Homem teve que escalar Edifício Leme várias vezes para salvar a si, esposa e filha de desabamento
Motoboy de 57 anos desceu escalando o prédio pela primeira vez com filha de cinco anos grudada ao pescoço
Morador do apartamento 102 do Edifício Leme, em Olinda, que sofreu desabamento parcial e um incêndio na noite da quinta-feira (27), o motoboy Marcelo Augusto da Silva, de 57 anos, precisou escalar as paredes do imóvel várias vezes para salvar a si, a esposa e a filha do casal, uma criança de cinco anos.
Quando percebeu o que estava acontecendo com os apartamentos ao lado, ele logo retirou a mangueira do botijão de gás da sua cozinha. E ainda tentou conter as chamas com alguns baldes com água.
“Deixei elas no quarto e fui verificar a casa para ver se tinha algum risco. Tinha uma fumaça muito preta e tudo estava com cheiro de fio queimado”, relembrou.
Ele tentou arrancar uma das grades do quarto, mas não conseguiu. Sua esposa, a vendedora ambulante Camila Gerônimo da Silva, de 32 anos, foi quem fez o trabalho. “Foi Deus quem me deu muita força para tirar aquela grade. Foi muito desespero”, afirmou.
A primeira saída do homem foi em busca de ajuda. Mas sem apoio nesse primeiro momento, ele retornou para buscar a filha do casal, uma menina de cinco anos.
“Eu desci primeiro me agarrando pelas grades. Pedi ajuda, mas ninguém conseguiu me ajudar. Foi então que eu escalei tudo de volta para subir. Acalmei elas e pedi para a minha filha se agarrar no meu pescoço”, detalhou.
Com a filha no pescoço, a ajuda veio. Mas ele ainda teria que subir sozinho escalando o prédio outra vez.
“Consegui descer com ela e fui soltando na primeira grade. Fui pro chão e peguei ela no braço. Apareceu um rapaz e eu deixei minha filha com ele, porque tinha que pegar minha esposa”, completou.
Outra vez lá em cima, enquanto os apartamentos ao lado estavam em processo de destruição, o motoboy tentou resgatar sua esposa, mesmo diante de um obstáculo que apareceu no caminho.
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“Eu escalei outra vez e ela saía pelo buraco do ar-condicionado quando entalou. Aquela caixa de saída é muito pequena. Então, eu disse para ela fazer igual a nossa filha e se agarrar no meu pescoço”, sugeriu.
Sem tempo de recusar ou sugerir uma outra possibilidade de resgate, a mulher assim fez.
“Me amarrei de novo na grade e pus uma toalha para dar apoio junto com uns lençóis. Ela se agarrou no meu pescoço e veio”, finalizou.
Marcelo e Camila acompanharam, de frente ao apartamento parcialmente destruído em que moram, as buscas do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) pelas três últimas pessoas desaparecidas no local.
Mais dois corpos foram encontrados na noite desta sexta-feira (28), e o processo de procura agora é exclusivo em busca de Maria do Socorro, de 60 anos.