que, por outro lado, têm maior probabilidade de obter cura ou remissão, afirma um novo estudo publicado na revista científica Nature Medicine.
De acordo com o autor principal da pesquisa, Philip Goulder, professor de imunologia no Departamento de Pediatria da Universidade de Oxford, na Inglaterra, essa disparidade pode ser explicada pelos níveis mais baixos de células T CD4 ativadas em fetos do sexo masculino do que em fetos do sexo feminino.
Estas células são um tipo de glóbulo branco consideradas alvos do HIV. Contudo, segundo os pesquisadores, o HIV se espalha mais lentamente com contagens mais baixas de células T CD4.
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"Descobrimos que a transmissão do HIV para fetos do sexo masculino era 50% menos comum do que para fetos do sexo feminino. (...) Se por acaso um vírus for transmitido a um homem, ele luta para persistir porque não há células T CD4 ativadas suficientes disponíveis para sustentar a infecção", afirma Goulder.
Além disso, a cura do HIV pode ser uma "cura verdadeira", na qual o vírus foi totalmente erradicado do organismo, ou uma "cura funcional", também chamada de "remissão", na qual o vírus não é mais detectável no sangue, mesmo após o tratamento ter sido interrompido.
"Os homens afetados tinham níveis mais baixos do vírus no sangue e, até o momento, neste estudo, quatro bebês do sexo masculino foram identificados que alcançaram a cura/remissão do HIV, ou seja, mantiveram níveis indetectáveis de HIV no sangue mesmo sem terapia", disse o pesquisador a um site especializado.
O estudo, que foi iniciado há 9 anos, analisou 284 bebês nascidos em KwaZulu-Natal, na África do Sul, uma das áreas com maior prevalência de Aids do mundo. No local, os recém nascidos recebem uma mistura de medicamentos contra o vírus, conhecida como terapia antirretroviral combinada (TARC), após serem expostos ao HIV durante a gravidez.
É estimado que 1,3 milhão de mulheres e meninas com HIV engravidam a cada ano e a taxa de transmissão para a criança durante a gravidez, parto ou amamentação — na ausência de qualquer intervenção — varia de 15% a 45%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Desta forma, ao acompanhar as mães e os bebês os pesquisadores encontraram novas respostas sobre a Aids.
Em relação à taxa de cura ou remissão ser maior nos meninos, ele e sua equipe reconhecem que o número de crianças que eles identificaram que alcançaram a cura ou remissão é pequeno e seria importante realizar mais estudos. Além disso, alguns dos bebês do sexo masculino ainda apresentaram níveis baixos de anticorpos contra o HIV no sangue.
"As implicações de longo prazo para as crianças são desconhecidas. A criança africana que é semelhante àquelas em nosso estudo permaneceu fora da terapia sem vírus detectável no sangue por 15 anos, até agora, e é possível que algumas crianças possam permanecer livres do tratamento antirretroviral [utilizado contra a Aids] por toda a vida", admite Goulder.