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Igreja Católica pede que Justiça francesa investigue agressões sexuais do falecido abade Pierre

O objetivo é identificar "outras possíveis vítimas ou cúmplices", disse De Moulins Beaufort

Fundador da associação Emmaüs, o padre católico francês Abbé Pierre assiste em 19 de dezembro de 1988 ao programa de TV "La Marche du Siecle" em ParisFundador da associação Emmaüs, o padre católico francês Abbé Pierre assiste em 19 de dezembro de 1988 ao programa de TV "La Marche du Siecle" em Paris - Foto: Georges Bendrihem/AFP

A Igreja Católica anunciou, nesta sexta-feira (17), que pediu à Justiça francesa que investigue as supostas agressões sexuais do falecido abade Pierre, uma medida altamente simbólica contra as ações do outrora ícone da luta contra a pobreza.

O presidente da Conferência Episcopal da França (CEF), Eric de Moulins-Beaufort, anunciou na rádio RMC que pediu ao Ministério Público de Paris na terça-feira que abrisse uma investigação sobre o religioso.

O objetivo é identificar "outras possíveis vítimas ou cúmplices", disse De Moulins Beaufort, que acredita que o Ministério Público tem os "meios para investigar" que faltam à comissão de investigação histórica lançada pela ONG Emmaüs.

Em nota, a CEF disse que o MP foi acusado de "não denunciar estupros e agressões sexuais de pessoas vulneráveis e menores", uma forma de contornar possíveis obstáculos jurídicos.

A ação judicial pode enfrentar vários obstáculos, tendo em vista que os supostos eventos datam de um período entre 1950 e 2000, e que o abade Pierre morreu em 2007.

Na segunda-feira, um novo relatório do gabinete especializado Egaé elevou para 33 o número de depoimentos de supostas agressões sexuais, entre elas o estupro de um menor e atos contra membros de sua própria família.

Em julho de 2023, a primeira série de revelações baseadas em sete testemunhos chocou a França, onde o abade desfrutava de uma imagem icônica como um defensor incansável dos mais pobres e dos sem-teto.

Em setembro, um segundo relatório com 17 novos depoimentos levou a Fundação Abbé Pierre a anunciar sua decisão de mudar seu nome e a Emmaüs a fechar definitivamente o memorial dedicado ao seu fundador em Esteville, no noroeste da França.

"É preciso ir ao fundo da verdade", sublinhou o presidente dos bispos franceses, para quem "com cada relatório" se cruza "um limiar na descoberta do que ele pode ter feito" e de "uma espécie de sistema que parece ter construído".

Em 2021, um relatório da Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase), encomendado pela CEF e por outra organização católica, estimou que cerca de 216.000 menores foram vítimas de padres e religiosos na França entre 1950 e 2020.

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