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GAZA

Hospital em Gaza sofre "cerco total" de Israel e bebê prematuro morre após queda de energia

Al-Shifa foi alvo de intenso bombardeio neste sábado; complexo hospitalar é o maior do enclave e abriga mais de 20 mil pessoas, entre deslocados, equipe médica e feridos

Foto: Kode al-Zaanoun / AFP

O Hospital Al-Shifa na Cidade de Gaza foi “totalmente cercado” por tropas israelenses neste sábado e sofreu uma queda total de energia depois que seu último gerador em funcionamento foi destruído em um intenso bombardeio, informou o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Dezenas de pacientes morreram no local, entre eles um bebê prematuro em uma incubadora, segundo o New York Times. Já os sobreviventes estão sendo alvejados ao tentarem fugir, disse a Médicos Sem Fronteiras. O complexo hospitalar é o maior do enclave e abriga mais de 20 mil pessoas, incluindo deslocados, equipe médica e feridos.

— Estamos perdendo um ferido após o outro, e cinco feridos morreram recentemente devido à falta de tratamento — afirmou Ashraf al-Qudra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, segundo o qual o complexo médico localizado no norte de Gaza está fora de serviço e a única maneira de salvar os feridos é usando métodos primitivos.

Segundo o diretor do Al-Shifa, Dr. Mohammed Abu Salmiya, “as cirurgias tiveram que ser interrompidas”, assim como diálise renal.

— A unidade neonatal está em uma situação muito ruim — declarou Salmiya. — Um bebê morreu devido à falta de oxigênio, eletricidade e calor.

O hospital tem 37 bebês prematuros em incubadoras, disse Medhat Abbas, diretor-geral do Ministério da Saúde de Gaza, ao New York Times em uma mensagem de texto neste sábado, acrescentando que a equipe médica estava fazendo respiração artificial manual em alguns deles há três horas.

Os que tentam fugir do local — um alvo recorrente das forças israelenses nos últimos dias, e também apontado como sendo um centro de comando do Hamas — estão sendo recebidos a tiros, segundo a organização internacional Médico Sem Fronteiras. "No momento em que escrevo, nossa equipe está testemunhando pessoas sendo alvejadas enquanto tentam fugir do hospital Al-Shifa", disse o grupo na rede social X (antigo Twitter).

Segundo o diretor-geral do Ministério da Saúde de Gaza, Munir Al-Bursh, havia mais de 100 corpos enrolados em cobertores no chão da entrada do Al-Shifa.

— Não podemos enterrá-los — disse ele por telefone à CNN, enquanto o som de explosões podia ser ouvido ao fundo na ligação. — Há um cerco completo ao hospital Al-Shifa por todos os lados. A ocupação está cercando o hospital, impedindo a retirada dos feridos.

O exército israelense disse à CNN que está envolvido em "combates intensos e contínuos" contra o Hamas nas proximidades do complexo hospitalar, mas se recusou a comentar mais sobre a proximidade de suas forças ao complexo porque a ofensiva militar ainda estava em curso. Tanques israelenses também cercaram o Hospital al-Quds, um ponto central dos combates na Cidade de Gaza, segundo o Crescente Vermelho Palestino. O Al-Quds, assim como outros hospitais, foi apontado por Israel como um centro de comando das operações do Hamas.

"Tiroteio direto contra o hospital, e há um estado de extremo pânico e medo entre os deslocados", disse a organização na rede social X (antigo Twitter), acrescentando que os tanques estavam a 20 metros de distância do al-Quds. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, dos 35 hospitais do território, 25 estão fechados, assim como outros 40 centros de saúde locais, por causa da falta de combustível necessário para manter os geradores funcionando ou por danos causados às estruturas.

"Extenuados, funcionando com suprimentos escassos e cada vez mais sem segurança, o sistema de saúde em Gaza atingiu um ponto de não retorno, com as vidas de milhares de feridos, doentes e desalojados em risco", afirmou, em comunicado, a Cruz Vermelha Internacione desalojados em risco", afirmou, em comunicado, a Cruz Vermelha Internacional. "Nos últimos dias, as equipes da Cruz Vermelha, ao distribuírem insumos críticos ao redor de Gaza, testemunharam imagens horrendas que ficaram ainda piores por causa do aumento das hostilidades. Isso está afetando severamente os hospitais e ambulâncias, impondo um alto custo a civis, pacientes e profissionais da saúde." No texto, a Cruz Vermelha reitera que os hospitais devem ser protegidos em conflitos, de acordo com as leis internacionais, e afirma que a proteção das vidas de todos os civis "não é só uma obrigação legal, mas um imperativo moral".

Na mesma linha, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou que o sistema de saúde em Gaza "está de joelhos", e que "nenhum lugar" pode ser considerado seguro no território palestino. Segundo ele, desde o dia 7 de outubro, a OMS confirmou mais de 250 ataques contra instalações médicas em Gaza e também na Cisjordânia, além de 25 ataques contra hospitais em Israel. — A situação na área é impossível de descrever — disse, ao Conselho de Segurança da ONU. — Metade dos 36 hospitais de Gaza e dois terços dos centros médicos não estão funcionando. Aqueles que ainda funcionam operam acima de suas capacidades. e desalojados em risco", afirmou, em comunicado, a Cruz Vermelha Internacional

O sistema de saúde está de joelhos, mas mesmo assim continua a oferecer cuidados que salvam vidas. Desde o início da guerra, Israel vem acusando o Hamas de usar hospitais como postos de controle para suas operações militares, aliados à ampla rede de túneis que cruzam as principais áreas urbanas da Faixa de Gaza. O premier Benjamin Netanyahu chegou a publicar um vídeo em suas redes sociais mostrando o que seria o funcionamento de uma estrutura subterrânea no hospital Al-Shifa, alvo recorrente de ataques. Contudo, ele não apresentou evidências que comprovem suas acusações, além de um vídeo usando computação gráfica.

— O Hamas transformou hospitais em centros de comando e controle, além de esconderijos para os terroristas e comandantes — disse Daniel Hagari, porta-voz dos militares, em uma entrevista coletiva no mês passado. — Os terroristas do Hamas operam dentro e debaixo do hospital Al-Shifa e de outros hospitais de Gaza. Abu Salmyia, diretor do hospital, nega as acusações.

— Isso é falso, são mentiras flagrantes. Esse é um hospital civil, cuidamos de mais de 1,5 milhão de pessoas em Gaza — disse à Al Jazeera. — As forças de ocupação israelenses estão cientes de que essa é uma área completamente segura. Eles têm a certeza de que não há centro de comando ou túneis escondidos nesses hospitais.

Na sexta-feira, um porta-voz do Exército de Israel deixou claro que as operações em hospitais não devem cessar tão cedo. — Se virmos terroristas do Hamas atirando de hospitais, faremos o que temos de fazer (...), vamos matá-los — disse Richard Hecht a jornalistas, reconhecendo a "natureza sensível" dessas operações.

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