política

Indefinição sobre apoio a Nunes amplia racha no PSDB com queda de dirigente e 'porteira aberta'

Orlando Faria deixou presidência municipal em São Paulo e vereador João Jorge pediu desfiliação, movimento que pode gerar saída em massa

Ricardo Nunes, prefeito de São PauloRicardo Nunes, prefeito de São Paulo - Foto: Edilson Dantas/O Globo

Enquanto a eleição municipal em São Paulo aproxima alguns partidos de olho na construção de alianças, o PSDB vai na direção contrária.

A indefinição sobre apoiar a tentativa de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que herdou a cadeira após a morte de Bruno Covas (PSDB), em 2021, vem alargando a cratera que engole o partido.

Colocado na presidência municipal da legenda em São Paulo em outubro numa intervenção de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e então presidente nacional da sigla, Orlando Faria renunciou ao posto neste fim de semana.

Faria estava insatisfeito com a movimentação dos tucanos para apoiar Nunes na eleição, de quem é crítico. E também enfrentava uma crise de legitimidade no cargo, por ter sido imposto na direção municipal no último dia de mandato de Leite. A medida desalojou o grupo de Fernando Alfredo, aliado de Covas e João Doria e adversário do gaúcho.

A intervenção gerou revolta no grupo então no comando da capital. Quando Faria chegou ao diretório para trabalhar, após ter sido nomeado, encontrou o prédio esvaziado. Os antecessores tinham levado embora mesas, cadeiras, computadores e a mobília, segundo relatos.

O grupo de Alfredo ficou também com as senhas das contas oficiais do PSDB de São Paulo nas redes sociais. Neste domingo, o perfil do partido no município de São Paulo debochou da renúncia de Faria com uma foto do Alfredo e a seguinte mensagem:

"O presidente do @psdbmunicipalsp democraticamente eleito que não teme desafios. Diferente de alguns que ao menor sinal de turbulência pega o barquinho e sai de fininho (renúncia)".

Enquanto isso, o vice-presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador João Jorge, deve deixar o PSDB sob o mesmo dilema. Defensor de uma aliança com Nunes, ele reclama que o partido não se decide sobre o tema. Os dois casos foram relatados pelo jornal "Folha de S.Paulo".

Ao GLOBO, ele criticou o que chama de um partido "sem rumo" e "desorganizado", e diz que o PSDB vem sofrendo baixas atrás de baixas sem haver uma reposição de lideranças. Ele cita a morte de Bruno Covas, a desfilição de João Doria e Geraldo Alckmin e a derrota de Rodrigo Garcia como grandes reveses nos últimos três anos.

— Estamos quase em fevereiro, e não tem ninguém no partido montando chapa de vereadores, você acredita nisso? Isso vai inviabilizando o partido eleitoralmente. Posso lhe dizer que estou abrindo a porteira, viu? Vão sair outros vereadores comigo, senão a maioria — declarou.

Se o movimento de Jorge levar a uma debandada do PSDB, o partido perderá a maior bancada da Casa: oito vereadores, mesmo número do PT.

Até outubro, Nunes dava como garantida a presença do PSDB em sua coligação, já que tinha o apoio tanto do diretório municipal quanto da bancada de vereadores.

A indefinição também deixa em espera o PSB da deputada federal Tabata Amaral, pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, que convidou o PSDB para uma aliança. Em novembro, ela havia se reunido com Faria, a quem fez o convite. E agora o jogo mudou.

O atual presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, marcou uma convenção para 18 de fevereiro para escolher um novo comando para o partido no estado — hoje com o prefeito de Santo André, Paulo Serra.

A "guerra dos tronos" pela qual a sigla passa é desdobramento de uma crise mais duradoura. A sigla, que já teve 991 prefeitos em 2000, elegeu 512 em 2020 — uma queda de 36% em relação aos 801 eleitos em 2016. Elegeu 99 deputados federais em 1998, e hoje tem 14.

O PSDB também conquistou duas vezes a Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), mas não conseguiu ir para o segundo turno da eleição presidencial em 2018 e em 2022.

Um dos maiores baques ocorreu dois anos atrás, quando o partido perdeu sua maior fortaleza, o governo de São Paulo — segundo maior PIB do país —, após Garcia nem sequer ir para o segundo turno da eleição. O estado foi dominado pelos tucanos por 28 anos, e agora está nas mãos do Republicanos de Tarcísio de Freitas.

O GLOBO tentou contato com Faria, Perillo e Fernando Alfredo.

Veja também

BNDES deve liberar R$ 400 mi para apoio aos corpos de bombeiros da Amazônia Legal
Amazônia Legal

BNDES deve liberar R$ 400 mi para apoio aos corpos de bombeiros da Amazônia Legal

Dez cidades do Norte e Centro-Oeste respondem por 20% das queimadas
Queimadas

Dez cidades do Norte e Centro-Oeste respondem por 20% das queimadas

Newsletter