Indígenas prometem bloquear indefinidamente rodovia amazônica
Membros do povo kayapó mekranoti estão alocados desde segunda-feira na BR-163, que atravessa a Amazônia brasileira
Armados com arcos e flechas, dezenas de indígenas prometeram nesta quinta-feira (20) manter indefinidamente o bloqueio na rodovia mais importante na Amazônia até que as autoridades enviem ajuda para combater o desmatamento e o avanço da Covid-19 nas aldeias.
Membros do povo kayapó mekranoti estão alocados desde segunda-feira na BR-163, que atravessa a Amazônia brasileira, na altura do povoado de Novo Progresso, no Pará.
No entanto, agora prometeram intensificar a barricada e não deixar passar nenhum caminhão, como vinham permitindo de tempos em tempos nas últimas 48 horas.
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"Nós vamos ficar aqui direto, até que os representantes do governo venham aqui para falar conosco", disse à AFP Mudjere Kayapó, um dos líderes do protesto.
A estrada é a principal artéria rodoviária para escoar as produções de milho e soja, dois dos principais produtos de exportação do Brasil, vindos da região central do país.
Uma juíza federal ordenou que os manifestantes se retirassem, argumentando que a ação causou prejuízo econômico.
Um recurso foi rejeitado nesta quinta-feira, e a juíza ordenou à Polícia Federal que retirasse os manifestantes caso não cumpram a decisão.
Os kayapó mekranoti alertaram que isso poderia resultar em violência.
"Nosso manifesto é pacífico, não queremos brigar. Não aceitamos o Exército, a Polícia Federal ou Polícia Militar vir aqui nos tirar à força. Desse jeito vai ter sangue derramado nesse asfalto. Estamos aqui defendendo a proteção da Amazônia, a proteção do nosso território", disseram em carta dirigida à Fundação Nacional do Índio (Funai).
Com cocares e corpos pintados, os indígenas queimaram um documento enviado pela Funai, no qual a fundação recusava algumas das reivindicações, e lhes pedia paciência sobre outros assuntos.
Os kayapó mekranoti exigem que o governo de Jair Bolsonaro libere fundos para compensar os danos ambientais que a estrada causou em suas terras.
Eles também querem ajuda no combate ao garimpo ilegal, ao desmatamento e à propagação do novo coronavírus, que atinge fortemente os povos indígenas no país.
No Brasil, país com a segunda maior taxa de mortalidade pela pandemia, mais de 26 mil indígenas foram contaminados com o vírus e outros 690 morreram causa dela, de acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
"A saúde indígena está cada vez mais fraca (...) Estamos aqui defendendo a proteção da Amazônia, a proteção do nosso território. O governo quer abrir as terras indígenas para projetos que são ilegais, como garimpo, extração de madeira e arrendamento de pasto em nossas terras. Isso nós não aceitamos", ressaltam.