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ESTADOS UNIDOS

Homens latinos apoiam majoritariamente Trump pela primeira vez

53% dos eleitores do grupo votaram no republicano, enquanto 61% das mulheres hispânicas optaram por Kamala

Donald TrumpDonald Trump - Foto: Jim Watson / AFP

Após três disputas presidenciais, Donald Trump finalmente conquistou um apoio que vinha resistindo: o voto latino. O republicano garantiu um segundo mandato nos Estados Unidos com o suporte desse grande parte desse eleitorado, especialmente o masculino, que este ano aderiu à sua mensagem, apesar de seu discurso xenófobo e racista em diversos momentos. Em comparação com a eleição americana de 2020, Trump ganhou cerca de 10 pontos percentuais entre os latinos, segundo dados preliminares.

Embora a contagem dos votos continue, Trump já alcançou avanços significativos em condados de maioria hispânica, especialmente entre os homens. Segundo a pesquisa de boca de urna da Edison Research, o republicano conseguiu a maior parcela dos votos entre os homens latinos — 53% contra 45% de Kamala Harris. Já as mulheres latinas apoiaram Kamala com ampla vantagem: 61% contra 37% de Trump.

 

No geral, a democrata conseguiu a maioria dos votos hispânicos com 53% contra 45% de Trump. No entanto, o ex-presidente registrou uma melhora entre significativa entre os latinos em comparação com o pleito de 2020. Trump ampliou seu apoio entre o segmento em estados populosos e tradicionais redutos republicanos, como Flórida e Texas. Ele também obteve avanços nos estados-pêndulo, onde Kamala teve desempenho inferior ao do presidente Joe Biden no último pleito.

Um exemplo é a Pensilvânia, onde há muitos eleitores porto-riquenhos e dominicanos, e a vantagem de Kamala sobre seu rival caiu para apenas 15%. Em Michigan, outro estado-pêndulo, Trump reverteu os resultados anteriores e consolidou-se como a primeira escolha dos hispânicos, com um ganho de 19 pontos percentuais.

No Vale do Rio Grande, no sul do Texas, onde vivem principalmente latinos de origem mexicana, Trump alcançou resultados históricos para um candidato republicano. Quatro condados da região (Hidalgo, Cameron, Starr e Willacy) que haviam votado em Hillary Clinton em 2016 — com margens que variaram de 33 a 60 pontos percentuais, como em Starr, onde 97% da população é hispânica — deram vitória a Trump desta vez. Em Starr, ele liderou com 16 pontos de vantagem sobre Kamala, tornando-se o primeiro republicano a vencer lá em mais de um século. Cameron, com 90% de latinos e onde a SpaceX de Elon Musk possui uma instalação, também votou no empresário.

Vale lembrara que o condado de Starr foi o epicentro da crise de imigração durante a Presidência de Biden, recebendo milhares de migrantes irregulares desde 2021. Autoridades republicanas locais realizaram operações para conter o fluxo e transferir os migrantes para cidades democratas como Nova York, Chicago e Los Angeles.

O desempenho de Trump entre os latinos beneficiou diversos candidatos republicanos, incluindo o senador ultraconservador do Texas, Ted Cruz, reeleito para um novo mandato de seis anos. Cruz venceu o democrata Colin Allred com uma oscilação de 35 pontos entre os hispânicos, conquistando o voto latino por 6%. Em 2018, ele havia perdido por 29 pontos entre essa minoria, que, na época, apoiou majoritariamente o ex-congressista Beto O'Rourke.

Imigração
A imigração tem sido um dos principais temas desta campanha. No estado do Arizona, os eleitores aprovaram uma medida que permitirá aos departamentos de polícia estaduais e locais prender imigrantes irregulares, um poder tradicionalmente reservado às autoridades federais. Críticos argumentam que a lei, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso local, resultará em mais prisões de latinos e pessoas de pele escura. A medida foi aprovada por 1,3 milhão de votos, ou 62% do total, superando Harris no Arizona por 300 mil votos, em outro estado fronteiriço.

O condado de Santa Cruz, o mais latino do Arizona, com 84% de população hispânica, virou as costas para Trump. No entanto, a vitória de Kamala foi bem menor do que em 2020. Ela obteve 9,9 mil votos, contra 6,8 mil de Trump. Em 2020, Joe Biden havia recebido mais de 13 mil votos no condado. O resultado sugere uma desconexão com o candidato democrata, já que Trump obteve apenas 700 votos a mais nesta eleição em comparação com 2020, durante a pandemia.

Os partidos não conseguiram se conectar com esse setor do eleitorado durante a campanha. De acordo com o jornal espanhol El País, 36,2 milhões de latinos estão aptos a votar e representam o grupo demográfico de crescimento mais rápido desde 2020, acrescentando quatro milhões de novos eleitores. No final de outubro, quando a votação antecipada já estava em andamento em muitos estados importantes, havia 13 milhões de latinos que ainda não tinham se registrado para votar em nenhum dos candidatos.

O afastamento dos latinos do Partido Democrata explica o crescente apoio a Trump. Especialmente em regiões como o Texas e Arizona, onde muitos latinos consideram os democratas “extremistas”. Isso foi observado por John Sides, professor da Universidade de Vanderbilt, que estudou como alguns valores conservadores dos hispânicos corroeram o apoio aos democratas. Por exemplo, os latinos não consideram tão urgente transformar as instituições para combater o racismo sistêmico dos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa do Pew Center de 2021.

No final de outubro, Amanda Sahar e Marcel Roman, professores da Escola de Governo da Universidade de Georgetown e da Universidade de Harvard, respectivamente, explicaram que alguns latinos eram resistentes a certos aspectos da política de identidade dos EUA. Eles mostraram que a posição se dá especialmente a marca Latinx, uma frase usada por políticos progressistas para alcançar seus eleitores e defender os direitos da comunidade LGTBQ+.

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