Índia fabricará 1 bilhão de vacinas com EUA, Japão e Austrália
Acordo tem a vacina da Johnson & Johnson como protagonista
Estados Unidos, Índia, Japão e Austrália anunciaram nesta sexta-feira (12) uma iniciativa conjunta para aumentar o fornecimento de vacinas contra a covid-19, apresentando um desafio para a China na primeira cúpula das quatro potências relacionadas.
O presidente americano, Joe Biden, buscando revigorar as alianças diante da crescente preocupação com o poder da China, reuniu-se virtualmente com os primeiros-ministros das três nações e disse-lhes que esse mecanismo de diálogo, chamado Quad, se transformaria em um "cenário vital" para a cooperação.
Em comunicado conjunto, Biden, o japonês Yoshihide Suga, o indiano Narendra Modi e o australiano Scott Morrison prometeram institucionalizar o formato com uma primeira cúpula "presencial" antes do final do ano.
"Os Estados Unidos estão determinados a trabalhar com todos os nossos aliados regionais para garantir a estabilidade", disse Biden, destacando que esta é a primeira "cúpula multilateral" que ele organiza desde sua eleição.
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Em mais um sinal da prioridade dada à Ásia, o primeiro-ministro japonês será o primeiro líder estrangeiro a ser recebido pessoalmente nos Estados Unidos pelo novo presidente em abril, anunciaram os dois países.
Defendendo para que o Quad forneça "soluções práticas e resultados concretos", Biden disse: "Estamos lançando uma nova e ambiciosa parceria conjunta que impulsionará a fabricação de vacinas em benefício do mundo e fortalecerá a vacinação para o benefício de todo o Indo-Pacífico".
As autoridades americanas informaram que a iniciativa produziria até 1 bilhão de doses de vacinas até 2022, enquanto o mundo tenta superar a devastação da pandemia da covid-19"
O plano prevê que o centro farmacêutico indiano fabrique a vacina em dose única da empresa americana Johnson & Johnson, com apoio financeiro do Japão, e que a Austrália fique encarregada dos envios.
Autoridades americanas acrescentaram que o foco das atenções seria o Sudeste asiático, em um momento em que a China - onde esse vírus mortal foi detectado pela primeira vez no final de 2019 - trabalha para transformar sua imagem na de um país curador global.
Pequim envia vacinas para lugares tão distantes quanto a República Dominicana e fornece doses para parceiros internacionais como Paquistão e Zimbábue.
"Novo amanhecer"
A cúpula ocorre em um momento em que as quatro democracias veem uma deterioração nas relações com a China.
No último ano, Pequim se envolveu em um confronto mortal com forças indianas no Himalaia, intensificou a atividade perto das ilhas administradas pelo Japão e impôs sanções aos produtos australianos após uma série de disputas.
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, informou que a cúpula significa "um novo amanhecer no Indo-Pacífico".
"Como os quatro líderes das grandes democracias liberais do Indo-Pacífico, que nossa parceria seja a que permita a paz, estabilidade e prosperidade, e que o faça de forma inclusiva com as muitas nações de nossa região", afirmou Morrison.
O primeiro-ministro Narendra Modi, que se distanciou cada vez mais da postura histórica de não alinhamento da Índia e buscou fortalecer os laços com Washington, declarou que o Quad será "uma força para o bem global".
"O Quad atingiu a maioridade. Agora continuará a ser um importante pilar de estabilidade na região", ressaltou Modi.
A cúpula marcou a primeira vez que os líderes dos Estados Unidos, Japão, Índia e Austrália se reuniram após mais de uma década de reuniões a nível inferior do mecanismo "Quad".
Nenhum dos quatro líderes mencionou abertamente a China, mas no jargão diplomático isso se traduz no compromisso de promover uma região Indo-Pacífica "livre e aberta".
Na sua declaração conjunta, comprometeram-se a "apoiar o Estado de Direito", a "liberdade de navegação" e a "segurança marítima", especialmente nos mares do sul e leste da China, numa clara referência ao comportamento criticado de Pequim.
Por outro lado, o jornal estatal chinês "Global Times" criticou a cúpula do "Quad" como uma conspiração dos Estados Unidos contra Pequim e, em um artigo de opinião, disse que a Índia, cujas relações com Washington estão melhorando, deveria recuar.
"O Quad não é uma aliança de países com ideias afins como os Estados Unidos afirmam", disse o jornal, acrescentando que os outros três países enfrentam "a vergonha de estarem entre a pressão dos Estados Unidos e seus próprios interesses com a China".
Onda de diplomacia
A última vez que uma reunião do Quad foi organizada pessoalmente foi em outubro, a nível de ministros das Relações Exteriores, sob o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que não teve piedade em suas denúncias contra a China.
O governo Biden afirma que compartilha da abordagem de Trump em relação à China, mas está adotando uma estratégia mais discreta que inclui uma nova ênfase nas alianças, muitas das quais, especialmente na Europa, foram muito afetadas pelo ex-presidente.
A cúpula do Quad gera uma onda de diplomacia em prol de aliança por parte de Biden.
O secretário de Estado, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, também farão uma visita conjunta na próxima semana ao Japão e à Coreia do Sul, sendo a primeira viagem que ambos farão como membros do novo governo. Austin seguirá então para a Índia.
Blinken e o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, se reunirão com altos funcionários chineses no Alasca na próxima semana, uma reunião na qual o governo Biden disse que expressará suas preocupações vigorosamente.