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Europa

Hungria é 1º país da União Europeia a aprovar a vacina russa Sputnik V

A decisão tem grande impacto político para o governo de Vladimir Putin

Vacina Sputnik VVacina Sputnik V - Foto: Pavel Korolov/AFP

A Hungria aprovou o uso emergencial da Sputnik V nesta quinta (21), tornando-se o primeiro país da União Europeia a aceitar a vacina russa contra a Covid-19.
 
O Instituto Nacional de Farmácia e Nutrição da Hungria, equivalente à brasileira Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), decidiu que o fármaco é seguro e eficaz a partir da revisão dos dados de estudos clínicos feitos na Rússia.
 
A decisão tem grande impacto político para o governo de Vladimir Putin. Ainda que a Hungria seja um país com relações turbulentas com o bloco europeu, que é refratário a Moscou, a chancela introduz seu imunizante em um dos maiores mercados do mundo, já que decisões entre países podem ser compartilhadas.
 
Em setembro, o presidente do Fundo Russo Direto de Investimento, Kirill Dmitriev, havia antecipado ao jornal Folha de S.Paulo que negociava com parceiros europeus e americanos. O fundo foi quem bancou o desenvolvimento da Sputnik V pelo Instituto Gamaleya, de Moscou, e promove suas vendas.
 
"A Hungria foi o primeiro país da União Europeia a perceber as vantagens da Sputnik V", afirmou Dmitriev nesta quinta. O governo local, chefiado por Viktor Orbán, é próximo do Kremlin.
 
Também nesta quinta o governo dos Emirados Árabes Unidos aprovou o uso emergencial da vacina. Já o fizeram a Argentina, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Sérvia, Palestina, Belarus e Turcomenistão, além obviamente da Rússia, que a registrou em agosto.
 
No Brasil, a Anvisa rejeitou um pedido de uso emergencial da Sputnik V porque a vacina não tem ensaios da chamada fase 3, a final, realizados no Brasil. O pedido para a realização de testes com voluntários foi feito no ano passado, mas não houve resposta do órgão.
 
 
Com isso, estados brasileiros que haviam feito acordos para a compra do imunizante, Bahia e Paraná, reagiram duramente à decisão da agência. A Anvisa afirma que novo pedido poderá ser feito, e os russos alegam que a agência apenas requisitou mais dados para análise.
 
No meio dessas versões, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, deu na quarta (20) 72 horas para a Anvisa se manifestar sobre sua decisão. Ele atendeu a um pedido de decisão provisória do governo baiano, que quer a liberação imediata do fármaco para uso emergencial.
 
O fundo russo tem um contrato com o laboratório paulista União Química para a fabricação no país, inicialmente de 10 milhões de doses da Sputnik V. Se a Anvisa não conceder a autorização ou demorar a fazê-lo, há a possibilidade de produção nacional para exportação, já que vários países vizinhos já estão inoculando o imunizante.
 
As desconfianças acerca da Sputnik V decorrem do fato de a Rússia ter anunciado seu registro para uso emergencial antes da realização dos estudos de fase 3.
 
Na realidade, isso foi um golpe de marketing, já que apenas os 40 mil voluntários dessa etapa foram de fato imunizados após ela ter o uso emergencial autorizado. A ampliação para a população em geral ocorreu nesta semana.
 
Até aqui, o governo diz ter vacinado 1,5 milhão dos 146 milhões russos, número que é disputado por médicos independentes.
 
A China fez a mesma coisa poucas semanas antes com seus três imunizantes, inclusive a Coronavac ora aprovada no Brasil, só que não fez a fanfarra de propaganda que Moscou fez. O próprio nome da vacina remete ao assombro do mundo quando a União Soviética lançou seu primeiro satélite, o Sputnik, em 1957.
 
Seja como for, até aqui cerca de 30 países negociaram acordos com a Rússia para obter, segundo o fundo, até 1,2 bilhão de doses da vacina.
 
A Rússia diz só ter capacidade para produzir uma fração disso, e buscou acordos de fabricação externa em países como Índia e Coreia do Sul, além de negociar uma associação com a Alemanha.
 
Estudos de fase 1 e 2 mostraram a vacina, que utiliza duas doses de cerca de US$ 10 cada com dois adenovírus humanos como vetores, segura. Esses dados foram publicados em revista científica.


Na fase 3, com informações ainda não revisadas, a Rússia afirma que a vacina atingiu 91,4% de eficácia após a segunda dose, podendo chegar até 95% nas expectativas de Moscou -o mesmo número mágico das vacinas que usam material genético para introduzir a proteína que causa resposta imune no paciente, como a da americana Pfizer.
 
A tecnologia ainda é nova e promissora, mas resultados de longo prazo são desconhecidos. Já o uso de adenovírus como vetor farmacológico ocorre há décadas, dando segundo os russos maior segurança ao paciente.
 
A vacina da AstraZeneca/Oxford, autorizada para uso emergencial no Brasil, usa um tipo de adenovírus em duas doses. Ela está sendo testada, no Reino Unido e na Rússia, em combinação com a Sputnik V. Cada fármaco é usado em uma dose distinta, para testar uma maior resposta imune.

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