Indígenas brasileiros suspendem bloqueio em rodovia amazônica após decisão judicial
Os kayapó começaram em meados de agosto a bloquear essa rodovia próxima ao município de Novo Progresso, no sul do estado do Pará
Dezenas de indígenas kayapó menkragnoti suspenderam o bloqueio de uma importante rodovia amazônica, a BR-163, nesta quinta-feira (27), depois que um juiz ordenou ao governo que atendesse suas demandas de ajuda no combate ao desmatamento e ao avanço do coronavírus.
Armados com arcos e flechas, os kayapó começaram em meados de agosto a bloquear essa rodovia, que corta a Amazônia brasileira, próximo ao município de Novo Progresso, no sul do estado do Pará.
Após uma série de interrupções e levantamento periódico dos bloqueios, os indígenas suspenderam a manifestação por dez dias, em cumprimento à decisão mais recente de uma juíza federal, que fez um chamado às instituições governamentais Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT).
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"A juíza intimou a FUNAI e o DNIT" para atender as demandas. "Se nesses 10 dias eles não nos responderem (...) vão ter que pagar R$ 10.000 por dia", disse à AFP um dos líderes da manifestação, Mudjere Kayapó.
"Se não, a gente vai voltar aqui de novo e fechar os dois campos da BR-163", acrescentou.
A BR-163 é a principal via para o transporte do milho e soja, dois dos principais produtos de exportação do país, que vêm da região central do país.
Os manifestantes periodicamente levantam o bloqueio como um gesto "humanitário" aos motoristas que aguardam com seus caminhões em em longas filas.
A juíza federal Sandra Maria Correia da Silva havia ordenado aos kayapó a suspensão definitiva do bloqueio por causa das consequências econômicas para a região.
Inicialmente, os manifestantes disseram que não cumpririam a ordem, mas escolheram questionar o caso na Justiça.
Os kayapó menkragnoti exigem que o presidente Jair Bolsonaro libere recursos que, segundo eles, o governo deve a eles pelos danos ambientais causados pela construção e existência da rodovia em seus territórios.
Eles também pedem ajuda para combater o garimpo ilegal, o desmatamento e a pandemia, que duramente atinge as comunidades indígenas da região.
Os kayapó menkragnoti "voltarão com um movimento maior" se não receberem uma resposta satisfatória do governo, alertou Luís Carlos Sampaio, do Instituto Kabu, órgão de defesa dos direitos indígenas.
"Vamos ver como as instituições vão reagir", ressaltou à AFP.