Igreja católica argentina pede que Virgem ilumine senadores contra aborto
Votação sobre legalização está prevista para acontecer no dia 29 de dezembro
A Igreja católica argentina pediu neste sábado (26) à Virgem para iluminar os senadores para que evitem transformar em lei a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE), em uma sessão crucial que será celebrada na terça-feira, durante missa na qual líderes religiosos expressaram sua "dor" diante do projeto.
"Virgem santíssima, te pedimos que dirija seu olhar aos nossos legisladores, que terão que decidir sobre um tema de delicadeza tão extrema, que possas provocar neles uma reflexão em suas mentes e corações", disse o bispo Oscar Ojea na Basílica de Luján, o maior templo do país, em uma cerimônia transmitida pelas redes sociais.
Tão dividido quanto em 2018, quando rejeitou pela primeira vez na história a legalização do aborto, o Senado debaterá um projeto enviado pelo presidente Alberto Fernández, líder de uma coalizão de peronistas de esquerda e de direita.
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"Em meio a este contexto excepcional, não podemos ocultar a nossa dor diante deste projeto", disse em sua homilia Ojea, presidente da Conferência Episcopal Argentina (CEA).
Até agora as forças a favor e contra o projeto no Senado argentino parecem equilibradas, com uma definição incerta na Casa de 72 assentos. Na Câmara baixa, a iniciativa foi aprovada por 131 votos a favor, 117 contra e seis abstenções.
"Expressamos a inoportunidade do debate, enquanto há milhares de questões sanitárias e sociais a resolver", disse Ojea em relação aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, que matou mais de 42.000 pessoas no país, entre quase 1,6 milhão de contágios numa população de 45 milhões de habitantes.
Outros atos e manifestações antiaborto foram realizados em cidades provinciais, informou em um comunicado a Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da República Argentina (ACIERA).
"É Deus quem determina a hora de nascer e a hora de morrer, e proíbe à humanidade se meter neste território", indicou a organização.
O país natal do papa Francisco está polarizado entre os chamados "verdes", partidários da legalização do aborto, e os "celestes", que se opõem. Ambos os movimentos protagonizaram manifestações multitudinárias.
A iniciativa em debate autoriza a IVE até a 14ª semana de gestação.
O peronismo detém 41 dos 72 assentos no Senado, mas nem todos os governistas apoiam o projeto, enquanto a oposição de direita é quase majoritariamente contrária.
Ao anunciar o projeto, Fernández o defendeu com o argumento de que desde 1983, ano da restauração da democracia, "3.000 mulheres morreram por abortos inseguros".
O governo argentino estima que anualmente sejam realizados entre 370.000 e 520.000 abortos clandestinos e 39.000 internações.
No país, o aborto só é permitido em caso de estupro ou risco de vida para a mulher, segundo a legislação vigente desde 1921.
A nova iniciativa prevê a objeção de consciência individual e de um estabelecimento de saúde, embora quem se recuse a realizar a prática terá a obrigação de encaminhar a paciente para outro centro hospitalar.
O debate no Senado poderá se estender por mais de 20 horas, como aconteceu na Câmara dos Deputados.