Ilha italiana de Lampedusa é pressionada por chegada de migrantes que dobrou sua população
O abrigo central da região, com capacidade para menos de 400 pessoas, ficou lotado de homens, mulheres e crianças que foram obrigados a dormir do lado de fora em camas de plástico improvisadas
A pequena ilha italiana de Lampedusa se viu fortemente pressionada, após a chegada de 7.000 migrantes em embarcações procedentes do norte da África, um contingente que equivale ao total da população local.
O abrigo central da região, com capacidade para menos de 400 pessoas, ficou lotado de homens, mulheres e crianças que foram obrigados a dormir do lado de fora em camas de plástico improvisadas, muitos deles envoltos em mantas térmicas.
A superlotação gerou tensões na quarta-feira, quando a Cruz Vermelha italiana, que administra as instalações, distribuía alimentos, obrigando a polícia a intervir.
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Alguns jovens que se dirigiram ao centro histórico da ilha contaram que estavam com fome, mas poucos tinham dinheiro. Em meio à recusa de alguns restaurantes em atendê-los, outros estabelecimentos ofereceram-lhes comida de graça, ou moradores e turistas pagavam por ela.
Localizada a cerca de 145 quilômetros da costa da Tunísia, Lampedusa é um dos pontos de trânsito de migrantes que atravessam o Mar Mediterrâneo.
Na terça-feira (12), 5.000 pessoas chegaram à Itália, segundo dados do Ministério do Interior. A maioria foi retirada de seus barcos em más condições pela Guarda Costeira, que os levou para o porto de Lampedusa.
Mas muitos não conseguiram chegar ao solo italiano. Mais de 2.000 pessoas morreram este ano ao deixarem o norte da África em direção à Itália, ou a Malta, de acordo com a agência da ONU para as migrações.
A última vítima conhecida foi um bebê de cinco meses. Ele teria caído na água na quarta-feira, quando fazia parte de um grupo que estava sendo levado para a costa.
Situação crítica
Há alguns anos, o abrigo da ilha vem enfrentando dificuldades em lidar com as chegadas destes migrantes. Organizações humanitárias relatam falta de água, alimentos e atendimento médico.
A Cruz Vermelha Italiana assumiu a gestão deste local em junho, prometendo oferecer um acolhimento mais "digno". Essa semana, porém, admitiu que está tendo problemas ante o aumento do número de pessoas.
A organização relatou que mais de 7.000 pessoas se encontravam no local na manhã de quarta-feira, um número que coloca "problemas de gestão". Cerca de 5.000 destes migrantes devem ser transferidos ainda hoje, quinta, para a Sicília, onde existem instalações maiores.
"A situação é certamente complexa, e estamos tentando voltar progressivamente à normalidade", afirmou a diretora de Migrações da Cruz Vermelha italiana, Francesca Basile, nesta quinta-feira.
"Apesar da situação crítica, continuamos tentando distribuir camas para evitar que as pessoas durmam ao ar livre", acrescentou. "Ontem à noite, demos comida e jantares a todos e hoje todos também receberão o que precisam", completou Francesca.
O governo de extrema direita de Giorgia Meloni, eleita há um ano após prometer acabar com a migração em massa, atribuiu recentemente um montante de 45 milhões de euros (cerca de R$ 239 milhões, na cotação atual) a Lampedusa para ajudar a ilha a administrar melhor a situação migratória.
A situação fez Meloni pedir ajuda à União Europeia.
Quase 124.000 migrantes chegaram à costa da Itália desde o início do ano, 65.500 a mais que no mesmo período do ano passado. Apesar do aumento, os números ainda não excedem os de 2016, quando mais de 181 mil pessoas, incluindo muitos sírios que fugiram da guerra, desembarcaram de forma ilegal na Europa.